19 de fev. de 2014

stardust

I long for the moment in which my lips will  be reunited with the cosmic trail imprinted on your shoulders. My tongue will dance over the golden drops of stardust carved on those shoulders. I long for the moment in which my chin will meet again the thicke spinosity of your beard. Seeking through its thorns, my mouth will unravel the sacred path to the unbearable softness of yours. Then I will swim among the delicate warmth of its inner pond, for there’s a hidden heaven inside your mouth, a world of sweetness that embraces all I am and all I hope to became. On its deck, I roll on a lake of mild maple syrup. I dive. An entity that professes affection and causes the purest  delight, rises to greet me, to welcome me, to guide me further into its depth. And I fall into the loveliest abyss, arms wide open, eyes sternly closed, firmely sure that you’ll catch me. Those two hands, like parachutes, enwrap me and put me back on my feet. Your fingers tangled in mine, while my nose searches for a resting refugee, only found in your collarbone. One of my hands crosses your chest, awaits in there, scans through it and finds your heart. I am mesmerized by the beauty of your sparkling heart. On the tip of my feet, I rise so that my lips can meet the life on your neck; so that I caress the vein on which your life pulses harder. Under my palm, life throbbs on your chest. It overwhelms me, brings me to an edge where words don’t mean a thing. I’ll say it all when my eyes reunite with yours.

24 de jan. de 2014

By the way...



Will we ever meet each other in Paris?
~we did~

gost' mutu de ti



Ainda não entendi bem o efeito que as tuas mãos tiveram na minha existência. Sou qualquer coisa de novo desde que elas me tocaram. Tornei-me qualquer coisa de diferente, de mais completo e mais conhecedor, depois de as ter tido em mim. Olhaste-me através da sala, por entre os ruídos dos talheres. O lugar à minha frente fora tomado e tu posicionaste-te onde os teus olhos poderiam ver-me, onde o meu sorriso poderia encontrar a harmonia das tuas feições. Os teus olhos; como um mar de doçura paciente, de irreverência contida. As tuas mãos; as tuas mãos a acariciarem-me as sobrancelhas, a entrelaçarem-se nas minhas avenida acima, avenida abaixo, a enlevarem-se nos meus cabelos uma vez, outra, outra, com uma suavidade com que nunca havia, sequer, sonhado. Sou um gato perante as tuas mãos. Fecho os olhos e estendo-me. Este gato foi feito para elas, para as tuas mãos. A tua boca; a tua boca a fechar-se em torno do meu nariz, a tua boca a dizer que tenho dentinhos de coelho, a tua boca a sorrir, a tua boca a debruçar-se sobre a minha e o meu coração a disparar. O meu coração; o meu coração mumificado a libertar-se do pó, das amarras, a vibrar, a pulsar e a bombear de novo o sangue há tanto imobilizado. Eu sabia que estava a viver um instante de viragem. Os teus beijos; há alma em cada um dos teus beijos. Não és um mero ser que respira, enquanto beija; foste um mundo que repousa, sente, se agita e se eleva. Beijas, logo existes. E existes com tanta intensidade, tanta ternura e tanta nitidez... Não fui mais a mesma desde esse beijo. Descobriste o caminho beijado para a minha alma. Beijaste-o até lá. Esse beijo foi a visão de costa, por fim. Durante toda a vida naveguei sem rumo, em mar aberto, sem noção se a costa existiria ou seria mera quimera. Assinei um tratado em como haveria amor e exotismo, no final. Acreditei numa costa que se revelou uma miragem. Desesperei a cada vez que a miragem me fugiu. O Rei de Melinde apontou-me uma terra que não existe. Disse que me escreveria quando lá chegasse, a congratular-me. 
 Tu vieste, pousaste em mim os teus olhos, as tuas mãos e a tua boca, e eu pousei os pés em terra firme e desde então tenho-te abraçado junto ao peito. Flutuo, mas de pés no chão e com as tuas pernas enroscadas nas minhas.
Os teus pés; os teus pés que continuam para muito além dos meus, os teus pés que se entrelaçam nos meus, gelados. Disseste-me “Se estivesse aí, estaria a abraçar-te. Estaria a puxar-te contra o peito”. O teu peito; o teu peito é casa, refúgio, calor e uma promessa de conforto e protecção. Não entendo muito bem. É como se o eixo da minha existência se tivesse deslocado. A minha existência; entraste em rota de colisão com a minha existência, com todas as imagens de futuro e todas as certezas que acarinhava. Até ti. Até ti e depois de ti serão um A.C. e um D.C. na minha vida. Tenho-te a ti, mesmo à distância tenho-te. Sinto que te tenho e sinto que sabes que me tens. Estamos a confiar no escuro. A rebolar sozinhos numa cama vazia do outro. Estamos a fingir que existe uma manta tão comprida que é capaz de nos alojar aos dois em cada um dos seus extremos. Gosto de brincar contigo às famílias. Aos apaixonados. Aos amores à primeira vista. Aos seres que sabem que pertencem um ao outro. Gosto de brincar contigo às línguas – de descobrir novos significados para palavras. De dizer “quando estamos furiosos, dizemos fogo. Sim, dizemos fire!” Vejo-me de fora. Vejo o meu país de fora, através da complacência do teu sorriso e da agilidade da tua mente crítica.
Quero beijar-te. Ou abraçar-te. Ou alojar-te. Quero fazer-te o jantar. Quero fazer-te feliz. Quero que me ponhas a rir até às lágrimas, como acontece sempre que cantas enquanto conduzes. Quero que verbalizes a voz ao fundo da minha cabeça, que vocalizes as verdades que receio trazer para a luz.
Que fiques comigo. Quero muito que fiques comigo. Tu, que me envolves com o olhar e me dizes "Te quiero... no, how do you say te quiero mucho in Portuguese?"
Diz-se:
Gosto (muto » muinhto » munhto » muuuuuuuuitu » muito, muito) de ti.

