31 de jan. de 2011

as if love

as if love could be whitewashed,
from the wall on your heart,
and replaced by a graffiti saying 'nothing happened here'.
as if you could remove its tattoo,
with some special kind of lazer,
and pretend it wasn't carved on you.
as if love was a street after the pouring rain,
and over the drops and the puddles,
you could say 'it's such a sunny day'
as if it was a behavior
that you could correct,
through rehab or therapy,
or even prision.
or paper leaves,
replacing the ones burnt by the fire,
after the ashes were blown away.
as if love was a poem,
words colliding on a notebook,
on memories, on speeches,
that you claim unwritten.
as if it was time,
as if you could bring it back,
as if it didn't pass,
as if you didn't live,
as if you didn't die,
as if this weren't your second life.

as if love, by CL

26 de jan. de 2011

2011 - é agora!

só para que saibas que, algum ano, terá que ser O ano. algum ano terá que ser aquele em vais pôr em prática os teus planos. li algures que o dia 24 de janeiro é o mais deprimente do calendário, anualmente. os motivos prendiam-se com inúmeros factores: chegam as contas do que gastámos em dezembro, serão debitadas dos cartões de crédito, está chuva, frio, baixo nível de insolação e, para mim o principal: já nos apercebemos que 2011 será um ano igual a todos os outros, não vamos mudar nada, as promessas saíram furadas, os planos foram quimeras. ou seja: ainda não é este ano. porque não? algum ano terá que ser o ano: o primeiro ano do resto das nossas vidas. o ano em que começas aquela dieta, o ano em que começo a engordar, a acordar cedo. o ano em que plantas o tal jardim, o ano em assumes coisas permanentes que sempre te pareceram maiores que as tuas pernas. o ano em que começas a enfrentar os teus medos, o ano em que começas a falar de ti, dos teus receios, o primeiro ano dos teus desabafos, se és calado, o primeiro dos silêncios, se sempre te contaste a todos. o ano em que começas a apontar os teus compromissos numa agenda, o ano em que passo a lavar a loiça, a engomar roupa. algum ano será o primeiro em que começarás a deitar-te a horas decentes. o primeiro em que passas a frequentar o teatro, a ópera. o primeiro ano em que te diriges às urnas e abandonas as descrenças e a apreensão face a ir votar. algum ano será aquele em que deixarás de beber, em que deixaremos de fumar, em que começaremos a viver o primeiro ano do resto da nossa existência. algum ano será aquele em que te tornarás a pessoa que queres ser mas que, chegado ao dia 24, já te apercebeste que está tudo igual, que mudaste de ideias, que não tiveste força para levá-las a bom porto, que voltaste a recostar-te em quem foste até 2010. algum ano terá um dia 24 realizado, com perspectivas e objectivos a desenharem-se para a posterioridade, encaminhados. nalgum 24 estarás sóbrio, de agenda na mão e a ler aquele livro que fizeste emergir da pilha de jornais ou revistas cor-de-rosa milhentas vezes, e relativamente ao qual nunca tiveste iniciativa. algum ano será aquele em que vais ganhar o hábito de desligar a televisão às refeições ou, simplesmente, a deixar de comê-las em cima do computador, ao som da tua música. algum ano será aquele em que vais deitar fora as tuas t-shirts da adolescência, os teus cromos da bola ou da barbie, em que vais selar a tua caixinha das recordações. algum ano será o primeiro em que iniciaste aquela nova rotina de viagens anuais, aquela nova rotina de correr de manhã, em que mataste a velha rotina de comer pizza quando não te apetece cozinhar ou de evitar o rastreio de saúde anual. algum ano terá de ser o tal. num destes anos terás de abdicar do que foste em prol do que queres ser, num destes anos terás mesmo de fazê-lo; nem todos os anos da eternidade estão à tua disposição. algum dia terás de largar-te dos vícios, sair da tua zona de conforto, cumprir as juras que fazes a ti próprio, e não te conformes com a desilusão de não seres capaz de abraçar um novo «eu», desconforma-te, revolta-te. hoje disseram-me que, quando falhas em algo, e sabes que antigamente costumavas chorar sobre o erro cometido, é errado deixares de chorar, é como se te tivesses habituado ao ser falível que te tornaste, estás a dar-te descontos, a exigir menos de ti - és um conformado. por isso, chora, rebela-te contra os teus próprios lugares-comuns, escolhe este ano para ser O ano. compra um cão, faz o tal interail, mete a tal mochila às costas, dá um passo à frente e vai aprender a tal língua. passa a ir passear de manhã à praia. não estamos a caminhar para novos. talvez seja este o ano em que compras umas quantas peças de decoração para a tua vida futura, a tua casa para sempre - sejam pessoas, hábitos, novos lugares. algum ano terá de ser O ano. não to prometas para 2012, 2011 está sob os teus pés, escorre-te por entre as mãos.

