20 de dez. de 2011

sooner or later, truth is settled

What's gotten into people? At the entrance of the twenties, are we so confident about ourselves that we are sure we can kick and scream as much as we can with the assurance that the others will still there? Are we so trustful in our own charms that we might risk losing everything - which we should treasure, but we don't, because youth is all about sparkling stuff, sex and nights out - for a handful of nothing? Are we so naïve that we think we can put principles aside and deal with them later, when we get older and supposed to stick to them? Hopping to be forgiven when it becomes convenient? Are we so low in self esteem that we would risk betraying someone who've done almost everything for us, in order to collect the prize - our young and sometimes unloved being cherished by someone else who just came into our lives? Would we play an ambiguous game of strategy and rivalry only to conclude, at the end, that we are capable of winning a battle? Would we paint the toile the way we please in order to, at least, have the approval of those who'll never know the whole plot? Would we lie to others - as to ourselves - about our own guilt, just to be able to still look at our faces in the mirror? It's easier to think that it wasn't our insecurity, but our fake friend, who've put us through shit. It's easier to turn the table against him and say he was jealous or trying to ruin our finally-achieved - yet frivolous - happiness (yes, because the world does revolve around us). It's easier to be offended when someone gives us a good advice, than to admit we should have followed it. A friend who warns you to act right - how inconvenient! It's much more suitable to be friends when someone approves all our moves. It's even easier to say he should have been quiet when he thought you were making a huge mistake - friendship is all about that: compliment and motivate me, and we're best friends 4ever. Say you think I'm acting wrong and there will be hard feelings. You'll be meddlesome - why on Earth would you have to tell me your honest opinion? You are falseness itself. Oh, those boring friends, telling us to be wise when we are just trying to live our lives and be happy no matter what! No matter if our happiness hurts a good friend - the best we had when it comes to support. Oh, those motherfuckers, believing that they are representants of justice! Who cares? Who needs it? Self-convinced people. Arrogants. People with no principles or values, trying to advice me how to live! It must be enviness speaking through them. My good opinion of myself has been hit by a mean friend, but I'll just come up with a nice version of the facts so, at least, those who stand close to me will hate them too. Those bitches, sleeping tight with their light consciences while I revolve myself in bed all night... But then what? If youth is all about sparkling nonsense, life is all about lessons. And, at this point, we might well guess the future - who violates such a sacred vow, like friendship, for something as fleeting as a man's embrace, doesn't need his future read on the cards. It's there, before everyone's eyes, as clear as limpid water - loneliness. With the bittersweet taste of a bad choice on top.

5 de dez. de 2011

capítulo 20 mil e qualquer coisa

achas que não fugi ao meu eixo para te encontrar? que não me detive no caminho? que os meus dias foram fáceis? virei as costas a quem me deu vida. por estas estradas é só doença, vícios, pobreza e fraqueza de espírito. miséria de alma. achas que me é fácil admitir que, a emergir do meu orgulho, do meu amor próprio, da minha veia feminista, da minha fortaleza de calcário de portas permanentemente trancadas e rodeadas de fossos - estás tu e o meu amor por ti? não me é fácil saber que há uma fraqueza na muralha e que, perante ti, e somente perante ti, seria capaz de me despir de máscaras e protecções e então, nua, estender-me no chão a teus pés, toda eu pura pele e sal, reduzida a nada que não à minha fome de ti. mundo. cá estou, ossos e cabelo, no frio da noite e das lajes, a pedir-te que me ames também. que te dispas também. que me recebas também. amor maior que a vida... dignidade? sei lá eu se tenho dignidade, quando tudo o que quero é beijar-te os pés. as sufragistas que me oiçam, e eu que sou livre de viver no séc. XXI e de adorar o deus que quiser. para mim o exemplo és tu. lá em cima, grandioso, estás tu. e eu espero que os meus braços sejam capazes de abraçar-te, na tua extensão infinita, e o meu peito de aquecer-te, meu amor de inverno. só por uma vez, quando tas disser ao ouvido, devolve-mas nos teus lábios. devolve-mas para que a minha queda seja ascenção e para que as minhas lágrimas sejam felicidade. amor, eternidade.

29 de nov. de 2011

sopro

sopro. garganta. submissão. aconchego. preenchimento. espelho. pele. lábios. ventre. língua. aperto. toque. nu. desprendimento. olhos. ombros. orelhas. cintura. respiração. pernas. costas. masculino. feminino. bússola. desnorteio. beijo. lençol. mãos. pulsos. dedos. sopro.

noite. horas.

23 de nov. de 2011

both

Someone said that when a woman tries to forget a man, she changes her hair or her country.
I'd play safe and change both.

22 de nov. de 2011

porquê?

porquê?
é que eu nem sequer sei porquê.
não há um grama de racionalidade neste amor tolo.

se esta é a minha última vida, porquê esta missão suicida?

1 de nov. de 2011

unconscient

will I keep dreaming, each and every single night, that I'm making love to you for the rest of my life? I almost wish I could sleep forever.

19 de out. de 2011

fugacidade

não adianta de nada
mergulhar no amor
fazer dele alimento,
refúgio do dissabor.

não adianta, pois não
viver de memórias
de horas já vividas
em desejadas glórias.

não adianta, meu tudo
viver da luz inegável
de um instante passado,
fugaz e irrecuperável.

17 de out. de 2011

combustão

Quem me dera ter parado lá, ali,
naquele instante.
Volto lá tantas vezes,
parece-me agora tão distante.

Voltar à escuridão,
ao meu corpo em combustão,
às palavras disconexas,
ao entrecortado da respiração.

Ó, venha já a morte
para que, de olhos fechados
reviva eternamente,
o voo dos nossos lábios colados.

16 de out. de 2011

fulfilling dreams

all I want is this average height man with his ordinary brown eyes and his peculiar humor. all I want is his voice to rise up next to mine, through life and, as I believe, death as well. all I want is to be able to bound to something as different, as rich, as he and his principles are. all I want is to be near enough, always, that I'd be constantly stunned by my own pride of him. all I want is to be allowed to be next to him, each day of the next seventy years or so, and to hold hands to him through dark times, hunger and grief. all I want is to die before he dies, or to watch him die and be entitled to chose to leave as well if I intend to do so. or to step forward on giving my heart, a lung, a hand, if he ever happens to need one of those. all I want is to hold his children by the hand, and call them mine too. to see freckles on kids that carry his spirit, his own flesh and blood. all I want is to kiss him when he's upset, to sit next to him when he's cold and to get him to improve his flaws. all I want is not to be flawless when standing at his side, but to hear his voice calling me back at reason. all I want is to be capable to collect this little from life, and to call it, gratefully, my all.

15 de out. de 2011

special 1

um dia digo-te assim:

'olha, eu amo-te mas vivo bem com isso. é mais um amor de luz que de sal (agora). sabe que o meu amor dá três voltas ao universo e abraça-te a meio. estás bem cá dentro, protegido, nao tenhas medo. está bem, não queres uma relação, eu tambem nao quero. está bem, nao me amas, mas eu amo-te. se me deixares, cuido de ti, ainda que de longe, ainda que como amiga. cuido de ti, a vida toda, se me deixares por perto. só quero q vivas com o conforto de saber que te amo, e que és daquelas poucas pessoas dignas do estatuto de amor da vida de alguém. mesmo com todos os contras, mesmo com todas as patadas, mesmo com todas as desilusões, as lágrimas e as dores caladas, eu não vou a lado nenhum. devo ser como as estrelas constantes: sou fixa. trémula, mas fixa. só desapareço daqui a milhões de anos, pelo menos deve ser por essa altura que o meu amor vai implodir. acredito que fique a pairar no cosmos, uma nebulosa positiva, luminosa, em torno da estrela que um dia foste tu. meu amor, meu príncipe. acredito que vou conseguir tomar conta de nós os dois, amando-me mais, para poder amar-te a ti. amando-te até ao infinito, e de regresso à terra, uma vez, e outra, e infinitamente elevado ao infinito. estás aqui, no centro dos meus braços, sol.'

24 de set. de 2011

Continua o mundo, onde tu acabas?