17 de set. de 2013

uma boca eleita entre todas.

Toco a tua boca
Com um dedo toco a beira da tua boca,
Desenho-a como se me saísse da mão
Como se, pela primeira vez, a tua boca se entreabrisse
E basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar
Faço nascer uma vez mais a boca que desejo
A boca que a minha mão elege e que desenha na tua cara
Uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade
Escolhida por mim, para desenhá-la com a minha mão na tua cara
E que, por um azar que não tento compreender,
Coincide exactamente com a tua boca que sorri debaixo da minha mão que a desenha

Olhas-me, olhas-me de perto, cada vez mais de perto, 
E então brincamos ao ciclope,
Olhamo-nos cada vez mais de perto e os nossos olhos aumentam
Procuram-se entre si, sobrepõem-se e os ciclopes olham-se
Respiram confusos, as bocas encontram-se e lutam calidamente
Mordendo-se com os lábios, apoiando apenas a língua nos dentes
Jogando nos seus cantos, onde um ar pesado vai e vem 
Com um perfume velho e um silêncio
Então as minhas mãos procuram fundir-se no teu cabelo,
Acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo
Enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou peixes
De movimentos vivos, de fragrância obscura
E se nos mordermos a dor é doce,
E se nos demoramos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego,
Essa morte instantânea é bela.
E há uma só saliva e um só sabor a fruta madura,
E eu sinto-te tremer contra mim como uma lua na água.
  
(Tradução pessoal do espanhol)

La Rayuela, Julio Cortázar

27 de jun. de 2013

the darkest place

your mouth -,
oh my love, that mouth of yours -
as a place I cannot go,
a road I cannot travel.
I long for that rain to shower upon me,
I wish I could travel its paths,
unravel its secrets,
drown on its flavours.

such a dark place on human nature,
that mouth of yours is,
that enigmatic door that speaks for you.
I'd rest on its smoothness
until the end of time
for the sweetest licquors in life
lay upon that mouth.

Oh, I lost myself once
in the depths of your mouth
For an instant I held on to it
Hugged it as life itself
The bittersweetness of your mouth,
its warm walls and grounds,
and its sky...
a sky so full of stars
it blinded me for good.

21 de mar. de 2013

uma é pouco

uma morte vai ser pouca para ti, nesta vida.
porque te deu ela o poder de criar outras vidas?
porque persistes quando tantos perecem?
quando melhores se perdem em curvas e sufocares nocturnos?
porque não se te aperta o coração, como se apertam os dos que o têm?
porque me assombras a existência,
vivendo cegamente e alegremente
na sujidade da tua, no vazio da tua?
porque te perdoam todos e te ouvem os queixumes
quando jamais foste ombro para o que quer que seja?
porque não te vais?
o meu único grão de compreensão prende-se com a certeza
de que nem a morte te quer.