25 de jan. de 2011

deflusso

non posso credere che siamo solo questo. sai quanto ho bisogno di te? sai che, tutte le ore, senza te, sembrano prove stupide, rifiuti? scusa se ti amo ancora, scusa se non sono stata capace di dimenticarti. mi crede: ho provato a farlo, non una volta, ma due, tre, un millione di volte, e non sono riuscita a lasciarti andare. mi messo a ridere da sola, quando ci ricordo. quando non penso, c'è la tua faccia che viene in pensiero. se non parlo, sei tu chi mi parli nel silenzio. lo stesso quando camino vicino al mare, mi pare di rivederti fra le onde, le tue imprinte nella sabbia, al mio fianco. il tuo respiro nel mio collo, sulla mia pelle... le tue mani che cercano le mie. direi ti amo. ti direi di non lasciarmi piú, nemmeno per due attimi. amore, abbracciami, ti prego di non partire mai - sai che nessuna stella, in tutto il cielo, vale piú di te? non c'è, in tutti gli artisti, uno capace di ricostruirti in un poema. o di illustrare la luce dei tuoi occhi. o di cantarti, non lo farebbe in modo giusto. ed io, che ti amo, so solamente che i fiori che mi hai regalato sono le piú bei che ho mai visto. e che quando non sono sicura di cosa faccio, mi fai volerti - in un modo così intenso che ho bisogno di fermare tutto che facevo, lascio la tivù, esco da casa, esco dal regno della realità per poter sognarti, immaginarci, in somma, per poter essere felice con te. e, credimi, amore mio, non c'è niente, in tutta la realità, più fermo di te, più sicuro di te, sogno mio. so solamente che potrei morire al tuo fianco - anche lì, sarei felice. non c'è niente che mi faccia più contenta che la possibilità di vederti, di saperti qui, nel stesso posto di me, e di sapere che... se vorrei, potrei trovare la tua mano con la mia.

lo so, è antico ma ti amo 
(tiziano ferro - imbranato)

18 de jan. de 2011

cruzada

andamos todos meio a cair, não é? andamos todos com coisas entaladas na garganta. eu, que me considero mulher de armas, rendi-me à paz. há anos (literalmente, há mais de dois anos) que me barriquei na minha tenda e me fiquei pela leitura de romances. o amor... apetece-me rir, o que é isso do amor? o amor só faz sofrer, só faz doer, os momentos bons, poetizados, muitas vezes são grãos de areia perto das formações graníticas dos maus. ainda assim, o amor todo o respeito merece, todo o esforço deve ser concentrado nas guerras por ele... morremos nessa luta, ou talvez seja somente a facção de terreno em que me encontro que esmoreceu, desmorou, anda a arrastar a espada, o peito em sangue, cartas de amor largadas ao vento... esvoaçam por todo o lado, vejo-as dançar no ar, os fôlegos, as lágrimas, que as escreveram... flutuam com elas, acima das nossas cabeças. tantas injecções letais, levaram os nossos corações... tantas pedras quando estavam em carne viva, tanto álcool derramado, tanto sal passado sobre a ferida... e os nossos olhos a chorar sem o nosso consentimento, e nós a tentar que todo o mundo à volta não se apercebesse, para não nos afastar dessa fonte de álcool, dessa salina que quase nos seca, quase nos faz rastejar e implorar... como é possível que continuemos a ansiar para que o álcool deixe de arder sobre as nossas feridas e o sal deixe de secar as nossas bocas? o que é, afinal, o desejo? é isso mesmo, é como se me enchesses a boca de sal, quanto mais sede tenho, mais sal passas nos meus lábios, mais sal vertes para a minha garganta, mais sal trazes nas tuas