Há dias em que me limito a amar-te. Não a amar-te como numa comédia romântica, mas como num grande épico em que, no final, são as mãos que amam que matam o amado, para o poupar a algum sofrimento maior. Maior que a morte – dá-se a vida para não sofrer. Noutros, custa-me fingir que és somente parte da minha bagagem. Imagino que, nesses dias, me sento num banco de jardim e abro a mala de viagem. Retiro as fotografias mentais, retrato dos quilómetros de estrada que percorremos juntos. Amaço poemas que te dediquei na palma da mão, os que te escrevi também. Endireito-os e devolvo-os aos compartimentos. Um pedaço de tecido laranja, que uso para me cobrir ao dormir. A consciência, total e suprema, de que não há amor. Meu amor, não há amor. Fui posta na terra sobre um terreno infértil. Porquê? Se é suposto que os acasos façam sentido? Porquê, se mesmo a Mecânica Quântica tem algumas respostas lógicas – apesar da aleatoriedade das partículas? Porquê colocar-me tanto adubo na mão, prometer-me jardins a perder de vista de alfazema e rosas, se depois o solo não se deixa salgar? Se por mais funde que eu cave – e as minhas mãos secam, os meus dedos calejam, a minha pele arde – nunca haja um grão de terra cultivável no espaço que a vida me deu? Porquê meter-me tanta riqueza nas mãos – porquê esta capacidade de amar que me arrasta e eu sigo, indefesa contra a corrente – se não posso usufruir de uma única colheita destes frutos? Meu amor, não há amor. Tudo o que é grande está perto de ti. Tudo o que vejo de grande guardo para ti. Na esperança remota que te importe. Que eu não seja só uma tola insignificante a falar a teus ouvidos. Que, um dia, tenhas o ímpeto de estender os braços e puxar-me para ti. Este fenómeno de carência, cloreto de sódio e insegurança que sou, perante ti, caiu num ciclo que o leva, constantemente, para baixo. Apetece-me gritar-te que te amo, que ainda te amo. Que é para sempre. Eu disse-te que era. Eu vivo bem com esse «para sempre». Fui eu que mo impus, de modo a seguir pela vida a adorar ouro. Por muito que as minhas mãos lutem para furar a rocha aurífera, por muito que tente puxar-te para fora das garras maciças da pedra, tu permaneces intacto, a brilhar por entre pó. Ao menos morrerei tendo visto ouro. Tendo reconhecido ouro. Tendo arruinado os dedos e corrompido a alma por ouro, não por pirite. Os meus joelhos rasgam-se de tanto te rezar. A minha voz perde-se na tentativa de te chegar. Digo sempre o contrário do que estou a sentir. Faço sempre o contrário do que quero. Pensar é-me impossível. E, assim, só estou sem ti nos livros. Escrevo sobre outras coisas. Outro ouro que não tu, para me convencer que o mundo de facto continua, onde tu acabas. Que o mundo não desmorona, se estiveres longe. E penso-te. Em sonhos, beijo-te. Digo que te amo e – louca que sou – respondes-me o mesmo. Mas eu sei, e o vazio voltou a envolver-me. Eu sei… shh, não o digas. Eu sei. O teu tecido aquece-me. As tuas páginas entretêm-me. Se a casa pegar fogo, dou a vida para salvar o que de ti tenho nela. Meu amor, que as palavras não bastam. Meu amor, a distância dos nossos dois corpos - dos nossos entendimentos - é como facas a cruzarem-me a pele. Dramas, aborrecimentos, insistência, previsibilidade. Cura-me dos meus males ó deus, se existes. Cura-me das ausências porque aqui está alguém que seria feliz até à estupidificação se lho permitisses - em cabana junto ao mar, com odor a peixe e a maresia e alheia ao luxo e à ostentação do século em que me plantaste. Porque não me fizeste à altura dele? Porquê tão baixa? Tão mais baixa que ele… que ascende ao tecto do mundo? Dá-me forças para o escutar no silêncio, porque ele não fala. Dá-me olhos para o decifrar, porque ele esconde os pesos que carrega, e ombros para dividir esses mesmos fardos com ele. Dá-me forças para o levantar, porque ele ajuda não pede. E, se sabes que no último capítulo – a existir Destino – não acabamos felizes para sempre, tira-o da minha alma. Se sabes que, no caminho que percorro, não encontrarei felicidade, retira-o da minha alma, porque está impregnada dele. Remove as cores dele da minha alma, a textura da pele dele da minha memória. Sobretudo, remove o odor dele dos meus lábios, que o afloraram. Remove-o de mim,da minha essência, do meu cerne, do meu núcleo, porque é aí que ele se foi aninhar – para que eu possa seguir de pé, até ao último dia, a amá-lo sadiamente, e a salvá-lo das intempéries do mundo cruel. Para que o mundo possa continuar, de onde ele acaba. Remove-o para que eu possa cumprir a promessa que me fiz, há quase dois mil dias atrás - quais milénios - de o proteger de tudo e sempre, para sempre.



                Amor da minha última vida,
PP

19 de set. de 2011

a minha alma na tua

respira para dentro de mim.
afoga-te em mim.
dança em mim.
dorme em mim.
vive em mim.
cai em mim.
levanta-te em mim.
desce em mim.
sobe em mim.
perde-te em mim,
chega a ti em mim.

roma uem

12 de set. de 2011

bom dia,

«O cabelo dela descaía todo para o mesmo lado da nuca no momento do acordar, assim que se sentava na cama à distância de um braço dele. Se ele ensaiasse um olhar furtivo na sua direcção, veria os contornos do seu corpo recortados contra a luz matinal que a janela filtrava e o ombro dela, desprovido da massa de cabelos, quase nu. Habitou-se a virar o rosto para o outro lado, na direcção da porta do quarto, assim que a sentia remexer-se na cama. Tudo para resistir ao impulso de ceder àquilo que teriam sido se ela, ao menos, tivesse esperado um pouco até as ideias dele assentarem. Que é como quem diz que não cedia a cingi-la pela cintura e a enterrar os lábios nos seus ombros e nos seus -----. Perguntava-se como é que o seu amor, o mesmo que descobrira tão recentemente, sobrevivera à partida que ela lhe pregara. Devia ser estúpido ou tolo.»

Estrelas Toscas

9 de set. de 2011

if, however...

«If your feelings are still what they were last April, tell me so at once. My affections and wishes have not changed, but one word from you will silence me forever. If, however, your feelings have changed, I would have to tell you: you have bewitched me, body and soul, and I love... I love... I love you. And I never wish to be parted from you from this day on.»

Mr. Darcy to Elizabeth Bennet in Jane Austen's masterpiece, Pride and Prejudice.

If, however... My affections and wishes have not changed.
So tell me that my hands are cold...

7 de set. de 2011

buonanotte principe

Principe,

Ho sentito dire che vivi. Anch’io vivo adesso, ma no vivevo. No vivevo perché t’aspettavo. Perché ti amavo così tanto che il semplice pensiero di trovarmi nei braccia di un altro mi lasciava depressa. Un bacio me faceva ricordare i sogni con te, che non sarebbero mai possibili. Mettevo la mano fra i corpi, rimuovendolo della mia pelle. Ma è una vita miserabile, vuota, fatta di buchi e senza di te.Ti aspetto ancora, pero ho deciso di vivere mentre non mi scegli. Non hai anche vissuto tu? Sappi, tuttavia, che lascerei non importa cosa faccia per arrivare a te. Non importa bocca baci. Sei tu il sole della mia esistenza - vita senza sole, giorni senza sale. Sei tu la luce, la conoscenza, il piacere. Ci conosciamo da molti anni, ma io scuoto ancora adesso, ogni volta mi seggo al tuo fianco. Ancora ti desidero, sempre più.  Ancora ti amo. Ti amerò sempre, ogni giorno di questa vita, a ogni ora. È per questo che, se vuoi vivere; vivi, amore mio. Sei maggiore che la vita, così piccola, così semplice. È per questo che, se ti trovi adesso nei braccia di qualcun’altra, a me no me fa male. Sono contenta di te. Il vuoto venirà dopo, piangerò dopo se, alla fine, no rimanga con me. Adesso ho capito che il mio amore ha cancelato tutti i limiti. Non ci sono più – noi due vivemo vite diverse di quelle che dovevamo, ma siamo ancora veramente giovani. No che sia un problema per me, no. Io volevo mettere adesso la mano sulla tua e rimanere così fino alla morte. Tu, invece, vuoi vivere. Certo, sono d'acordo. Ma viverò anch'io. Pero questi sono i miei pensieri e, meglio da qualcun altro, sai che mettà di quello che dico no significa niente.  Dovevo smetterla. Giusto. No significa perché io dico sempre qualcosa di diverso da quello che penso quando apro la bocca. Non chiedermi perché – non sapprei spiegarlo – ma la verità è proprio questa. Ti amo – e questo ti dico solamente quando ti guardo, i miei occhi non dicono bugie, è la bocca chi le dice. Ti amo e quest’amore è il mio carico e la mia gioia. Ti voglio tanto bene che preferisco vederti a ridere al fianco di qualcun'altra che depresso vicino a me - nemmeno verresti, così. Ti voglio così bene che quest’amore, adesso nascosto, una volta brillando nell’aria aperta, è la ragione di tutti i miei silenzi. Quando non dico niente, ti penso. E penso che ti amo. E penso che ti penso e che ti amo. E che ti voglio abbracciare. E che ti voglio baciare. E che voglio fare l’amore con te. Solo con te, sempre con te. Ma la vita, che ti a preso e ti ha portato lontano da me, è la stessa che mi fa sapere che sei l’unico oro che conosco. L’unica luce nell’oscutirà. L’unico amore della vita mia. Ho questa paura di esser illusa un’altra volta. È già successo tante volte... Ma poi c’è la tua facia che si mette a ridere quando siamo insieme. Sono una stupida, io. Una pazza. Lo so. No capisco niente. So, almeno, trovare gioia in questa follia che è amarti. Finché decida volermi, ti lascio libero e solo. Così il mondo è tuo, e sei tu il suo re. Così, il nostro primo giorno sarà come l'ultimo - insieme. Così, io sono niente, e la terra sui miei piedi è tutto che ce l’ho. So che dico molte stupidità. Che oggi il mio colore preferito è il giallo e domani sarà il rosso. Ma c’è una cosa, ed una sola cosa – solida, categorica, statica – che non ha mai cambiato da conoscerti: ti amo.

Allora, vieni a me. Ti aspetto, perfezione.

6 de set. de 2011

«I want to fly away but I'm stuck on the ground»

Não posso dormir. Por algum motivo, ou por vários motivos, não consigo dormir. Não posso ler, não saberia o que ler. Seria facilmente apanhada de luz acesa a horas tardias a ler. Não me apetece jogar – fingir que sou deus – e criar famílias fictícias. Não me apetece escrever, não há-de sair nada de qualidade nesta hora. Os filmes que eu queria ver são os que já vi, e adorei, noutras versões. Simplesmente não existem. Não me apetece ver o Sexo e a Cidade. Não me apetece dormir. Não me apetece, sequer, fumar um cigarro à janela. Rabisco uma porcaria qualquer porque, geralmente, depois de deitar para fora, através da escrita, o que me atormenta, sigo com a minha vida. Leio – mesmo correndo o risco de ouvir a minha avó a perguntar-me se estou maluca do outro lado da porta – finjo que sou deus e crio famílias, escrevo coisas sentidas e vejo filmes que não interessam nem ao menino jesus. Mas lamento, lamento que as minhas horas prossigam nesse caminho. Queria mesmo, apetecia-me mesmo, oh se gostava tanto… de estar sentada com uma bela vista para o céu, como palco de um teatro de beleza indescritível, a contar estrelas cadentes e a conversar. A falar sobre tudo e sobre nada. Sobre os meus assuntos favoritos: medo do futuro, expectativas de futuro. Sobre as mágoas e os pequenos triunfos do passado. Sobre a criatividade e a paciência. Sobre a arte e a ciência. Sobre a história e a religião. Sobre política, sobre qualquer outro chavão. Sobre nada, sobre tudo. Sobre o amor, quem sabe. Sobre a vida, sobre a felicidade. Sobre a passagem do tempo, a idade. Falar, até que as forças se esgotassem e eu desejasse enrolar-me nos lençóis e dormir um sono livre de pensamentos e pesadelos. Sobre a terra, sobre o mar. Sonhos doces de quem flutua no nada. Sobre quem cruza, de braços abertos, o ar em pleno voo tardio. E que se cale em mim o vazio…

Help me to make up, make up my mind.
(Matthew Perryman, Save You)

