27 de jul. de 2011

sorri enquanto te beijo

sabe, meu amor, que te amo. e que te amarei até morrer. é por  isso que todo o resto me parece tão pouco, um nada imenso de nenhum valor. sabe que te choro e te venero, e sobretudo que te espero. e sabe que te vejo, com olhos de quem vê, e que te conheço, como só conhece um livro quem o lê. sabe que à amargura dos dias subtraí a doçura de te ter. sim, o cintilar da vida, ao meu redor, por te ter. por saber-te nunca muito longe, embora raramente aqui. por saber que, nos teus olhos - laivos de mel e coisas mais profundas, lucidez e racionalidade - leio que também me lês. deslizemos agora para o silêncio, perfeição. não vejo já necessidade de prender a tua mão, pois que sinto que te prendi. ao teu olhar, que se enreda no meu. que estranhas asas povoam as minhas entranhas, murmuram a meus ouvidos. que grande és, que tola sou. sabe, meu amor, que tenho plena consciência das nossas dimensões. basta-me ter-te assim, como te tenho, para seguir pela vida a sorrir. em mim não se apagarão mais luzes, em mim, à noite, acendem-se as estrelas. fosse eu firmamento, e tu o cimento com que se constrói o mundo. sem nós, nada. reservatório de tudo. conheço-te, milagre maior, e tenho-te, não podia ter-te melhor. porque caminhas a meu lado, não acorrentado a mim. porque me beijas a testa e porque te louvo as mãos. homem honesto. amor maior. porque me guias na escuridão das ingenuidades - resquícios de infantilidade - e porque não me apontas caminhos, descreves-me as paisagens. sim e não, talvez e também. veremos o que dali vem. e eu, a teu lado, que tola sou, pequena e feliz, que feliz é quem amou assim um  grande amor. ecos de palavras, distantes. que importa se não somos amantes? se nunca o seremos? sei que te amo e, nalguma linguagem, sei que me amas também. se é na matemática dos racionais, se na pureza dos amigos, se no secretismo dos poetas, isso não sei. sei que te carrego em mim e que, se fechar os olhos, me sorris. estás comigo a todo o instante. não te guardo em caixas, fotografias ou objectos. caberias lá tu em caixas, mundo, permanecerias lá tu imóvel, como os objectos, vida... quanto muito, vejo-te às vezes, num livro cá por casa. mas sei-te, e sei-te quase de cor. não quero saber-te, na totalidade, de cor. não o poderia, é inalcançável. tão grande és tu que não acabas. em mim nunca acabarás. conheço algumas pessoas de cor, e preferia que assim não fosse. a felicidade que a tua volta me trouxe. e sabe que vou chorar, «a cada ausência tua eu vou chorar». mas não lágrimas; é paixão, fogo, urgência. coisa física, átomos de energia. ainda assim, ter-te-ei aqui, para seguir pela vida a sorrir. a cada vez que afastar os lençóis, pedir-te-ei que te chegues para lá. e ainda que a tua boca nunca sobre a minha pouse, e ainda que nunca venhas a sorrir enquanto te beijo, sabe, meu amor, que te amo, e que te amarei até morrer. com a certeza de quem quer viver, de quem quer seguir, a vida inteira, com a alma enredada na tua. que o teu chá seja fervido da minha chaleira, e que os teus livros disputam com os meus a prateleira. meu amor, sabe que te amarei a vida inteira.

25 de jul. de 2011

eis a questão

uma vez vi num episódio qualquer tolo de uma série, uma mulher a pedir ao homem uma prova de que estava apaixonado por ela. e ele responde-lhe que as mãos dele começam a suar descontroladamente quando está perto dela. ela responde-lhe que isso pode acontecer-lhe perto de muitas outras mulheres, e aconselha-o a testá-lo; a seduzir uma mulher, a estar com essa outra mulher e a descobrir se as palmas das mãos começam a suar ou não. depois de muito discutir, ele acaba por aceitar o teste. enquanto beija a outra mulher, vai mexendo as mãos, abrindo-as e fechando-as e, no final, sorri: tem-nas secas.

se é verdade que esse é um dos sintomas do «estar-se apaixonado»... bom, eu já sabia que estava mas as minhas mãos não costumavam suar. ultimamente, não param de fazê-lo, basta-me saber que ele está por perto. bom era que as dele suassem também.