mãos... e o que é o amor? estou tão farta desta palavra, cheguei a odiar a palavra 'amor'. qual amor qual quê, apetece-me perguntar... andamos por aí a idolatrar pessoas como objectos de cera, a perdoar cada falha, a adorar cada defeito, para no fim os vermos munir-se das pernas e afastar-se... e o ciúme? só o imaginar o corpo amado misturado com outro, por defeito odiado, os sussurros, os fluidos, as peles, o suor, o silêncio da noite... o silêncio dos amantes. como dói! é por por isso que me advertiram que não imaginasse, que não pensasse, ou daria em doida. estamos todos a dar em doidos, ou só eu me torturo com essas imagens? só eu padeço de ciúmes? desgraçado de quem ama, penso, sentada no meu banco da tenda, a ver-vos passar derrotados. desgraçado de quem ama... vencidos, eternamente à espera, estupidamente optimistas, até quem não acredita no destino, no sobrenatural, espera por reconciliações, por recomeços, por regressos ao passado. aqui, da minha tenda, rio às gargalhadas, desculpem, seus tolos. desculpem, somos a corja da humanidade, pelo menos num sentido espiritual, somos sim... deus, a existir, criou-nos sem par, criou-nos para errar sobre a Terra numa eterna busca sem fim e... quando tropeçarem naquele que julguem ser o fim, ele vai rejeitar-vos, vai desligar-vos o telefone, vai responder-vos torto, vai humilhar-vos, vai passear com outras/os debaixo dos vossos olhos, vai deixar claro que não têm nada com isso, vai dar-vos mil e um fragmentos de imagens e cor para que os imaginem juntos, para que enlouqueçam assim... vai querer que saibam, enquanto se esforça também para que ignorem, que não vos querem. ainda assim, anda cá, senta-te no meu colo. ainda assim, deixa-me afastar-te este cabelo da cara. ainda assim, essa cor fica-te bem, esse vestido é novo? esse risco negro faz os teus olhos maiores... desculpem, se rio, desculpem, mas vejam, por favor, que me caem grossas lágrimas dos olhos... que estou na sombra, a saborear a derrota, enquanto vocês se arrastam, meio mortos, quase fantasmas, para beber mais um pouco de água, livrar-se do sal, e regressar ao campo de batalha. talvez seja agora que ele me quer. talvez agora ela tenha reparado em mim, talvez se tenha dado conta que nunca terá com ninguém o que teve comigo. talvez agora, cinquenta anos depois, ele veja que estive sempre ao lado dele, que sou o amor da vida dele e que sequei também eu, devido à cegueira dele. talvez... talvez, e entretanto, vocês alimentam-se de esperança, a esperança mantém-vos sãos, mas apenas para voltar à batalha, para voltar a ser derrotados, uma, e outra, e outra vez... apenas para ouvirem um já pedi que te afastes, um já te disse que ela é o amor da minha vida, um já te disse que a tua oportunidade passou, fizeste as escolhas erradas, agora esquece. e eu, aqui da sombra, vejo os vossos corpos consumidos pelo amor ao sol, e orgulho-me. sim, orgulho-me por estar sentada. orgulho-me por ver-vos passar e rir, a mim, de cujos olhos caem grossas lágrimas. a mim, cujo corpo estremece, e o que é isto... cá dentro? que fragmento é este, que lago é este que expande e me domina? será esperança? estarei eu de espada em punho, embora distraída? oh não, não quero juntar-me a vocês, não, não lutem mais... por favor, quero dizer-vos, quero pedir-vos, implorar-vos, não lutem. um grande relâmpago dá-se num primeiro instante, o primeiro e o milésimo instantes passaram, ele não vos quer, ela não vos ama...