4 de set. de 2011

encontro de nadas, de ninguéns

Apetece-me escrever sobre quem ama. E que quem ama seja feliz, ainda que lhe baste esse amor – reconfortante mas por vezes um autêntico buraco no tecto sobre a cama em noites de chuva – para seguir vivendo. Realizo o filme na minha cabeça. «Momentos com quem se ama», seria o nome desta curta-metragem. E lá está ele, com um sorriso indisfarçável no rosto, a ajuda-la a abrir a porta do carro, a carregar os sacos das compras. E amam-se, quem diz que não se amam? Mas ele ama-a por inteiro, quere-a por entre os lençóis e a todas as horas do dia. Quer poder inclinar-se sobre o ombro dela e beijá-lo. Há pouco a distraí-lo dela – datas de nascimento, cidades, objectos, filmes a que assistiram juntos, cores de vernizes que só ela usava, originalidade expressiva e irrepetível. E o sorriso, impossível de captar por artistas, contadores de histórias ou actores de teatro. Era dela, e só dela. E o filme desenvolve-se a preto e branco. A forma como o cabelo lhe descai para os olhos e o impulso contido, que quase o vence, de lho ajustar para trás da orelha para lhe revelar o rosto sorridente. Manhãs de domingo e o olhar ensonado dela, quando o chama. Relação de irmãos, de amigos, de companheiros. E outro, desta feita é ela que o ama. O modo como os olhos dele reluzem à luz eléctrica, o modo como leva o cigarro, distraidamente, aos lábios. O cumprimento das suas pestanas, em que pouca gente, ela pode apostar, terá reparado. O ângulo daqueles ombros, a calidez daquele pescoço. Ela pode apenas imaginar, e amá-lo mais ou menos em silêncio, para não o perturbar. As poucas tarefas a dois, os pés descalços na areia, as rotinas que dão a ilusão de um futuro que, possivelmente, nunca virá. O modo como o tronco dela, esguio, parece fundir-se no dele a cada vez que se abraçam – a certeza, pela qual ela daria um dedo, uma mão inteira, de que sociólogo algum, cientista algum, casamenteira alguma, Vātsyāyana algum os consideraria incompatíveis. Medidas, almas, bocas. Perfeitos nos seus vais e vens um para o outro. A forma como o cabelo dele encaracola na gola, como por vezes lhe sobrepõe as orelhas. A forma como o seu olhar se baixa e os lábios se contraem num sorriso contrariado quando a considera, meramente, uma irmã mais nova. A textura da palma das suas mãos, o universo tão almejado dos seus lábios quando lhos vai pousar na testa, na têmpora, nas costas da mão, no rosto. Nunca na boca. Nunca na clavícula. Nunca no ventre. Preto e branco – este filme também, no qual é certo que duas almas se ajudarão através desta vida constantemente, caminhando lado a lado, entrelaçadas, sem que os seus corpos jamais consagrem essa união maior de espíritos. E um que dá a mão à amada – que não o ama – para que não tropece no empedrado irregular da capital. E ela que o puxa da estrada por entre nervos e um português pouco correcto, gritado, desesperado, de quem tem medo de o perder. E ele que a espalha, em esboços, pela cama desfeita de manhã. E ela que lhe escreve infinitas cartas de amor não lidas. E ele que sabe que o pé dela tem o exacto comprimento da palma da sua mão. E ela que, por vezes, é assaltada pelo cheiro dele numa estação de comboio e quase cai de joelhos perante a intensidade da sensação, a força da recordação. E o amor que espera, que aguenta, que corrói e dói e desespera e venera e se põe de pé e grita e cala e chora e abraça e empurra e chama e afasta e parte e volta e se declara e se mascara e beija o nada e beija a mão e salta no ar e cai no chão.


Vou explorar isto em qualquer coisa maior]

os teus lábios dirigidos ao céu nocturno

Círculos de fumo branco erguem-se para o céu e eu… És um fumador ocasional, até isso te embeleza, o facto de seres qualquer coisa de ambíguo entre duas rectas. Não és completamente linear nem subsistes dentro de um círculo. Tens duas faces tão opostas quanto o dia e a noite e, de alguma forma, consegues ser amado e querido por ambas.

1 de set. de 2011

o bastante

«E o amor transbordava. A cada vez que ele conduzia descalço ou se inclinava sobre um prato de comida, distraído. A sua nuca, as suas mãos, o seu olhar. Os seus comentários vagos, concisos, sem segundas intenções, entredentes. O amor vinha por fora e lavava-a, afogava-a. Bastava que, por um instante, ardesse o espaço entre a sua perna e a dele, a centímetros de distância. Bastava que, por um segundo, a mão dele roçasse o seu braço. Bastava que a mão dela, fingindo-se distraída, fosse agarrar o braço dele. O amor transbordava, vinha por fora, a cada vez que ele era ele, e que ela era ela, a seu lado. Bastava que, em efectivo, girasse o mundo e existissem os dois para que o amor dela, por ele, transbordasse.»

Estrelas Toscas, Agosto 2011

29 de ago. de 2011

rimas de cansaço

Não são os ciúmes. Não tanto a ausência, ou a distância. A tudo isto se habitua quem ama. Quem dentro de si, mesmo arriscando queimar-se, transporta essa chama. Nem sequer a rejeição, a não retribuição, traz tanta dor. O que dói é o amor. Puro e simples, resumido à sua forma mais singular – o querer bem, o querer aqui, o querer para sempre. A santa trindade das emoções, a eterna monotonia dos poemas sem ouvidos onde os recitar, sem lábios que retribuam com beijos essas canções de embalar. O amor – nu e cru – e os planos de futuro a esfumarem-se num céu vazio. Um céu aborrecido, de tão cinzento, de tão frio. Imagens de duas pessoas à beira mar, mão na mão do outro. Fotografias da soma das alegrias, dos instantes que somados sabem a pouco. Dos beijos não dados, dos recantos assim guardados (no rosto alheio), dos passos desencontrados. Meu amor de dias não vividos, de carinhos perdidos. A vida toda, estaria eu a teu lado. A vida toda, de peito aberto à espera que precisasses de um transplante de coração, de um braço, de uma vista – para te dar os meus, tudo o que fosse meu, para que vivesses mais, para que vivesses melhor. Meu amor eterno, meu fogo ameno, meu karma, minha saudade. Repousa aí, na tua pequena mão, a chave da minha felicidade. Repousa aí, nesses teus lábios, o único líquido capaz de matar a minha sede. De atenuar a minha febre – de te ter, de me dar, de te viver. Amor de ciúme, cinzas e lume, estou cansada de queimar. De arder sozinha nesta fogueira sem água à vista. Verte em mim o alívio, a salvação, a tua vida. Deixa-me ser o berço da tua continuidade. Deixa-me roçar, com os lábios, a tua pele quente. Caio, estou a cair há demasiado tempo. Quero esquecer-te, mas cada vez há mais vento…

19 de ago. de 2011

no seré pobre con tanta verdad

quero ser feliz na tua verdade. quero ser-te fiel. quero ser-te tudo, para sempre.

perdoa-me, mas o objectivo da minha existência sempre foi viver: viver, fazer como Vinícius de Moraes dizia - é melhor viver do que ser feliz. e eu tenho vivido bastante, na tentativa de ser feliz.

Vos, me viniste a buscar
Para encontrar este lugar
Un paisaje y un campo azul
Viento del sol
No seré pobre con tanto amor
Tanto sol, tanto mar
Tanta verdad

Una chispa de eternidad
Felicidad
Noches de estrellas
Que nos subieron a su altar
Mágica bebida celestial
Pampa y maíz
Vos y yo en un país
El mundo entero a mis pies
Érase una vez


Gotan Project - Érase una vez

16 de ago. de 2011

take a shortcut, please

love of my life. why do we have to 'live' before we get together? For life can't be lived without you. as you lay your head on somebody else's shoulder, as you caress somebody else's belly, I dream of you. Constantly, night and day. I dream of our future, and I hold on to this perfect scenery and I just can't let go. As I lay my head on somebody else's shoulder, I ban you out of my thoughts. Treason and regret fall down on me. And then no... for we must live our lives before you and I become one. The wait, always a little more than I expected. The distance, always the distance. And jealousy, it almost kills me. The idea of your skin on somebody else's skin. Your hands in somebody else's hands. Your eyes waking up to somebody else's eyes. Oh, it kills me, how can I be free? Please take a short cut and get here – our happy ending lies on my hand holding the rope. It never breaks away. But oh, how can I find happiness this way? Come to me, my love, for it’s time for us to meet.


7 de ago. de 2011

1522 cartas de amor

«Certa noite sonhei que o amor da minha vida regressava de uma viagem e me entregava, em mãos, uma carta. A custo, tentava decifrar essa carta e encontrava lá palavras como "amor e casamento". Meio cega de felicidade, olhava na direcção dele e lá estava: contido, frio, distante, a conversar com alguém como se não me visse ou eu não existisse. Foi então que me perguntei se é possível que alguém ame outra pessoa com tamanha contenção, como se esse amor nem comichão lhe fizesse, e o carregasse com a leveza de quem leva um saco de plástico, vazio, na mão. Será que dói? Ainda que o saco pareça não pesar? Se ele me amasse assim, quão grande seria esse amor silencioso e contido? E porque esperara tanto para mo demonstrar por fim? Faria parte do seu plano organizado e racionalmente-irracional de vida? Tanta planificação assustar-me-ia tanto quanto acreditar na possibilidade de exitir tal amor. Mas, nesse mesmo sonho, tudo o que ele precisava, como frequentemente, era de tempo para olhar na minha direcção e sorrir. Acabava por cingir-me pela cintura, embora continuasse a falar para o lado, descontraídamente, e eu perguntava-me se, tal como a mim sucedia, ele estava 99,9% atento amim, quieta a seu lado, cingida pela sua mão, e 0,01% atento a essa conversa banal. Será que a respiração lhe falhava, como a minha? Será que a mão lhe queimava, como a minha pele queima sempre sob a mão dele? E então, alguém partia e ficávamos só os dois. Olhava-o nos olhos, a esse meu amor, e encostava o rosto ao dele. Depois, acabava por lhe encontrar os lábios. Queria dizer tanta coisa mas, o seguro, pareceu ser ficar calada. E assim foi, um abraço silencioso em que eu gritava o quanto o amo, e um entendimento mútuo que finalmente se assumia e que duraria, sem sombra de dúvidas no nosso espírito, uma vida inteira».

