24 de jan. de 2014

By the way...



Will we ever meet each other in Paris?
~we did~

gost' mutu de ti



Ainda não entendi bem o efeito que as tuas mãos tiveram na minha existência. Sou qualquer coisa de novo desde que elas me tocaram. Tornei-me qualquer coisa de diferente, de mais completo e mais conhecedor, depois de as ter tido em mim. Olhaste-me através da sala, por entre os ruídos dos talheres. O lugar à minha frente fora tomado e tu posicionaste-te onde os teus olhos poderiam ver-me, onde o meu sorriso poderia encontrar a harmonia das tuas feições. Os teus olhos; como um mar de doçura paciente, de irreverência contida. As tuas mãos; as tuas mãos a acariciarem-me as sobrancelhas, a entrelaçarem-se nas minhas avenida acima, avenida abaixo, a enlevarem-se nos meus cabelos uma vez, outra, outra, com uma suavidade com que nunca havia, sequer, sonhado. Sou um gato perante as tuas mãos. Fecho os olhos e estendo-me. Este gato foi feito para elas, para as tuas mãos. A tua boca; a tua boca a fechar-se em torno do meu nariz, a tua boca a dizer que tenho dentinhos de coelho, a tua boca a sorrir, a tua boca a debruçar-se sobre a minha e o meu coração a disparar. O meu coração; o meu coração mumificado a libertar-se do pó, das amarras, a vibrar, a pulsar e a bombear de novo o sangue há tanto imobilizado. Eu sabia que estava a viver um instante de viragem. Os teus beijos; há alma em cada um dos teus beijos. Não és um mero ser que respira, enquanto beija; foste um mundo que repousa, sente, se agita e se eleva. Beijas, logo existes. E existes com tanta intensidade, tanta ternura e tanta nitidez... Não fui mais a mesma desde esse beijo. Descobriste o caminho beijado para a minha alma. Beijaste-o até lá. Esse beijo foi a visão de costa, por fim. Durante toda a vida naveguei sem rumo, em mar aberto, sem noção se a costa existiria ou seria mera quimera. Assinei um tratado em como haveria amor e exotismo, no final. Acreditei numa costa que se revelou uma miragem. Desesperei a cada vez que a miragem me fugiu. O Rei de Melinde apontou-me uma terra que não existe. Disse que me escreveria quando lá chegasse, a congratular-me. 
 Tu vieste, pousaste em mim os teus olhos, as tuas mãos e a tua boca, e eu pousei os pés em terra firme e desde então tenho-te abraçado junto ao peito. Flutuo, mas de pés no chão e com as tuas pernas enroscadas nas minhas.
Os teus pés; os teus pés que continuam para muito além dos meus, os teus pés que se entrelaçam nos meus, gelados. Disseste-me “Se estivesse aí, estaria a abraçar-te. Estaria a puxar-te contra o peito”. O teu peito; o teu peito é casa, refúgio, calor e uma promessa de conforto e protecção. Não entendo muito bem. É como se o eixo da minha existência se tivesse deslocado. A minha existência; entraste em rota de colisão com a minha existência, com todas as imagens de futuro e todas as certezas que acarinhava. Até ti. Até ti e depois de ti serão um A.C. e um D.C. na minha vida. Tenho-te a ti, mesmo à distância tenho-te. Sinto que te tenho e sinto que sabes que me tens. Estamos a confiar no escuro. A rebolar sozinhos numa cama vazia do outro. Estamos a fingir que existe uma manta tão comprida que é capaz de nos alojar aos dois em cada um dos seus extremos. Gosto de brincar contigo às famílias. Aos apaixonados. Aos amores à primeira vista. Aos seres que sabem que pertencem um ao outro. Gosto de brincar contigo às línguas – de descobrir novos significados para palavras. De dizer “quando estamos furiosos, dizemos fogo. Sim, dizemos fire!” Vejo-me de fora. Vejo o meu país de fora, através da complacência do teu sorriso e da agilidade da tua mente crítica.
Quero beijar-te. Ou abraçar-te. Ou alojar-te. Quero fazer-te o jantar. Quero fazer-te feliz. Quero que me ponhas a rir até às lágrimas, como acontece sempre que cantas enquanto conduzes. Quero que verbalizes a voz ao fundo da minha cabeça, que vocalizes as verdades que receio trazer para a luz.
Que fiques comigo. Quero muito que fiques comigo. Tu, que me envolves com o olhar e me dizes "Te quiero... no, how do you say te quiero mucho in Portuguese?"
Diz-se:
Gosto (muto » muinhto » munhto » muuuuuuuuitu » muito, muito) de ti.