que tola que sou, que louca que me estou a tornar. não estava realmente cá... no entanto, ainda os oiço; os ecos das minhas gargalhadas, ainda o saboreio... o sal das minhas lágrimas.

17 de jan. de 2011

corrida final

Ao contrário de toda a gente, tenho o hábito de abrandar o ritmo quando estou a chegar à meta. As minhas motivações têm pouco que ver com a necessidade premente de passar de ano. Não consigo mergulhar de cabeça num assunto que não me importo, sinto que a minha cabeça está cheia de coisas com e sem significância e sinto que estou a martirizá-la com mais impropérios.  É por isso que tenho que me apaixonar. É por isso que espero que o assunto me chame, reclame a minha atenção, e só aí estou lá de corpo e alma. Isto nem deveria ser assim tão grave, uma vez que me interesso por quase tudo. Mas, de vez em quando, lá vem uma coisa, ou pior, um conjunto de coisas ou uma cadeira completa que não me interessa nem um bocadinho. É por isso que a deixo ir abaixo, estupidamente, e me esqueço momentaneamente do objectivo final. Agora, ao recordá-lo, fui resgatar as forças, espero que não seja tarde demais. Mas, na generalidade, isto está a afundar. Acordei há pouco, resgatei alguns cacos do naufrágio e estou a tentar recuperar o navio. No entanto, eu, a quem a professora de história elogiava a objectividade, ando perdida em divagações. Fujo para as minhas paixões, sei que o professor me pergunta 1) e sei que em 1) c) existe um nicho de assunto que me interessa – escapulo-me para lá. Disserto sobre isso, sinto-me revitalizada enquanto o faço, como se afinal não estivesse assim tão perdida, como se afinal ainda conseguisse reter as datas todas na cabeça, como há pouco tempo atrás, e ainda carregasse a cultura geral como numa malinha atrás de mim. No entanto, sei que estou a responder a uma vírgula daquilo que me perguntaram. Faço um trabalho que confronta o património português e a História do país, e o que é que faço? Sei que se espera a Torre de Belém e as conquistas na costa ocidental da África, sei que quer o Padrão dos Descobrimentos e o Estado Novo, o nacionalismo, a expansão marítima dos séculos XV/XVI. Sei que quer a Batalha e Aljubarrota esmiuçados, D. Nuno Álvares Pereira associado e, por contraposição, o Convento do Carmo, que leva ao terramoto de 1755. Sei que quer o Mosteiro dos Jerónimos e a época gloriosa da nação portuguesa, a pimenta que custeou aquelas paredes, os pilares que podem, ou não, recordar palmeiras só vistas pelos portugueses à época, os elefantes a suportar o túmulo de Manuel I, único rei europeu que na altura se podia gabar de ter contacto com aquelas criaturas exóticas. Sei disso tudo, no entanto, fujo do monumento e reconto a História. Um trabalho intitulado «Histoire du Portugal», imaginem só, e eu, apaixonada da História… a cingir-me aos monumentos? São os confrontos que me interessam, são as quezílias religiosas, as aspirações da burguesia, as pretensões da nobreza, a arrogância da realeza é que tornam o assunto entusiasmante. Enfim, isto também não era para ser um texto sobre História. Mas sim sobre o facto de que o que me anima está cada vez mais reduzido, sou bombardeada com assuntos que não me interessam. Isto dá-me sempre em vésperas de exames, digo-o a propósito do de amanhã. Malditas Técnicas de Condução de Grupos. Eu não vou ser guia! Não que não seja um dos meus sonhos, porque a vida é só uma, e pequena, mas ainda assim podemos ser muitas coisas. Era esse o meu plano: ser guia enquanto não quisesse estar em casa às 19h para fazer o jantar ao marido e aos filhos. Se o marido nunca viesse, quem sabe se por ser guia e nunca estar parada no mesmo lugar, talvez prosseguisse sendo guia até às vésperas da menopausa, altura em que estaria desesperada para experimentar ser mãe antes que fosse tarde demais. Se o marido viesse e fosse d’outra nacionalidade, como é habitual entre os guias, quem sabe agarrasse nas malas e fosse morar para outro lado. Quem sabe nos divorciássemos e eu voltasse a Portugal, voltasse a sentir-me eu mesma, portuguesa, e ele soa-se a uma aventura, a um episódio engraçado, o marido «belga», lembrado com risadas. Enfim, já nem sei que digo… Depois, quando chegasse a hora de estar em casa às 19h, queria ser professora de História. Iria gozar melhor a meia-idade, as rugas da minha testa, os cabelos brancos e a flacidez, se estivesse ligada ao ensino da História, como se isso se traduzisse em experiência, em sabedoria, em ter vivido muito e ter assistido a muito. Nessa altura, ser pequenina já não é acompanhado de ditos como «a mulher quer-se é pequenina, como a sardinha». Ao invés, com a idade, a minha coluna há-de inclinar-se e hei-de encolher ainda mais. Vou ser a típica bruxa baixa e má, nessa altura já nem terei paciência para corrigir quem me julgar assim. Quem me perceber, bendito seja, quem não… creia de facto que lhe enfio a História boca abaixo só porque sou pérfida. E pronto, eram estes os meus planos. Viajar muito, receber estrangeiros, que me dá autêntico gozo, dar-lhes um bocadinho mais de mim do que era suposto, não creio que conseguisse pôr a minha sinceridade e a minha humanidade de lado quando me fizessem perguntas com vista a respostas sinceras. Não sei pintar quadros bonitos em tormentas. Sei que seria realizada também no campo profissional, sim, mas agora não é a hora. A minha corrida final, em direcção à meta de terminar a licenciatura, já sem sofrido imenso solavancos devido aos meus abrandamentos e acessos de cansaço. Tenho que ser realista: a meta de uma finalíssima seria a morte. Não tenho espírito, nem força, nem fundos para investir numa causa perdida. Mas… e então? Só tenho 21 anos, a geração anterior licenciou-se por volta dos 30. Se me licenciar agora, levo-lhes quase uma década de avanço.  Porque não tentar a finalíssima mais tarde? Ainda assim, recuso-me a estar parada um dia que seja enquanto o tempo continua a correr. A cada minuto, posso fazer um investimento, a cada instante, estou mais velha, a cada instante, perco qualquer coisa. Quero agarrar nisto tudo com as duas mãos e atirá-lo para a frente, na direcção do futuro, por muito que me custe inclinar-me agora e projectar os meus sonhos lá para a frente, onde um dia irei colhê-los. Não posso arrastar-me de robe por casa e fazer do facebook a minha distracção, não posso acordar ainda mais tarde do que já acordo. É por isso que, de momento, só me resta a opção c) Paris.

a)      Ganhar o euromilhões
b)     Virar génio e fazer a Licenciatura e a Finalíssima
c)      Paris
d) Destino

13 de jan. de 2011

erised

“If you greatly desire something, have the guts to stake everything on obtaining it.” FRANCIS, Brendan