A Dream is a Wish Your Heart Makes...

27 de jul. de 2011

sorri enquanto te beijo

sabe, meu amor, que te amo. e que te amarei até morrer. é por  isso que todo o resto me parece tão pouco, um nada imenso de nenhum valor. sabe que te choro e te venero, e sobretudo que te espero. e sabe que te vejo, com olhos de quem vê, e que te conheço, como só conhece um livro quem o lê. sabe que à amargura dos dias subtraí a doçura de te ter. sim, o cintilar da vida, ao meu redor, por te ter. por saber-te nunca muito longe, embora raramente aqui. por saber que, nos teus olhos - laivos de mel e coisas mais profundas, lucidez e racionalidade - leio que também me lês. deslizemos agora para o silêncio, perfeição. não vejo já necessidade de prender a tua mão, pois que sinto que te prendi. ao teu olhar, que se enreda no meu. que estranhas asas povoam as minhas entranhas, murmuram a meus ouvidos. que grande és, que tola sou. sabe, meu amor, que tenho plena consciência das nossas dimensões. basta-me ter-te assim, como te tenho, para seguir pela vida a sorrir. em mim não se apagarão mais luzes, em mim, à noite, acendem-se as estrelas. fosse eu firmamento, e tu o cimento com que se constrói o mundo. sem nós, nada. reservatório de tudo. conheço-te, milagre maior, e tenho-te, não podia ter-te melhor. porque caminhas a meu lado, não acorrentado a mim. porque me beijas a testa e porque te louvo as mãos. homem honesto. amor maior. porque me guias na escuridão das ingenuidades - resquícios de infantilidade - e porque não me apontas caminhos, descreves-me as paisagens. sim e não, talvez e também. veremos o que dali vem. e eu, a teu lado, que tola sou, pequena e feliz, que feliz é quem amou assim um  grande amor. ecos de palavras, distantes. que importa se não somos amantes? se nunca o seremos? sei que te amo e, nalguma linguagem, sei que me amas também. se é na matemática dos racionais, se na pureza dos amigos, se no secretismo dos poetas, isso não sei. sei que te carrego em mim e que, se fechar os olhos, me sorris. estás comigo a todo o instante. não te guardo em caixas, fotografias ou objectos. caberias lá tu em caixas, mundo, permanecerias lá tu imóvel, como os objectos, vida... quanto muito, vejo-te às vezes, num livro cá por casa. mas sei-te, e sei-te quase de cor. não quero saber-te, na totalidade, de cor. não o poderia, é inalcançável. tão grande és tu que não acabas. em mim nunca acabarás. conheço algumas pessoas de cor, e preferia que assim não fosse. a felicidade que a tua volta me trouxe. e sabe que vou chorar, «a cada ausência tua eu vou chorar». mas não lágrimas; é paixão, fogo, urgência. coisa física, átomos de energia. ainda assim, ter-te-ei aqui, para seguir pela vida a sorrir. a cada vez que afastar os lençóis, pedir-te-ei que te chegues para lá. e ainda que a tua boca nunca sobre a minha pouse, e ainda que nunca venhas a sorrir enquanto te beijo, sabe, meu amor, que te amo, e que te amarei até morrer. com a certeza de quem quer viver, de quem quer seguir, a vida inteira, com a alma enredada na tua. que o teu chá seja fervido da minha chaleira, e que os teus livros disputam com os meus a prateleira. meu amor, sabe que te amarei a vida inteira.

25 de jul. de 2011

eis a questão

uma vez vi num episódio qualquer tolo de uma série, uma mulher a pedir ao homem uma prova de que estava apaixonado por ela. e ele responde-lhe que as mãos dele começam a suar descontroladamente quando está perto dela. ela responde-lhe que isso pode acontecer-lhe perto de muitas outras mulheres, e aconselha-o a testá-lo; a seduzir uma mulher, a estar com essa outra mulher e a descobrir se as palmas das mãos começam a suar ou não. depois de muito discutir, ele acaba por aceitar o teste. enquanto beija a outra mulher, vai mexendo as mãos, abrindo-as e fechando-as e, no final, sorri: tem-nas secas.

se é verdade que esse é um dos sintomas do «estar-se apaixonado»... bom, eu já sabia que estava mas as minhas mãos não costumavam suar. ultimamente, não param de fazê-lo, basta-me saber que ele está por perto. bom era que as dele suassem também.

20 de jul. de 2011

adeus, até já


«Durante anos sofri com o teu hábito de partir sem te despedir. Até que entendi que isso era apenas a tua certeza de que ias voltar.»
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Cee, me and tea

18 de jul. de 2011

eixo existencial

Errante? Não me perdi no mundo, à tua procura. Por algum motivo, vim dar a esta costa, e eras lá marinheiro. Já te encontrei. E agora? Tantos poetas lançam rimas, como mantos de pérolas, para alimentar as minhas necessidades de ser. Arte que me advém, porque eras marinheiro neste porto onde vim aportar. Não planeei deixar para trás os sonhos de vidas paralelas. Se foi fado, decidi-me por uma que me está vedada. Alguns nascem para percorrer a estrada que lhes apraz, outros para caminharem numa paralela, dedicando olhares furtivos à que lhes escapou. Tortura, os teus lábios. Enlouqueço, é verdade. Aos poucos. Ainda que o negue, ainda que os chame tolos, é a pura verdade. Enlouqueço como enlouquecem todos aqueles que, à noite, julgam deitar-se com outro corpo a seu lado mas que, na realidade, estão sozinhos. Enlouqueço, porque de mim jorram poemas, jorraram lágrimas, jorram beijos que nunca tocaram a tua boca. Amaldiçoo a minha imaginação. Se ao menos não nos tivesse já visto juntos… mas vi, e era um quadro por demais belo. Por demais digno de exposição. Devíamos acontecer, eu e tu. Para que eu pudesse seguir pela vida fora, a honrar esses teus lábios, a abraçar essa tua pele, a acordar envolta no teu cheiro. Desejo, maldito desejo, que massacras as águas calmas e obrigas os navios a velejar. Só quero ficar assim, quieta, sem que ninguém me venha agitar. Sem que me recordem que sou peixe, mas que quero viver no ar. Beija-me, é uma súplica. Deixa-me enterrar os dedos na tua nuca. Deixa-me puxar-te para mim, como se tivesse o direito de deslocar o eixo do teu corpo. Deixa-me pressionar o peito no teu, estender-me ao longo do teu corpo, nas pontas dos pés, até emoldurar o teu queixo com os meus lábios. Deixa-me saborear o teu sorriso, sorri enquanto te beijo. Deixa-me sentir o teu calor, provar a textura da tua pele, deixa-me desenhar o relevo do teu corpo com a ponta dos dedos. Deixa-me olhar para ti tempo suficiente para gravar, na memória, cada um dos sinais que te dançam na tez. As covinhas no teu rosto… Tu é que deslocas o eixo da minha existência. Como constelações na minha memória, o firmamento dos teus sinais, a tonalidade exacta da tua existência. Deixa-me... Tu sabes. Deixa-me... eixa-me... eija-me... B.

6 de jul. de 2011

me-decifra

Amadeo Modigliani's Female Nude
Uma vida de solidão doméstica. Noite dentro. Vida adentro. Por vezes, por entre o deambular nos corredores, descalça, de camisa de dormir, ocorre-me que os meus ossos podiam transportar não vinte e um anos de memórias, mas o dobro. Às vezes, quando franzo a testa, penso que as rugas podiam não ser de expressão, mas de preocupação, por questões práticas. Ópera algures, numas colunas não muito distantes. Olezzo di verbena. Perfume de verbena. Pele. Sulla tua bocca lo dirò. Sobre a tua boca di-lo-ei. Encontro. Um cigarro aceso na noite. Círculos de fumo branco. Boca. Dedos entrelaçados. Alguém que pense nas questões da vida por mim, enquanto eu escrevo novelas ou romances. Enquanto eu olho para os sonhos, alguém que olhe para a vida, para as nossas vidas. Solidão doméstica. Leite no frigorífico. Violinos. Cordas. Sopro. Portishead. Roads. A planta do pé sob a laje fria. Deambular. O cabelo enredado, poesia à espera de ser lida, demasiados livros na estante. Corpo. Sonhos, desejos, expectativas. Desejo. Não desejos, desejo. A humidade da pele no verão. Deslizar. Suor. Amor. Querer. Lusco-fusco. Um corpo estendido, em repouso. Cascata. Precipício. Cume. Suspiros. Outro corpo estendido sobre esse. Dança em mim. Imaginação. Fumaça. Lábios. Mundo. Mãos. Beijo. Desejo, amor. mãos minhas as com amor Faz. et-omA.

sonho

hoje pode realizar-se um sonho meu. ou pode vir tudo por aí abaixo, areia filtrada por entre os dedos. vou tentar agarrá-la, e ver se sobra qualquer coisa. se vencer esta batalha, se passar esta prova, os meus castelos de areia ganham fundações.
e eu sou consagrada uma sonhadora realizada.

figas. wish me luck.

28 de jun. de 2011

desperdício

a vida exige que se espere pelo que há de melhor. porquê? porque é que não podemos ser felizes desde o primeiro dia? porque é que a juventude não passa de um estádio curto, desvairado, e com um fim rápido e eminente? porque é que temos que esperar por qualquer coisa mais além, para começarmos a colher frutos? para sermos felizes? para nos sentirmos realizados? porque é que tudo requer tanto esforço? porque é que as pessoas se desperdiçam mutuamente, no presente, para irem encontrar-se lá à frente se, aos vinte anos, faz-se amor três vezes por noite e, aos cinquenta, já é difícil fazê-lo três vezes por semana? porque é que tudo o que é bom está lá à frente, guardado? e porque é que as recompensas só chegam tão tarde... porque é que aspiramos a ser qualquer coisa, e não nos limitamos a sê-la momentaneamente? porque é que alguém tem que experienciar tudo o que há a experienciar, não experienciando nada na realidade, quando podia prender-se a qualquer coisa e elevá-la ao grau de sublime? porque é que coisas superficiais, coisas sobre as quais não há três linhas de pensamento coeso a dizer-se, constituem os degraus que nos levam lá acima? e porque é que, lá em cima, há um patamar pequeno sobre o qual não podemos caminhar muito tempo; ou seja, porque é que a luta dura mais do que a comemoração da vitória? e porque é que a felicidade é um estado temporário, e não véu de seda e envolver-nos constantemente? porque é que, com o tempo, perdemos a voz? porque é que o medo, tantas vezes, é o determinante do nosso caminho? porque é que se acumulam, cada vez mais, momentos no passado aos quais não podemos regressar - traumas, perdas, receios, palavras atiradas ao vento, chegas para lá, desperdício. vida, porque é que há tanto desperdício?

