18 de jul. de 2011

eixo existencial

Errante? Não me perdi no mundo, à tua procura. Por algum motivo, vim dar a esta costa, e eras lá marinheiro. Já te encontrei. E agora? Tantos poetas lançam rimas, como mantos de pérolas, para alimentar as minhas necessidades de ser. Arte que me advém, porque eras marinheiro neste porto onde vim aportar. Não planeei deixar para trás os sonhos de vidas paralelas. Se foi fado, decidi-me por uma que me está vedada. Alguns nascem para percorrer a estrada que lhes apraz, outros para caminharem numa paralela, dedicando olhares furtivos à que lhes escapou. Tortura, os teus lábios. Enlouqueço, é verdade. Aos poucos. Ainda que o negue, ainda que os chame tolos, é a pura verdade. Enlouqueço como enlouquecem todos aqueles que, à noite, julgam deitar-se com outro corpo a seu lado mas que, na realidade, estão sozinhos. Enlouqueço, porque de mim jorram poemas, jorraram lágrimas, jorram beijos que nunca tocaram a tua boca. Amaldiçoo a minha imaginação. Se ao menos não nos tivesse já visto juntos… mas vi, e era um quadro por demais belo. Por demais digno de exposição. Devíamos acontecer, eu e tu. Para que eu pudesse seguir pela vida fora, a honrar esses teus lábios, a abraçar essa tua pele, a acordar envolta no teu cheiro. Desejo, maldito desejo, que massacras as águas calmas e obrigas os navios a velejar. Só quero ficar assim, quieta, sem que ninguém me venha agitar. Sem que me recordem que sou peixe, mas que quero viver no ar. Beija-me, é uma súplica. Deixa-me enterrar os dedos na tua nuca. Deixa-me puxar-te para mim, como se tivesse o direito de deslocar o eixo do teu corpo. Deixa-me pressionar o peito no teu, estender-me ao longo do teu corpo, nas pontas dos pés, até emoldurar o teu queixo com os meus lábios. Deixa-me saborear o teu sorriso, sorri enquanto te beijo. Deixa-me sentir o teu calor, provar a textura da tua pele, deixa-me desenhar o relevo do teu corpo com a ponta dos dedos. Deixa-me olhar para ti tempo suficiente para gravar, na memória, cada um dos sinais que te dançam na tez. As covinhas no teu rosto… Tu é que deslocas o eixo da minha existência. Como constelações na minha memória, o firmamento dos teus sinais, a tonalidade exacta da tua existência. Deixa-me... Tu sabes. Deixa-me... eixa-me... eija-me... B.

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