20 de jul. de 2011

adeus, até já


«Durante anos sofri com o teu hábito de partir sem te despedir. Até que entendi que isso era apenas a tua certeza de que ias voltar.»
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Cee, me and tea

18 de jul. de 2011

eixo existencial

Errante? Não me perdi no mundo, à tua procura. Por algum motivo, vim dar a esta costa, e eras lá marinheiro. Já te encontrei. E agora? Tantos poetas lançam rimas, como mantos de pérolas, para alimentar as minhas necessidades de ser. Arte que me advém, porque eras marinheiro neste porto onde vim aportar. Não planeei deixar para trás os sonhos de vidas paralelas. Se foi fado, decidi-me por uma que me está vedada. Alguns nascem para percorrer a estrada que lhes apraz, outros para caminharem numa paralela, dedicando olhares furtivos à que lhes escapou. Tortura, os teus lábios. Enlouqueço, é verdade. Aos poucos. Ainda que o negue, ainda que os chame tolos, é a pura verdade. Enlouqueço como enlouquecem todos aqueles que, à noite, julgam deitar-se com outro corpo a seu lado mas que, na realidade, estão sozinhos. Enlouqueço, porque de mim jorram poemas, jorraram lágrimas, jorram beijos que nunca tocaram a tua boca. Amaldiçoo a minha imaginação. Se ao menos não nos tivesse já visto juntos… mas vi, e era um quadro por demais belo. Por demais digno de exposição. Devíamos acontecer, eu e tu. Para que eu pudesse seguir pela vida fora, a honrar esses teus lábios, a abraçar essa tua pele, a acordar envolta no teu cheiro. Desejo, maldito desejo, que massacras as águas calmas e obrigas os navios a velejar. Só quero ficar assim, quieta, sem que ninguém me venha agitar. Sem que me recordem que sou peixe, mas que quero viver no ar. Beija-me, é uma súplica. Deixa-me enterrar os dedos na tua nuca. Deixa-me puxar-te para mim, como se tivesse o direito de deslocar o eixo do teu corpo. Deixa-me pressionar o peito no teu, estender-me ao longo do teu corpo, nas pontas dos pés, até emoldurar o teu queixo com os meus lábios. Deixa-me saborear o teu sorriso, sorri enquanto te beijo. Deixa-me sentir o teu calor, provar a textura da tua pele, deixa-me desenhar o relevo do teu corpo com a ponta dos dedos. Deixa-me olhar para ti tempo suficiente para gravar, na memória, cada um dos sinais que te dançam na tez. As covinhas no teu rosto… Tu é que deslocas o eixo da minha existência. Como constelações na minha memória, o firmamento dos teus sinais, a tonalidade exacta da tua existência. Deixa-me... Tu sabes. Deixa-me... eixa-me... eija-me... B.

6 de jul. de 2011

me-decifra

Amadeo Modigliani's Female Nude
Uma vida de solidão doméstica. Noite dentro. Vida adentro. Por vezes, por entre o deambular nos corredores, descalça, de camisa de dormir, ocorre-me que os meus ossos podiam transportar não vinte e um anos de memórias, mas o dobro. Às vezes, quando franzo a testa, penso que as rugas podiam não ser de expressão, mas de preocupação, por questões práticas. Ópera algures, numas colunas não muito distantes. Olezzo di verbena. Perfume de verbena. Pele. Sulla tua bocca lo dirò. Sobre a tua boca di-lo-ei. Encontro. Um cigarro aceso na noite. Círculos de fumo branco. Boca. Dedos entrelaçados. Alguém que pense nas questões da vida por mim, enquanto eu escrevo novelas ou romances. Enquanto eu olho para os sonhos, alguém que olhe para a vida, para as nossas vidas. Solidão doméstica. Leite no frigorífico. Violinos. Cordas. Sopro. Portishead. Roads. A planta do pé sob a laje fria. Deambular. O cabelo enredado, poesia à espera de ser lida, demasiados livros na estante. Corpo. Sonhos, desejos, expectativas. Desejo. Não desejos, desejo. A humidade da pele no verão. Deslizar. Suor. Amor. Querer. Lusco-fusco. Um corpo estendido, em repouso. Cascata. Precipício. Cume. Suspiros. Outro corpo estendido sobre esse. Dança em mim. Imaginação. Fumaça. Lábios. Mundo. Mãos. Beijo. Desejo, amor. mãos minhas as com amor Faz. et-omA.

sonho

hoje pode realizar-se um sonho meu. ou pode vir tudo por aí abaixo, areia filtrada por entre os dedos. vou tentar agarrá-la, e ver se sobra qualquer coisa. se vencer esta batalha, se passar esta prova, os meus castelos de areia ganham fundações.
e eu sou consagrada uma sonhadora realizada.

figas. wish me luck.