23 de jun. de 2011

vi-vi-mmvii

talvez eu só tenha que me libertar de uma coisa: a minha teimosia.
e daí por diante siga, feliz, numa vida nova e sem amarras.

(a partir do momento em que te perguntas se ainda gostas de alguém, já deixaste de gostar dessa pessoa para sempre).

20 de jun. de 2011

poucochinho

Hoje descobri, nesta palavra tão portuguesa, o «poucochinho», a razão dos défices humanos e sociais. Talvez seja demasiado ambicioso falar nestes termos - quem sou eu para descobrir o que quer que seja, eu, que nunca descobri nada que me dissesse somente respeito a mim, quanto mais aos outros animais e às outras casas. Parece-me, reformulando, parece-me, que o «poucochinho», é a razão de muitos males. Dos meus, seguramente, é. 

Há dias, descobri que a minha avó me tem «poucochinho» amor. Eu sabia que as barreiras sociais, culturais e religiosas iriam impor-se, como barreiras instransponíveis - ditando-lhe o que deve ser o amor, e não o que o amor é, porque o amor não é indígena domesticado nem cristianizado, mas selvagem nato, de cabelos ao vento e pouca roupa no corpo.

Atormentada com o filme que vi sobre a eutanásia, perguntei-me «e se fosse eu?». Ao contrário do grosso da população, que acha que os males nunca lhes podem ocorrer eu, dada a imginar, ponho-me a experimentar os papéis principais das tragédias e dos triunfos. E se, com esta consciência de que o tempo de que disponho é poucochinho, sofresse um acidente aos vinte e cinco anos e ficasse presa a uma cama, sem hipótese que fosse de decidir sobre a minha vida e a minha morte por não ter a) mãos com que fazê-lo, b) alguém que me amasse suficiente para o fazer por mim?

Oiço Ramón Sampedro dizer, sob a voz de Javier Bardem (Mar Adentro, 2010), que a pessoa que me amar é que me vai ajudar. Pois claro que é, não tocou nenhum sino na minha subconsciência. Eu sempre disse que amava como quem tira a vida a quem sofre mas serei amada do mesmo modo?

Esgueirei-me, descalça, até ao quarto da minha avó. Em momentos que suspeito que se fará história, na minha vida, que a partir daí não mais serei a mesma, não mais terei a consciência do tempo e do espaço que tenho, tomo especial atenção aos pormenores. Ela estava sozinha, no quarto dela, deitada sobre a cama feita, com a luz a incidir no quarto através das frestas da persiana. Deitei-me atrás dela, soube que, apesar de ter o rosto escondido sob o braço, estava consciente da minha presença. «O que foi?», diz, e eu, com receava que a voz se quebrasse, olhei para o espelho do guarda-fato dela, onde surgiam apenas as nossas pernas. As dela flectidas, em repouso, as minhas esticadas e nuas, em tensão sob o meu vestido favorito de andar por casa. «Se eu sofresse um acidente e ficasse sem me poder mexer» - há que simplificar, para quê dizer tetraplégica? Se quero a resposta que busco, tenho que colocar perguntas compreensíveis «e quisesse muito morrer, tinhas coragem de me ajudar?». «Não fales nessas coisas que deusnossosenhor castiga». Pronto, se deus entra na equação pela porta, sou obrigada (eu e a lógica) a sair pela janela. «Diz lá, se eu não pudesse mexer se não a cabeça, e falasse, e te pedisse para me ajudares a morrer, ajudavas ou não?». «Claro que não, estás parva?». Não me contive antes de me levantar do lado dela «Sabia que não me tinhas assim tanto amor».

Devia despi-lo, se o tem. Devia desnudá-lo de preconceitos e receios e normas - da própria consciência e sentido de certo e errado, se necessário. Devia deixá-lo ser aquilo que ele deve ser - ouro sem mão humana, incrustado em pedra aurífera, tosco, mas autêntico. Dias depois começo a lidar com as consequências da falta de paz que esta resposta suscitou. Sonho que tenho uma trombose, em casa. Ultimamente não me tenho sentido bem, há poucos meses o coração começou a falhar batidas e sinto-me cansada. Um cigarro é suficiente para a respiração se arrastar ruidosamente durante a noite. Claro que não é nenhuma doença grave - como de acordo com os princípios do romantismo (XIX) seria bonito que fosse - e não quero ser ingrata quanto ao tempo de que ainda posso dispor, (60, 70 anos, quem sabe) mas os males têm-se acumulando e há pessoas a sofrer males do género na minha idade. Vou tentar por as minhas tendências hipocondríacas de lado, de modo a sobrar só aquilo que me dói, e não o que penso que possa doer-me. Mas o certo, é que estou a morrer. O certo é que, batam neste texto os olhos que baterem, esses mesmos olhos estão a morrer. Estamos todos, e eu pergunto-me como acontecerá, e até decidi, há muito, que se puder, serei eu a escolher o momento, num futuro remoto, quando viver já não me atraia, já não pareça ter nada para oferecer-me. Isto para dizer que sonhei que tinha uma trombose e a boca distorcia-se dolorosamente - ainda o sinto, foi a noite passada que o sonhei - e, na minha cabeça, havia uma veia a latejar - e falava com dificuldade, enrolada, e mal mexia um dos braços, e dizia à minha avó que ligasse para as urgências. Ela dizia para eu parar com a brincadeira, e eu tomava o telefone e tentava falar, em esforço, e às tantas desmanchava-me em lágrimas, a pedir ajuda, e era aí que ela entendia e me tirava o telefone das mãos e falava por mim. Eu estendia-me sobre a mesa da cozinha, a cabeça no material fresco, deixava que mais lágrimas caissem e pedia ao destino para que, se fosse tarde demais para eu voltar a mexer-me bem, que me levasse. Por favor, leva-me, não aguento mais abstinências. Já me abstenho de amor, de saúde, de dinheiro, não me abstenham de fazer viagens de dois metros, da minha mão à vossa. E apagava-me. Não sei o que se seguia, porque o sonho apagou-se também. Os meus olhos fechavam-se devagar, uma sonolência calmante tomava-me, e o meu último pensamento era o de não querer acordar se o meu corpo tivesse morrido ao redor da minha alma. Não, aprisionada não. E assim acordei, aterrorizada, com a certeza de que, se me acontecer uma desgraça semelhante, bem posso definhar sem dignidade na cama, porque não há ninguém que me ame o suficiente para ma devolver. A essas pessoas, que achassem que o meu dever era ficar, saibam que, se tal me acontecer, a cada vez que pousar os olhos em vocês, se puder fazê-lo, estarei a implorar para partir, e a condenar-vos por não me amarem o suficiente. Quando chegar lá acima, o vosso deus, que para mim é a sabedoria final das coisas, há-de perguntar-me se serei capaz de perdoar-vos uma dor pior do que o que quer que fosse que me tivesse metido de cama. E eu direi que não, que não perdoo cobardias.

E, só para que saibam, àqueles que amo prometo ajuda no que quer que seja, a viver, ou a desviver, se viver se tiver tornado intolerável para vocês. O amor é uma coisa que se aprende, e eu tenho aprendido a amar melhor. Sem egoísmos. Deixar-te voar se queres ir, abrir-te os braços quando voltares. Deixar-te cair de joelhos, se insistes nesse caminho, e receber-te de braços cruzados e um sorriso de canto de lábios. Dar-te conselhos mas não imposições. Ficar feliz se os acatares, mas não me desiludir se optares pelos teus próprios avisos e chamamentos. Eu amar-vos-ia o suficiente para vos garantir alívio, e não considerem que vos amaria menos por isso, só porque seria capaz de vos mandar para um sítio onde não teria certezas se voltaríamos a estar juntos. Mas, para quem ama realmente, não é possível não estar juntos. Eu, pelo menos, vivo metade em mim e metade onde o outro está. Estares aqui significa, simplesmente, que todos os fragmentos da minha alma estão reunidos num mesmo espaço.

Não sei amar poucochinho.
Dá-nos jeito ter ao lado alguém disposto a trocar a sua liberdade pelo nosso alívio.
Menos do que isso, não poderei nunca aceitar.

6 de jun. de 2011

there's a degree of dificulty in dealing with me

«nunca sentiste que existem coisas que não consegues dizer? que a garganta seca? que as palavras ficam entaladas e não existe forma de as deitares cá para fora? tu nunca consegues encontrar as palavras adequadas para dizer que sentes falta de alguém, porque inventas maneiras de usar palavras que não as mais directas, as mais objectivas. tu pensas que se disseres as coisas de outra forma, que o que queres dizer, é entendido, pela outra pessoa, da mesma maneira que a tua. mas não. tu não sabes como é que hás-de dizer a uma pessoa que gostas dela, e isso toda a gente sabe que é difícil. as palavras são escolhidas ao pormenor, tentas escolher as mais meigas e dóceis, as mais carinhosas e queridas. até o tom de voz tu treinas, para não fazeres uma voz demasiado grossa e rápida, ou demasiado lenta e calma, ou então para a outra pessoa gostar. tu inventas gestos, o mexer das mãos, a posição do teu corpo...o corpo assente numa perna, o corpo assente na outra, a maneira como respiras, para transparecer que te manténs calma/o e serena/o. o teu olhar é testado, para que não olhes directamente para a luz do candeeiro (se existir um), ou para o chão, ou para as ervas, ou para o infinito. escolhes uma roupa e um penteado, porque não fica bem se estiveres ao natural (será que ele/ela gosta de mim assim? - pensas). mas tu, no fundo, sabes que não é assim. quando o momento chegar, não existe tempo para nada disso. quando for tempo das coisas se desenrolarem, tu deitas tudo cá para fora, o teu olhar voa a mil á hora por cantos impensáveis, a tua voz adquire tons mais altos e mais baixos, perdes a voz, - sentes o coração a bater a toda a velocidade - não pensas no penteado, nem na roupa, não pensas nos teus gestos, - e o coração acelera cada vez mais - e pensas e não pensas, e choras, e a maquilhagem desaparece, e o teu estômago fica solto, a pressão que se fazia sentir sobre ele, desaparece, sorris, não utilizas palavras escolhidas, palavras ternas ou caras, - o teu coração vai veloz - tu balanças o teu corpo para trás e para a frente, apoia-lo de qualquer forma e feitio, e quando dás por ti, estás a proferir as palavras que querias, as palavras que custavam a sair, as palavras que eram impossíveis, as palavras que não sabias se seriam ditas daquela maneira, com aquelas mesmas palavras. o teu corpo estremece. as palavras saem e são um eclipse - amo-te.»