“Serendipity. Look for something, find something else, and realize that what you've found is more suited to your needs than what you thought you were looking for.” BLOCK, Lawrence

The desire of the man is for the woman, but the desire of the woman is for the desire of the man.” STAEL, Madame de

“A woman's appetite is twice that of a man's; her sexual desire, four times; her intelligence, eight times” n/a

12 de jan. de 2011

códigos de ternura

as noites mal dormidas. vocês de bochechas e óculos de sol. o primeiro dente, a primeira canequinha pintada, a primeira palavra. os vossos narizinhos, os vossos pezinhos gorduchinhos. a vossa mãozinha, com covinhas, a tocar no rosto de alguém, o vosso queixinho a projectar-se em gargalhadas, as vossas pestanas húmidas de lágrimas, a vossa carinha contorcida de incompreensão, os vossos cabelinhos pequenos, ralos, suaves como seda, encaracolados. o odor da vossa pele, tão característico, ainda assim, único. os estragos, os armários assaltados, as escadas com protecções, as roupas a deixar de servir, os sapatos a serem dados ainda novos, as vossas barriguinhas gordas, a planta do vosso pé, redonda, a dificultar-vos o equilíbrio. a minha mão na vossa durante os primeiros passos, a minha mão na vossa, até que comecem a enfrentar a vida por vocês mesmos. as birras sobre o deitar cedo, o dedinho no ar a anunciar a vossa idade, depois outro, depois outro, depois as palavras a porem para trás estes códigos de ternura. o móbil sobre o vosso berço, com animaizinhos a girar, de avião, a cavalo, peixinhos a pairar sobre a vossa cabecinha, ao alcance das vossas mãos, quando adormecerem. as rendinhas, as fraldinhas, os vossos nomes, meu deus, os vossos nomes, e o meu no meio, por entre os nomes dos amores da minha vida. a vossa letra, quando conseguirem assinar o vosso nome, os vossos desenhos de casas, quintas, vocês a assistirem a um filme, a colocarem perguntas difíceis, vocês a correrem pela casa, a arrastar copos com as toalhas, a molharem a casa de banho ao tomar banho, meus piratas, a traças com os dedos figuras nos espelhos embaciados, a dormir na vossa cadeirinha, no banco de trás, a esgueirar-se para a minha cama a meio da noite, ao meu colo, enquanto vos aponto a lua e as estrelas em noites de verão, ao meu colo enquanto adormecem, o meu indicador do comprimento do diâmetro da vossa mão preso nos vossos dedinhos. as fotografias sobre os móveis, nas paredes, nas portas do frigorífico. vocês sob a palma da minha mão, o rosto no meu ombro, enquanto danço algum clássico tarde na noite, para vos adormecer, vocês sentados na cadeirinha, a torturar a mesa de plástico com a colher enquanto a sopa não aquece, vocês a cuspi-la para a minha blusa quando faltam cinco minutos para sair de casa... vocês a querer mexer em tudo - no fogão, nos telemóveis, nos computadores, vocês a puxar o rabo ao cão ou a tentar sufocar o gato ou a tentar meter os dedinhos nalguma tomada. vocês, a gatinhar, a cabeça a pesar e a adormecerem de cansaço sobre o cobertor, vocês sentados no chão, a arrastarem-se pela fralda, a tentar seguir-me por todo o lado enquanto tento impôr alguma ordem no ambiente... vocês a recusarem-se a por o chapéu antes de ir à praia, a lavarem a mancha branca do protector das vossas barrigas na água do mar assim que lá chegarmos, vocês a pular sobre as ondas, vocês a cair, a esfolar os joelhos, a arranhar o nariz, a engolir água salgada, a querer queixar-se de alguém, de todos, do mundo, vocês, com o ranho a precisar de ser assoado, os rostinhos sujos de terra, de suor, os cabelos empapados colados à testa, as mãos peganhentas do lanche, abertas para mim, vocês, a tropeçar nos passos, a ficar mais irritados, e a gritar enquanto se aproximam, os meus olhos nos vossos, os vossos talvez iguais aos meus, os vossos dentinhos pequeninos num esgar de dor, de indignação, de injustiça, de sono... vocês de braços abertos a correr na minha direcção, e eu de braços abertos para vos receber. vocês a gritar... «mãe».



quero tanto...
no momento certo,
com a pessoa certa.


my little lamb, my little monkey and my little bee.

