29 de ago. de 2011

rimas de cansaço

Não são os ciúmes. Não tanto a ausência, ou a distância. A tudo isto se habitua quem ama. Quem dentro de si, mesmo arriscando queimar-se, transporta essa chama. Nem sequer a rejeição, a não retribuição, traz tanta dor. O que dói é o amor. Puro e simples, resumido à sua forma mais singular – o querer bem, o querer aqui, o querer para sempre. A santa trindade das emoções, a eterna monotonia dos poemas sem ouvidos onde os recitar, sem lábios que retribuam com beijos essas canções de embalar. O amor – nu e cru – e os planos de futuro a esfumarem-se num céu vazio. Um céu aborrecido, de tão cinzento, de tão frio. Imagens de duas pessoas à beira mar, mão na mão do outro. Fotografias da soma das alegrias, dos instantes que somados sabem a pouco. Dos beijos não dados, dos recantos assim guardados (no rosto alheio), dos passos desencontrados. Meu amor de dias não vividos, de carinhos perdidos. A vida toda, estaria eu a teu lado. A vida toda, de peito aberto à espera que precisasses de um transplante de coração, de um braço, de uma vista – para te dar os meus, tudo o que fosse meu, para que vivesses mais, para que vivesses melhor. Meu amor eterno, meu fogo ameno, meu karma, minha saudade. Repousa aí, na tua pequena mão, a chave da minha felicidade. Repousa aí, nesses teus lábios, o único líquido capaz de matar a minha sede. De atenuar a minha febre – de te ter, de me dar, de te viver. Amor de ciúme, cinzas e lume, estou cansada de queimar. De arder sozinha nesta fogueira sem água à vista. Verte em mim o alívio, a salvação, a tua vida. Deixa-me ser o berço da tua continuidade. Deixa-me roçar, com os lábios, a tua pele quente. Caio, estou a cair há demasiado tempo. Quero esquecer-te, mas cada vez há mais vento…

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