29 Dez. 2008

(City and Colour - Little Hell)

5 de jun. de 2011

asas de cera

Da mesma forma que é sensato suprimirmos parte da nossa humanidade para que consigamos ser felizes mesmo quando, no restante mundo, se sofre atrozmente, parece-me vital, para que se consiga ser feliz, não desejar tudo. Eu sei que ficarmos a meio caminho pode traduzir-se em pouca ambição. No entanto, querermos tudo pode levar-nos a lado nenhum. Durante demasiado tempo desejei o ideal – é assim, é assim que o sonho, é assim que tem de ser. Ou então, nada. Vivi com o nada demasiado tempo, a mastigar o seu vazio, a fechar as mãos sobre ar, a pestanejar no escuro, ao fundo do meu nada, da minha ausência de luz. Agora, conforme cresço, conforme os dilemas da vida vão sendo outros, conforme o tudo, o perfeito, o ideal, se vai afastando, parece-me mais evidente que, para ser feliz – e é só isso que me importa, ser feliz, não no final da minha vida, mas todos os dias, e quero acreditar que todos os dias contribuo um pouco mais para que isso aconteça. Quero sorrir mais amanhã, sorrindo um pouco mais a cada dia. Não quero atrever-me a desejar demasiado alto, porque já caí umas quantas vezes – aliás, caí a cada vez que me esqueci que as minhas asas são de cera, como as de Ícaro. You think you have to want more than you need - society. Não quero voar mais com asas de cera e, se são as únicas que tenho, quero ser bem feliz cá em baixo, na troposfera. Toda a vida está aqui, de qualquer modo. A temperatura vai baixando conforme se afasta do núcleo da terra. E é tão verdade que poucos lá chegam, que poucos são glorificados por isso, que compreendo que seja uma meta a alcançar. No entanto, que felicidade pode trazer a camada mais fria da atmosfera, a mais alta simultaneamente? O calor está cá em baixo, é aqui o meu lugar. E não me adianta sonhar demasiado alto, porque podia trocar tudo isso pela meta final. Quanto às outras coisas, àquelas pelas quais vale a pena lutar… espero que a consciência geral (vulgarmente chamada de “deus”) se recorde de que eu fui crente. Eu acreditei tanto, que dei tudo de mim. Fui ridicularizada, por acreditar. Queimei as asas, ao acreditar, e nunca cheguei sequer perto do sol. É preciso que haja sinais, é preciso que me apresente por escrito o detalhe do itinerário que me sugere, e que me garanta que sobreviverei – que posso com o peso da mala e que não vou sofrer desilusões no final. É preciso que reconheça que eu não lhe virei as costas: eu fui mandada embora quando tudo o que queria era ficar. Por isso, agora é a consciência geral que tem que me vir buscar. Agora, não voltarei a fazer as malas e parto em viagem se a consciência geral não me garantir, por escrito, que há qualquer coisa para mim no final. Recorde-se, por favor, que eu não fico quieta por cobardia, porque a viagem não me assusta, são as horas sozinha que me aterrorizam, e nem sequer são as de ida, mas a de regresso, quando souber que afinal não devia ter ido, que afinal, não havia lá nada para mim. Espero ser uma lição de humildade, é só isso que ambiciono ser. Nem maior que ninguém, nem menor. Se conseguir servir de exemplo a qualquer coisa, se conseguir que se recordem de mim por qualquer coisa assertiva que disse nalgum momento… já é mais do que terei esperado. E para quê queimar as minhas preciosas asas por mais, se as coisas que realmente valem a pena não partem da grandiosidade, mas da despretensão? Quero um lugar ao sol – um lugar singelo, feito à minha medida, não mais, não menos, se possível. E não acho que precise de ser a primeira pessoa a contar do sol a receber a sua luz. É que as minhas asas… se ainda não o disse, são de cera.

22 de mai. de 2011

demented happiness

What is it with me and love? I watch this little love miracles happen all over the place around me. Truth be told, I don’t really connect to any of these love stories. They always seem a little empty for me. Is it because I still dream of prince charming? Will this mean that I’ll end up alone or in some unsalted story of these? I remember the character of Kate Winslet, in Revolutionary Road, turning to her husband, Leonardo DiCaprio, and says «you promised me we wouldn’t be like everyone else». I guess that’s what I need to be told. So far, everyone I met had nothing but the same old collective path through life to promise me. And, with the few ones I loved, even that path seemed interesting. Still, only for those few I happened to love. Now, I see love stories occurring everywhere around me, simple stories – of boy meets girl through social networks, at high school, at the university, at the camping trip – and I realize that all those stories happen as farther from me as they can. Even the ones closest to me seem to be prohibited to touch it, to reach it. People I love the most on earth have never tasted love. Me neither. I’ve lived it in dreams a million times, I’ve imagined everything I could have, but I never actually rested my lips on it. And then there’s this problem of mine – the fact that I can’t easily fall in love. This seems not to make sense, when I realize that the last time I fell in love it happened in a fragment of time, like a flash passing over three or four whole days – I looked better at him, I understood great part of him, I wanted to know everything else about him, I wanted to be with him for the rest of my life – and that hasn’t changed since then. Am I cursed? Is it the love I carry in me a curse or a blessing? A rare, hopeless and useless blessing? Will I be stuck in this moment forever? In this dreams of me and him, of the perfect team we’d be together? Of the great life we’d perform together? Of the intelligent, well stimulated children we’d have? Of the kisses I’ll never get to know? Why don’t I simply fall in love with the first person I find likable to fall for me to? Why don’t I search for momentary happiness instead of a life of overwhelming, transcendent, happiness? This last one is so hard to reach… and surely I can’t get there on my own. I just hope, sincerely hope, because I got to the point I should start to make those questions, if will I ever let it go, of this past of lovers bigger than my soul. I had two and they almost broke me down. And I also had a smaller one, simpler one – and this happened to want me too, but it was just too simple, not for the circumstances, but for us. It was a story of a boy meets girl on a vacation and both fall for each other. Too simple, too poor. And I used to dream of greatness and excellence in my life, at least when it comes to love. I write novels, I’ve read hudreds of them, I know I good story when I see one. And it wasn’t a good story – just a satisfying one, and satisfaction is not what I want from life. I know I’m too ambitious in this aspect, but I don’t want to wake up glad that he is on the pillow by my side. I want to wake up euphoric that he’s there, I want to be excited, radiant! I don’t want to smile – I want to laugh. I don’t want the kind of peaceful feeling that overtakes one when another loves him back – I want to be thankful for the rest of my life for that, I want my days to be all but peaceful, I want us to fight, each and every day, against that same peace, I want us to collide as much as we can, so our chests won’t be able to get even closer, and, slowly, we start to share the knowledge one of another. With this not meaning that we’d be the double of each other, but that we’d know each other so damn good, and we’d respect the hell out of the other, that no one else, in the entire world and galaxy, would ever be able to provide that nearness. That’s what I want, and it’s not my choice to find people interesting – I just happen to think that 99% of the humanity has absolutely nothing to give me, and nothing to do with me, and I don’t want to meet them, it would bring too much trouble. In this 1% I know, and in those 0,1% that I love, I’ve found a source of demented happiness for life. What can I do if I love like a madwoman? He deserved nothing less than that.

13 de mai. de 2011

6.5.11; 5:29

Às vezes (frequentemente, aliás), pergunto-me se a vida é só isto. Este marasmo, esta corrida lenta de caracóis, com os olhos postos em lebres, lá adiante. Cada um deve traçar o seu objectivo, se é que é claro para todos que se deve ter um, como me parece claro a mim. A ausência total desde objectivo de vida deve perfazer um estado de deslocamento total. Alguém que não acredite numa meta, num sentido de existência, vive do quê e para quê? Simplesmente não questiona o seu papel naquilo que apelido de «criação»? Talvez seja de facto assim, a lógica das coisas – vir porque não passamos da ninhada indesejada de uma gata, mas esta gata seria a humanidade. Viemos somente porque tínhamos que vir? Porque a gata, e o gato, não tinham como fugir à sua natureza? Viemos sem saber se teríamos lugar no mundo, se seriamos amados e adoptados, ou, talvez, afogados num balde no recanto mais discreto de um quintal? Quem sabe seja o mundo que nos afoga, dia a dia. A mim, é a falta de respostas que me afoga. Custa-me a crer que vim só por vir. Que toda a conjuntura matemática que se pôs de acordo para me ter aqui, significa absolutamente nada, que não uma simples equação complexa. Tanto eu, como todos os que por cá vagueamos, ganhámos uma luta pela existência e, desde aí, temos ganho constantemente a luta pela sobrevivência. Não sou, contudo, egocêntrica ao ponto de julgar que a minha existência é uma estrela luminosa por entre as outras, ou que o Homem, como espécie (e ultimamente tenho tido demasiadas referências ao facto de sermos, simplesmente, outro animal à face da terra, embora um que se impõe e reina sobre todos) – Animal, Cordato, Mamífero, Primata, Hominídeo, Sapiens – é o centro do universo ou criação estratégica de um organismo abstracto e místico a quem tantos chamam deus. Ocorre-me que, talvez, diferença maior do que a sermos inteligentes, perante os animais, o que realmente diferencia o homem de um cão é o seu objectivo de vida. Enquanto o cão tem uma certa percentagem de inteligência, ou capacidade para a desenvolver, duvido que a evolução algum dia lhe traga a capacidade de estabelecer objectivos, de pensar a longo prazo, de se contemplar como um ser temporal, com passado, presente e futuro. Com isto não querendo dizer que, alguém sem objectivos, seja uma vaca. No entanto, parece-me a mim que esta sociedade onde nos deslocamos está a afastar-nos a todos do nosso objectivo superior – não posso crer, de forma alguma, que a vida seja só isto – nascer, chuchar, experimentar andarilhos, ir para uma creche e fazer amigos, festejar aniversários, ir para a escola, tirar um curso superior, casar, ter filhos, ser avô, morrer. Não, o lado bom da vida não podem ser só recompensas financeiras, noites com os amigos à beira mar ou promoções na carreira e tardes nos centros comerciais. Assim como o lado mau não pode ser só dificuldades financeiras e problemas com o estar-se demasiado gordo/magro. Acredito piamente que haja algo de transversal à vida de TODO e QUALQUER ser da espécie – Animal, Cordato, Mamífero, Primata, Hominídeo, Sapiens – e com isto digo que algo de intemporal liga esta espécie, não só a memória evolutiva dos finais de tarde nas selvas ou da utilização do polegar ou da inutilidade dos sisos para rasgar carne crua ou da apêndice para ajudar a processar a alimentação dos tempos remotos. Não, algo menos instintivo e mais de ser, mais racional. Algo como a mesma alma em vários corpos ou um propósito comum – algo que faça sentido, simultaneamente, para um Homo Sapiens que acabou de aprender a lidar com o fogo e um Homo Sapiens Sapiens que acabou de tirar um curso de informática. Como que o mesmo disco rígido em cada, só que invisível, mas imutável, formatado a cada nova existência, mas com fragmentos da anterior.