when I fall in love, it will be forever II

(para compreender, é favor ouvir a canção no final do texto)
estrelas e borboletas. as mãos ainda tremem, os joelhos ainda dobram. ainda disseco as memórias, os lapsos no tempo, o que deveria ter dito, o que deveria ter feito, como substâncias de felicidade que duram, e perduram, e que manipulo para poder sorrir, para poder sonhar, para suspirar, para me apoiar na ombreira da porta a imaginar. in a restless world like this is, love is ended before it's begun, and too many moonlight kisses, seem to cool in the warmth of the sun... a lua a pairar lá em cima, as sombras da natureza, das árvores, a sua quietude, flores por todo o lado, beleza em toda a parte, e eu como espectadora, e a textura das coisas, a textura dos dias, a fluidez das horas, a tua pele, meu amor, a tua pele, o calor que emana da tua pele... e os romances, empilhados a meu lado, na cama, os títulos, as expectativas, os copos de água vazios, as brisas, os golpes de ar que, quando desço de um transporte, quando abro uma porta, te trazem, em fragrância, até mim, como se a tua essência pairasse ao meu redor, constantemente, meu amor omnipresente. e o que faço realmente, sem ser pensar em ti? sem ser alimentar-me dessas lembranças, apoiar-me em ombreiras, manipular recordações e dedicar-te poemas? que tenho feito eu, desde que te conheci, sem ser flutuar, divagar, existir em sonhos, em planos, em momentos vãos, fugidios, que algures lá atrás consegui roubar à ordem rígida das coisas? que tenho eu feito, sem ser impregnar-me de ti, embebedar-me contigo, com a tua pele, meu amor, com o teu sorriso, quando tenho eu sido feliz, se não quando estou contigo? tenho eu vivido, pergunto-me... tenho eu caminhado, tenho eu tocado a terra com os pés, ao menos com os pés, tenho estado um bocadinho cá por baixo? não... não tenho, até os pés estão aí em cima, por entre borboletas, estrelas, algodão doce, maçãs do amor, vou cantar-te nesta feira, vou puxar-te pela mão até aos peluches, vou saltar, bater palmas, sorrir, e nada disso será suficiente mas, meu amor, a tua pele estará lá, o teu cheiro estará lá, algures dentro de ti, eternamente imperturbável, a tua alma estará lá, e a minha é mais quando está contigo, é mais quando te vê, quando existimos juntos. When I give my heart it will be completely... or I'll never give my heart... vou obrigar-te a dançar comigo, vou-te obrigar a levar-me ao circo, à ópera, a ballets e a planaltos, e a admirares a beleza de tudo comigo, mesmo que nem eu, nem tu, sejamos capazes de compreendê-la. Vou acordar-te com abraços e beijos, vou arrastar-me para a janela e vou admirar o que quer que seja que haja lá fora, vou agradecer às pedras, ao cascalho, às bétulas, o estares ali comigo. Não, não estou doida, mas a verdade é que... em pensamentos, temos sido muito um para o outro. Ontem por exemplo, levaste-me a dançar naquele rectângulo de sol, no Cais do Sodré, e eu cantava-te when I fall in love, it will be forever ao ouvido, e tu não te importavas, as minhas palavras não te doíam nem te incomodavam, continuavas a embalar-me. Rias, é claro que rias, como saberias ficar sério nessa situação? Gosto de rir contigo, gosto quando ris de mim, gosto quando rio de ti, gosto quando nos encontramos no meio, à nossa maneira, e nos desculpamos mutuamente. Não, não estou doida, foi em pensamentos, em sonhos, que isto aconteceu - mas aconteceu, e eu fui feliz. Uma vez, por exemplo, algures lá à frente (porque eu já desenhei todo um novo passado e um novo futuro), repreendeste-me por comer demasiados chocolates, abanaste negativamente a cabeça, chamaste-me de «maluca», e eu gosto, gosto quando me chamas de maluca mas continuas a meu lado: quer dizer que, sendo o que sou, continuas ali. A tua pele..., meu amor, tem-me atormentado nas horas mortas. Não é que eu queira, às vezes vou no barco e resgato uma memória nossa, embelezo-a, pulvilho-a com as tais borboletas, e sou feliz a reajustá-la, ao sol do final de tarde ou perante as luzes da cidade. Mas, tantas outras vezes, és tu que entras por mim a dentro, como se a minha porta estivesse aberta, ou tu tivesses a chave, e fossemos vizinhos, e viesses pedir açúcar ou ovos, e quero pedir-te delicadamente que saias, que feches a porta ao sair, e sei que depois volto a ficar vazia, fria, nua por dentro, sem ti que és toda a minha vida. Mas esses vapores coloridos, essa matéria dos sonhos de que és composto, circula em mim, como disse, sopra sobre os meus lençóis, os teus pés descalços, meu amor, deixam pegadas na poeira que sou eu, desde que não vivo, desde que encontrei refúgio na criatividade e liberdade infinitas dos sonhos contigo. Caminhas por mim, dormes em mim, sonhas com outra coisa que não comigo em mim, sais sem fechar as janelas, sem fechar as portas, deixas as pegadas, o teu fôlego sobre os lençóis que me cobrem, eu imóvel, eu como chão, paredes e tecto, eu muda, eu a recear que, se abrir a boca... te vás e não voltes. E és muito, muito mais do que um homem, do que um ser concreto aí, és somente uma brisa, sem rosto, uma luzinha, com contornos humanos, és simultaneamente vida e morte, és homem e és o meu entendimento como mulher, és humano e divino, és aprendiz e mestre, és metade sonho, metade invenção, metade realidade - és três metades, meu amor, a quarta metade é mistério, és quatro metades de quartos de ser, és tanto, mais que tantos. Meu amor, essa tua pele... esses teus pés descalços, a tua voz, o teu reflexo nos meus espelhos, e tu que não me vês, paredes que sou, tecto que sou, chão que pisas...

