esta noite sonhei que estávamos sentados num sofá, rodeados de gente. estava a combinar-se uma odisseia qualquer, e alguém ia dissertando sobre os perigos, mas eram obstáculos símbólicos, entendi pouco da conversa, era em ti que estava concentrada. estávamos separados por uma espécie de tela pousada contra as costas do sofá, pelo que tinha que espreitar por trás da tela para ouvir o que dizias. a dada altura, puseste-me a rir e desviei o olhar da tela para o grupo, composto por rostos turvos, desconhecidos, num contexto de supostos amigos. deixava a mão apoiada na tela, por dentro e a tua, ligeira, ia encostar-se nela. devo ter ficado tão comovida que fui procurar, com a minha mão, abrigo na tua. a tua recebeu-me, enquanto conversas paralelas se desenrolavam à volta. apertámos as mãos, entrelaçámos os dedos, passei os meus pela palma da tua mão, sorri por dentro. a dada altura fizeste-me sinal para que voltasse atrás da tela, para me dizeres qualquer coisa. não me lembro do que disseste, só sei que sorrias. e eu, séria, perguntei-me se tudo aquilo seria o prenúncio de outra queda e, receosa, senti os olhos encherem-se de lágrimas e apertei os lábios. não conseguia sorrir-te também, tinha tanto medo... e o teu olhar parecia aperceber-se de cada pensamento que me cruzava a mente, e tu continuavas a sorrir. e eu punha-me a repetir mentalmente, como se pudesses ouvir, mas não querendo dizer-to por palavras - «amo-te, amo-te, amo-te», e o teu sorriso suavizava. eu desviava novamente o rosto de trás da tela para o grupo, que mal via, e sentia que introduzias um papel por entre os meus dedos, presos na tua mão. quando o abria, com os dedos trémulos, lia somente duas palavras rabiscadas: «eu sei».
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