Não posso crer que a vida seja só isto, ou que a minha vá ser só isto, sempre – noites solitárias, a juventude a esvair-se, a pele mais áspera, as rugas a aprofundarem-se ao redor dos olhos, as mãos a envelhecer, o corpo a decompor-se, lentamente, sim, acho que decompor-se é a palavra certa, porque a cada instante que vivemos ele envelhece e dá um novo passo em direcção ao seu destino final – a ausência de vida. E ainda hoje, na aula de Ética, alguém disse «fumar mata», ao que se respondeu, sabiamente «viver mata». E é por viver, matar, que a vida não pode ter o curso pouco prático de, no máximo dos máximos, 120 anos. Isso é pouco para uma espécie, é nada para a evolução, é zero em termos de aprendizagem existencial. O que é que fazemos cá, afinal, se não estamos programados para aprender nada se não a comer de talheres e a fazer login no facebook?

Por favor, por favor, consciência geral da humanidade, o «deus» dos religiosos, não deixes que a vida seja só isto. O meu objectivo de vida está bem traçado, soa simples mas é complexo demais, embora fácil de atingir – é ser feliz. Para isso, é preciso que eu sinta que a vida valha a pena por mais do que um contrato com uma empresa. Tem que haver um encontro com as entidades originais, uma aproximação à natureza, um banho de instinto e saber inato a guiar-me por entre os futuros dias deste meu corpo. No final, têm que haver respostas, ainda que eu passe a vida inteira a procurá-las no espaço físico, espero que, ao menos no vácuo, as encontre um dia. No entre vidas, embora queira, mais que tudo, que esta seja a última. Embora ache, sinceramente, que esta é a minha última. Não porque aprendi tudo o que o budismo e psiquiatras como Ian Stevenson pressupõem que se deve aprender – mas porque, como objectivo final, que faz sentido para mim e que talvez tenha criado, porque acredito também que o nosso papel é criar qualquer coisa, nem que sejam as nossas próprias vontades, fundamentadas, e verdades pessoais, que o objectivo final, não da minha vida, mas desta experiência como tartaruga num aquário chamado Terra, é desprender-me de tudo. Até porque o Homem, no instante em que começou a agarrar as coisas com as mãos, nunca mais as largou. Tornou tudo seu: as pedras para casas, as árvores para sombra, os solos para cereais, os animais para alimento, as estrelas para adoração e os metais para terem qualquer coisa que valorizar. Desde aí, transformou tudo, das comunidades fez civilizações e, entretanto, fala-se em sociedades. Tem sido tudo «nosso», entretanto, e a cada vida o Homem é incitado a reclamar para si parte do que se converteu em bem, ou em criar novos bens dignos de serem disputados e desejados – sejam ipods, sejam ilhas no Pacífico. Tudo deve ter o seu dono e, no final das contas, o Homem é o dono de tudo. Talvez o objectivo seja, realmente, esse – parar de procurar valor fora de nós próprios, mas cá dentro. No entanto, a cada geração, o mundo evolui num sentido que só nos faz olhar para o exterior, para aquilo dos arredores que possa interessar-nos e, daí, a exigir que nos seja atribuído aquilo que queremos – sob o estigma do bem-estar, da realização pessoal, dos objectivos de vida. A verdade, é que também eu jogo no euromilhões. No entanto, ser desprendido é saber que algo acima de todo este pandemónio tem mais valor. Não é ser como aquele que se queria intitular o homem mais desprendido do mundo, porque só tinha umas cuecas, das quais era inseparável e pelas quais enfrentaria incêndios para as conservar intactas, mas é ser como aquele que, vendo a sua mansão ser consumida pelas chamas, continua a sua meditação tranquilamente. E é isso, por entre labaredas, terramotos, histerismos sociais, os quais oiço, por vezes até concordo, mas acabam por não significar mais do que o que são – histerismos sociais – e por entre assassinatos, milhões a morrer à fome, má gestão, seja o que for que nos desabe em cima, eu continuo a meditar sobre que raio é isto que sou eu, e que raio que é isto que sou eu faz aqui. E, se tiver que escolher entre deixar o mp3 na estação, porque me caiu na correria para o comboio, ou esperar vinte minutos pelo próximo comboio, eu escolherei sempre o meu tempo, irreversível. E, por tudo isto, e porque não daria a vida por cuecas algumas, e até porque não há caixa de recordações que mantenha, e porque os meus computadores são, provavelmente, feitos de plástico, e as minhas roupas não passam de trapos, e os meus livros estão guardados na minha memória, embora sejam aquilo a que me apego mais – mas não totalmente – que digo que não me há nada essencial, se não o ar. Se não aquele que amo. E, libertando-me desse amor, liberto-me de tudo. E, liberta de tudo, sou só eu, desprendida. E, eu só, desprendida, creio que esta é a minha última vida, porque aprendi a lição do desprendimento, e aprendi-a nesta vida, é algo que não trouxe de trás, e de que me adiantaria voltar ao mundo, sem desejo de ligação? E, mais do que recear que houvesse mais algo por aprender, há a certeza de que, ao contrário de tantos a que a pergunta pudesse ser feita, partindo do princípio de que se acreditasse em várias vidas – queres voltar? -Eu diria que não. Não, não quero voltar, não me ocorre nada para fazer por cá, o que não me consagra perfeita, mas também não me parece que a perfeição fosse o objectivo; não acredito que o universo trace caminhos que não sejam exequíveis e que levem a metas inalcançáveis. E não receio a morte, nada disso me causa angústia, mas inspira-me paz, descanso, harmonia final. Desprendi-me, porque larguei mão da última coisa que se pode largar a mão: da vida. E, depois disso, não há motivo pelo qual voltar.

É por isso que quero tanto ser feliz nesta vida. É a última, por muito ridículo que soe, por muito neurótica que pareça, por muito esquisitóide que me consagre com este género de afirmação, é algo que me é tão natural sentir quanto respirar – parece-me tão certo quanto o facto de pensar, logo, existir.

6.5.11; 5:29

4 de mai. de 2011

texto 1

1 - Sociedade Contemporânea

Quais são os motores que movem os homens de hoje em dia? Há aspirações fáceis de identificar, quase comuns a todos: dinheiro, reconhecimento, estatuto, fama. Nem tão pouco especifico através de que meios se perseguem estas aspirações, mas somente que elas constituem o objectivo final. O Homem entrou, desde o início, num caminho criado por si mesmo e, desde aí, tem-no trilhado como único caminho – criou labirintos, cuja saída projectou e, ainda assim, acha-se um vencedor quando a alcança. Criou estradas a perder de vista para encurtar as distâncias e, desde aí, tem-se entretido a percorrê-las. Desenvolveram-se até, entre os homens, filósofos, pensadores, iluminados. Ainda assim procuraram organizar os homens dentro das estradas já abertas e caminhos já trilhados. “Distinguem-se, entre eles, mas não deles”. No fundo, a Humanidade é toda igual, mas em etapas evolutivas diferentes. Enquanto uns morrem à fome, hoje preferem morrer de fome a desenquadrar-se dos ideais estéticos. Outros, ainda, podem empanturrar-se até à obesidade. A Humanidade, essa, é toda igual dentro das restrições que criou: paredes, razão, cepticismo, ciência. Quando quem passa hoje fome vir suprimida essa necessidade, a seu tempo chegará às preocupações estéticas – absurdo, grotesco, é a coexistência destas duas realidades no mesmo espaço físico.
Os homens chegaram até hoje recostados no progresso que o futuro foi conquistando. Progresso científico, matemático, tecnológico, civilizacional – social, diz-se. O homem está farto de cultivar jardim atrás de jardim, passeia-se nesses jardins, inventou hierarquias dentro desses jardins e figuras místicas para justificarem a sua existência e, nesse jardim, ignora-se a si acima de tudo. Há um conto oriental que diz que os deuses tiveram de esconder a Natureza divina do Homem perante o próprio. Não a enterraram, porque adivinharam que, nas suas buscas, não ficaria pedra sobre pedra. Não a esconderam no mar, porque também aí eles haviam de a procurar. De facto, o Homem tentou justificá-la como sendo o centro do universo, o que não é, ou criação suprema de uma divindade única (será?). Então, ironicamente, esconderam a divindade humana no interior do próprio Homem, onde tiveram a certeza de que este não a iria procurar.
A civilização moderna, global, mas especialmente ocidental, prega os valores da colectividade, mas desenvolve-se sob o signo do individualismo e da competição, do isolamento e do orgulho e próprio e realização pessoal. A busca da glória, honra, enriquecimento, é o discurso do Hitler para os alemães, do Bush para os americanos e do Fidel aos cubanos. O Homem quer ficar para a posterioridade – a bem ou a mal, desde que seja recordado. Outra história curiosa sobre o próprio homem, sugere que o mesmo terá previsto a sua própria auto-destruição, às suas próprias mãos e que, assim, terá criado mecanismos que lhe assegurassem um regresso à vida e uma reconquista das dimensões espaciais e temporais. Assim, este pode não ser um primeiro ciclo – uma primeira, única e contínua vida da civilização.
A sociedade actual afasta o Homem da sua Natureza, empurra-o para valores efémeros e supérfluos, e os filósofos sabem que, quanto mais o Homem se afasta da Natureza, menos puro se torna, e mais susceptível fica de ser corrompido pela vaidade, a ostentação e o ócio. A sociedade sussurra-lhe «olha ao teu redor, conquista como os grandes”. A Natureza diz-lhe “olha para dentro de ti e para ti, tão pequeno, tão nada neste universo infinito, e descobre-te nele” – fora de limites espirituais, é evidente.