11 de jan. de 2011

when I fall in love, it will be forever

(marilyn monroe - when I fall in love)
não consigo explicar como uma música como esta viaja em mim, como se me visitasse, como se eu fosse uma casa de verão desabitada, poeirenta, cheia de lençóis brancos a cobrir-me. e ela chegasse como brisa, visitasse todas as minhas gavetas, passasse as pontas dos dedos nos meus lençóis enrugados, soprasse sobre eles, me agitasse, me devolvesse parte da vida, da vida que perdi when I fell in love...

For I knew this time, it could be forever...

10 de jan. de 2011

1755

Este vai ser o romance que vai demorar 10 anos a ser escrito. Tem que ser perfeito.

(Sé de Lisboa antes do terramoto)
 - Estavam desorganizados, crânios ao lado de tíbias, ao lado de ossos longos, pensa-se que foram encontrados assim antes de ser sepultados; mais a fundo há sepulturas de monges que já viviam no convento antes de 1755; os restos mortais foram levados para ali, de fetos, velhos, grávidas, mistura anárquica. A seguir à catástrofe natural seguiu-se uma crise humana, dias de anarquia, de violência, de anomia e agnosticismo. O Duque de Lafões mandou enforcar 34 homens em poucos dias. Muitos fugiram de Lisboa, quem ficou enfrentou doença e fome. Armazéns foram destruídos, ao que se seguiu interrupção de abastecimentos devido ao fecho dos portos e fome generalizada que levou a actos impensáveis - um cão mordeu de tal modo a perna de uma criança que o osso demonstra o buraco do canino do bicho. Houve casos de canibalismo, com os ossos denunciando cortes de facas. Através da observação dos dentes, soube-se que os lisboetas de 700 tinham deficiências alimentares e falta de vitamina D – peixe, leite, carne. De 1099 dentes encontrados, só 179 apresentavam cáries, o que significa que apenas estes tinham dinheiro para açúcar. Os dentes estragavam-se devido à dureza dos alimentos. As dentições queimadas durante a catástrofe revelam temperaturas de mais de 1000 graus durante o fogo. Na sepultura havia botões ricos e outros mais pobres, dado de osso, um dente de javali (amuleto), colchetes, uma fivela, pedaços de cachimbos ingleses e holandeses, pedaços de tecido. A maioria destas vítimas são do Vale de Alcântara. Moedas de coloração alterada indicam que os proprietários estiveram em contacto com a água do Tejo – vítimas do tsunami;

- «Tal aconteceu a 1 de Novembro de 1755, dia de Todos-os-Santos, às 10 horas da manhã quando o povo estava quase todo reunido nas igrejas, e um incêndio devastador tornou a derrocada dos palácios e casas ainda mais horrível e muitos 1000 homens encontraram nas casa e nas pedras que caíam na sua sepultura. Os gemidos dos esmagados e o choro das crianças e dos desamparados era tão deplorável que não há pena que o consiga descrever, a maior parte dos edifícios públicos sofreu, o palácio real nº1, a alfândega 2 e a zona de barcos3. De acordo com um provérbio os Portugueses tinham por hábito dizer que Deus daria casa em Lisboa a quem Ele amasse. Entretanto Deus os avisou assim como a todos os homens, através do terramoto, do seu poder e força, que o reconhecessem e fizessem penitência e que levassem  uma vida piedosa que Deus nos quererá dar a todos através da sua Graça.”

- O Terramoto de 1755 é considerado o maior dos sismos de que há notícia histórica (in “1755- O grande terramoto de Lisboa”, vol.I; FLAD, ed.Público, 2005). E foi sentido para lá de Lisboa : no Algarve, e depois no sul de Espanha e Marrocos, tal  como nos Açores e na Madeira e por quase toda a Europa.
E a pesquisa continuará...

