sabe, meu amor, que te amo. e que te amarei até morrer. é por isso que todo o resto me parece tão pouco, um nada imenso de nenhum valor. sabe que te choro e te venero, e sobretudo que te espero. e sabe que te vejo, com olhos de quem vê, e que te conheço, como só conhece um livro quem o lê. sabe que à amargura dos dias subtraí a doçura de te ter. sim, o cintilar da vida, ao meu redor, por te ter. por saber-te nunca muito longe, embora raramente aqui. por saber que, nos teus olhos - laivos de mel e coisas mais profundas, lucidez e racionalidade - leio que também me lês. deslizemos agora para o silêncio, perfeição. não vejo já necessidade de prender a tua mão, pois que sinto que te prendi. ao teu olhar, que se enreda no meu. que estranhas asas povoam as minhas entranhas, murmuram a meus ouvidos. que grande és, que tola sou. sabe, meu amor, que tenho plena consciência das nossas dimensões. basta-me ter-te assim, como te tenho, para seguir pela vida a sorrir. em mim não se apagarão mais luzes, em mim, à noite, acendem-se as estrelas. fosse eu firmamento, e tu o cimento com que se constrói o mundo. sem nós, nada. reservatório de tudo. conheço-te, milagre maior, e tenho-te, não podia ter-te melhor. porque caminhas a meu lado, não acorrentado a mim. porque me beijas a testa e porque te louvo as mãos. homem honesto. amor maior. porque me guias na escuridão das ingenuidades - resquícios de infantilidade - e porque não me apontas caminhos, descreves-me as paisagens. sim e não, talvez e também. veremos o que dali vem. e eu, a teu lado, que tola sou, pequena e feliz, que feliz é quem amou assim um grande amor. ecos de palavras, distantes. que importa se não somos amantes? se nunca o seremos? sei que te amo e, nalguma linguagem, sei que me amas também. se é na matemática dos racionais, se na pureza dos amigos, se no secretismo dos poetas, isso não sei. sei que te carrego em mim e que, se fechar os olhos, me sorris. estás comigo a todo o instante. não te guardo em caixas, fotografias ou objectos. caberias lá tu em caixas, mundo, permanecerias lá tu imóvel, como os objectos, vida... quanto muito, vejo-te às vezes, num livro cá por casa. mas sei-te, e sei-te quase de cor. não quero saber-te, na totalidade, de cor. não o poderia, é inalcançável. tão grande és tu que não acabas. em mim nunca acabarás. conheço algumas pessoas de cor, e preferia que assim não fosse. a felicidade que a tua volta me trouxe. e sabe que vou chorar, «a cada ausência tua eu vou chorar». mas não lágrimas; é paixão, fogo, urgência. coisa física, átomos de energia. ainda assim, ter-te-ei aqui, para seguir pela vida a sorrir. a cada vez que afastar os lençóis, pedir-te-ei que te chegues para lá. e ainda que a tua boca nunca sobre a minha pouse, e ainda que nunca venhas a sorrir enquanto te beijo, sabe, meu amor, que te amo, e que te amarei até morrer. com a certeza de quem quer viver, de quem quer seguir, a vida inteira, com a alma enredada na tua. que o teu chá seja fervido da minha chaleira, e que os teus livros disputam com os meus a prateleira. meu amor, sabe que te amarei a vida inteira.
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