2009

2 de mai. de 2011

insomnia

I would kiss you
On your knees, on your elbows, on your ankles
I would lie on your back
Our hands and legs tangled
Our body heats like the balanced temperature of the same planet
My belly would rest on your thighs
As I’d hold you tight
And I would kiss you behind the ears,
On the softer spot of your skin
And I’d trace roads of warmth between your shoulder blades
The tip of my nose would caress your front
I would rush my lips through your neck,
And be caught at the curve of your shoulder
I would be acquainted to the flavors of your skin
Is it salty on your forearm?
Is it sweeter on your wrist?
Sweaty on your palm?
Let me see how much of my tongue
Fits onto your clavicle
I would draw the very relief of you
With the tip of my fingers
I would kiss your hips,
The corner of your lips,
The high top of your eyebrows
And I’d do it all out of love
But imagine, my love, just imagine
What would I do…
If passion took me over.
Just imagine if…

Portishead - Roads

27 de abr. de 2011

be my rhett

scarlett o'hara spent a life time suffering from infatuation - she maddly, deeply, blindly, thought that she loved ashley wilkes - and for far too long. during all that time, rhett butler was loving her, with no response. rhett stands next to her, trying to give her no more that she gives him - in order to preserve his pride and dignity. though, at the very end, when it's already too late, scarlett realizes how blind she has been - rhett butler is her number one, ashley's nothing but a stubborn infatuation of her. what if... you are my ashley?

please, please, please, be my rhett.

2 de abr. de 2011

disfuncionalidade

Ela estava encostada ao móvel da cozinha, com o microondas a funcionar atrás de si e as costas quase apoiadas na porta. Ouvia a música que vinha das colunas, lá dentro. A música tinha um tom de trágico, combinava com os cabelos desgrenhados dele e com a sua t-shirt comprida, amarrotada, larga. Deixou-se estar, ambos os braços caídos ao lado do corpo, acordara há pouco tempo, sabia que estava com péssima cara. No corredor, entre o ruído do microondas e o das colunas, ouvia o pai gritar ao telefone com a mãe – conhecia-o o suficiente para saber que receava demais que ela lhe fugisse do alcance para lhe gritar, pelo que devia estar realmente irritado. Dizia «já não te lembras que íamos aí jantar? Se não estiveres lá às oito e um quarto bem podes fugir. Estás a rir? Não te rias! Comes em qualquer lugar? Mas e os miúdos?!». À sua frente, o irmão, mais alto que ela, mas também menos desenvolvido em termos mentais, apoia as palmas das mãos no tampo branco da mesa da cozinha e inclina-se para ela. Ela olha-lhe para os olhos, é onde encontra os resquícios do passado, um pouco mais normal. E ele pergunta-lhe: «eu meto-me com as pessoas? Meto-me? Meto-me com as pessoas? – diz o nome dela – Achas que me meto com as pessoas?». Ela permanece impassível, é melhor não responder, já anteriormente disse coisas que não devia, precisamente àquela pessoa, a única que não pode compreender nem mudar. O estado de loucura geral, no entanto, combina com a música, com o telefonema, com o rapaz das perguntas repetidas, insistentes, com o toque do microondas a anunciar que terminou o seu serviço, com o cabelo revolto dela e com a t-shirt larga, de um verde feio, velha, e ainda com as suas olheiras e o seu estado de espírito. Pergunta-se, antes de tudo se desfazer – antes de o telefone ser pousado, antes de o microondas cair em silêncio, antes de a música terminar, antes de o irmão lhe virar as costas e ir fazer a mesma perguntas a outras pessoas, que gritam no quintal no abrigo que é a infância – pergunta-se… como é que aconteceu esse acidente do destino, essa coisa improvável, essa ínfima possibilidade entre tantos outros cenários mais plausíveis, que é o ser considerada normal.

22 de mar. de 2011

«eu sei»

esta noite sonhei que estávamos sentados num sofá, rodeados de gente. estava a combinar-se uma odisseia qualquer, e alguém ia dissertando sobre os perigos, mas eram obstáculos símbólicos, entendi pouco da conversa, era em ti que estava concentrada. estávamos separados por uma espécie de tela pousada contra as costas do sofá, pelo que tinha que espreitar por trás da tela para ouvir o que dizias. a dada altura, puseste-me a rir e desviei o olhar da tela para o grupo, composto por rostos turvos, desconhecidos, num contexto de supostos amigos. deixava a mão apoiada na tela, por dentro e a tua, ligeira, ia encostar-se nela. devo ter ficado tão comovida que fui procurar, com a minha mão, abrigo na tua. a tua recebeu-me, enquanto conversas paralelas se desenrolavam à volta. apertámos as mãos, entrelaçámos os dedos, passei os meus pela palma da tua mão, sorri por dentro. a dada altura fizeste-me sinal para que voltasse atrás da tela, para me dizeres qualquer coisa. não me lembro do que disseste, só sei que sorrias. e eu, séria, perguntei-me se tudo aquilo seria o prenúncio de outra queda e, receosa, senti os olhos encherem-se de lágrimas e apertei os lábios. não conseguia sorrir-te também, tinha tanto medo... e o teu olhar parecia aperceber-se de cada pensamento que me cruzava a mente, e tu continuavas a sorrir. e eu punha-me a repetir mentalmente, como se pudesses ouvir, mas não querendo dizer-to por palavras - «amo-te, amo-te, amo-te», e o teu sorriso suavizava. eu desviava novamente o rosto de trás da tela para o grupo, que mal via, e sentia que introduzias um papel por entre os meus dedos, presos na tua mão. quando o abria, com os dedos trémulos, lia somente duas palavras rabiscadas: «eu sei».

11 de mar. de 2011

b&f

Eu por entre folhas que esvoaçam, a minha letra gravada nelas. Abro o meu diário e encontro tudo o que fui, consigo que coincida com aquilo que sou. Tu inscrito em cada página, ou amarguras, ou notícias, ou marcos da vida que me tem passado por entre os dedos. A consciência do tempo esmaga-me. Ainda há tanto que quero ser, e tanto que quero ver… e há tanta beleza no mundo, e tanta expectativa e, se olharmos com atenção, está tudo a desmoronar-se, e nós sem consciência disso. Continuo a achar que o mais belo romance que alguma vez conhecerei é aquele que escrevo ocasionalmente, quando a desilusão ou a alegria momentânea, ilusória, me arrasta para as linhas que vou registando. Não consigo viver mais de altos e baixos, desconfio. Há qualquer coisa cá dentro que dói, e a dor é constante, receio que seja crónica. O problema maior é quando a minha imaginação, tão fértil como a região oeste deste país, encontra bloqueios, paredes negras. Crio ambientes na cabeça, crio vidas que não viverei para viver. Escrevi poesia, escrevi prosa, encontro-me em cada quadra, em cada parágrafo, e volto a sentir a esperança que sentia na altura, a dor que me atormentava na época. E compreendo que já aguentei muito, já fui feliz, e se mais estiver para vir? Não aguento mais altos e baixos, não sei viver de esperas, os sonhos estão a deixar de bastar. Estendi a mão e vi-os esfumarem-se, e eu sou de carne e osso, concreta, sólida, vivo de dedos, lábios, olhos e visão, vivo de rosto, que se enruga, se indigna, envelhece de hora a hora. Não estraguem a minha poesia, por favor, quando perder a escrita perco tudo, quando perder a beleza que me esforço tanto para encontrar debaixo das pedras dos destroços do mundo que piso, perderei tudo. É por isso que peço, destruam-me os sonhos, porque eu consigo renová-los, mas não destruam a beleza, uma vez esborratada, torna-se ferida aberta, torna-se recanto onde não quero voltar, sítio para esquecer, buraco onde me fui enterrar. Não me estragues a beleza, porque vivo dela, da simplicidade básica do belo e do feio, o feio é mau, o belo tenho-o feito bom. E a beleza é relativa, e eu consigo construí-la, mas o feio é tão absoluto, que nem eu consigo cobri-lo de ouro e chamá-lo bonito. Não pintes de feio aquelas ruas, por favor, são do mais belo que guardo em mim.

8 de mar. de 2011

meios e fins

não consigo concebe-lo de outra maneira. tem que valer a pena morrer-se por. tem que ser possível fechar-se os olhos e deixar-se cair para tras com a certeza absoluta, sem sombra de dúvida, que o outro vai estender a mão para nos poupar à queda. apesar dos desejos de estabilidade, tem que ter uma pitada de poesia, de dramatismo, da fome desesperada de quem teme as desgraças, os finais, para ser intenso. tem que se ter medo de perder, diariamente, e ainda que esse medo nunca desvaneça, tem que se disfarçar, para que a vida do outro tenha paz, enquanto calamos os infernos do medo para nós, a cada despedida matinal, e ainda os ciúmes, enquanto perdoamos as pequenas faltas de atenção, as insensibilidades. tem que ter algo de suave, da suavidade dos irmãos e amigos, e algo de violento, de exigente, de insaciável, que obrigue a lutar-se sempre, a querer-se sempre, a desitir jamais. não acredito, não posso acreditar, que este tipo de amor aconteça mais do que uma vez na vida. este tipo de amor, acontece uma vez. o entendimento no silêncio dos olhares e na imobilidade dos lábios, o conforto no simples corpo que se senta, imóvel, a nosso lado, entretido a roer as unhas ou a acender um cigarro. e, apesar das diferenças de gostos, de abordagens, de reacções, apesar da permeabilidade à dor e às situações e à sensibilidade ao humor e à felicidade, é essencial que se tenha a mesma perspectiva da vida, que, não importa os inúmeros caminhos alternativos que escolham, saibam que o objectivo é o mesmo. não importa que oiçam a mesma canção. a meta deve ser uma e uma só, a mesma, para os dois - e isto é inato, não pode ser treinado. e é isto, e só isto, acredito, o que diferencia o que acontece uma vez na vida daquele que acontece ocasionalmente e que deixa um sabor amargo na boca no final. sim, porque para esses amores, há sempre final.

contigo, só quero estar em silêncio.

celos - gotan project