9 de jan. de 2011

vida nova

é um ano novo, logo, acho que tenho direito à minha vida nova. não me iludo, sei que é tão provável ir quanto ficar, mas sei que se for o meu futuro será melhor e que, se ficar, não saberei o que fazer nem por onde começar. quero tanto, mas tanto, essa vida nova. quero dar-lhe ordem de partida, quero fugir a estas paredes, a estas pessoas e a esta rotina. quero saber quem sou sozinha. quero que, num desses dias que pesquiso em sites de imobiliárias, marque realmente uma entrevista e, um dia, receba a chave na mão. quero tanto o meu espaço - as minhas paredes, o meu tecto, o meu chão, como o descrevo. entretanto, como uma overdose de mon chéris, deus, hoje é o nono que como. desconfio que, se houvessem mais, mais comeria. é disso tudo que preciso, preciso de estar no meu espaço sem receio que descubram um número ridículo de embrulhos de bombons debaixo da minha almofada. preciso de dispôr taças com bombons em todo o lado para, quando me apetecer, estender a mão e comer. preciso de uma cozinha minha, limpa por mim, onde as pessoas franzam a testa e arqueiem as sobrancelhas e digam: tu é que mantens (?) isto assim, limpo? enquanto escrevo descubro o que já sabia: estou a deixar de saber escrever a minha língua com precisão. falar é uma coisa, oiço as palavras no ouvido, ecoam-me na cabeça, mas e escrevê-las? paro constantemente a verificar ortografias, vou ao tradutor ver se a palavra existe em português. as línguas estão a destruir o que sei da minha, e não sou a única a queixar-se disto. 
falava eu de uma vida nova... ainda hoje estava na paragem do metro e, como sempre, pus-me a imaginar que paisagens verei quando viajar, ao invés, nos transportes franceses. será que vou? pergunto-me, será que vou? quero tanto ir, mas levar tudo o que tenho aqui... amo demasiado estas pessoas, amo-as tanto que o encanto de Paris será vago perante o meu amor por elas. mas, de novo... o que farei eu aqui? pelo menos de momento, está fora de questão tentar ser guia, não tenho forças para uma batalha final. vou trabalhar para uma agência de viagens? um mestrado em Portugal está fora de questão, não aguentaria continuar a estudar neste contexto. talvez lá, sob o encanto da Torre Eiffel, consiga tirar um mestrado. talvez lá descubra o que quero da vida. entretanto imagino-me lá, imagino quem seria, imagino-me no seio da minha família negra, já lhes ouço as gargalhadas, já me vejo a falar francês com eles, não creio que demorasse muito a ambientar-me. já me vejo a viajar, a acompanhá-los nas viagens que sei que fazem, sobretudo ao luxemburgo e à bélgica. será que seria feliz lá? será que seria eu, lá? será que, lá, aprenderei a dar valor ao que desprezo aqui? será que aprenderei mais sobre o ser-se português nas terras da antiga Gália? será que encontrarei algum significado para a la marseillese? quero demais ser feliz. vejo-me a ler livros em francês, vejo-me a andar de bicicleta, vejo Paris a trazer-me para cima quando me sentir embaixo, enquanto este buraco luso em que me encontro só me puxa mais para baixo com perspectivas de cortes salariais a acontecerem a pessoas que convivem ombro a ombro comigo. este país está doido, quer afundar os cidadãos, e eu vou fugir antes que se lembre de mo proibir. não irei ao fundo com Portugal, irei ao fundo com saudades do seu sal. sal que sempre alimentou a minha vida. só que agora... quero uma nova.

3 de jan. de 2011

all the joy is fake

suddenly, all the joy is fake and all the rest is silent, unspeakable, unbearable. i can't take it, it's all that I can figure out right now. I've never let myself down this way before. suddenly am asking myself if I'm capable of reaching what I want, suddenly all my dreams are falling apart. and I'm not talking about love, for the first time, life it's all that's wrong. I can't keep myself from shaking, I can't pull myself away from the edge, I can't avoid the fall. all the joy is fake, everyone's miserable, all the rest is silent. I can't put my thoughts in order, laughters bother me, sadness has more to do with me right now. I'm letting people down, I'm leaving projects on the middle, I know I'm about to give up. I can't stand it, I can't go anywhere right now. I need to breathe, I need to make a restart. I have to leave. I can't finish what I've started, I can't make it right. I'm going down. maybe I can't see, 'cause everything's dark here, but maybe I've already hit the bottom. I'm tore apart.

cathedral

it's so good to be happy once in a while.
all you have to do is to quit thinking.

I've got so much work to do... God help me.
I should go to the Cathedral before I'm screwed.

2 de jan. de 2011

quero tanto ver-te de novo

Desapareces num corredor, fechas uma porta, desces uma escada, corres uma cortina ou sais para uma varanda. O espaço é o mesmo, o chão e o tecto são os mesmos, mas a dimensão altera-se, é como se já não existisses. Enquanto me encho de melancolia pela porta que acabas de fechar, deixo-me ficar na penumbra do corredor e penso que queria tanto ver-te de novo.

(ideia)