8 de mar. de 2011

meios e fins

não consigo concebe-lo de outra maneira. tem que valer a pena morrer-se por. tem que ser possível fechar-se os olhos e deixar-se cair para tras com a certeza absoluta, sem sombra de dúvida, que o outro vai estender a mão para nos poupar à queda. apesar dos desejos de estabilidade, tem que ter uma pitada de poesia, de dramatismo, da fome desesperada de quem teme as desgraças, os finais, para ser intenso. tem que se ter medo de perder, diariamente, e ainda que esse medo nunca desvaneça, tem que se disfarçar, para que a vida do outro tenha paz, enquanto calamos os infernos do medo para nós, a cada despedida matinal, e ainda os ciúmes, enquanto perdoamos as pequenas faltas de atenção, as insensibilidades. tem que ter algo de suave, da suavidade dos irmãos e amigos, e algo de violento, de exigente, de insaciável, que obrigue a lutar-se sempre, a querer-se sempre, a desitir jamais. não acredito, não posso acreditar, que este tipo de amor aconteça mais do que uma vez na vida. este tipo de amor, acontece uma vez. o entendimento no silêncio dos olhares e na imobilidade dos lábios, o conforto no simples corpo que se senta, imóvel, a nosso lado, entretido a roer as unhas ou a acender um cigarro. e, apesar das diferenças de gostos, de abordagens, de reacções, apesar da permeabilidade à dor e às situações e à sensibilidade ao humor e à felicidade, é essencial que se tenha a mesma perspectiva da vida, que, não importa os inúmeros caminhos alternativos que escolham, saibam que o objectivo é o mesmo. não importa que oiçam a mesma canção. a meta deve ser uma e uma só, a mesma, para os dois - e isto é inato, não pode ser treinado. e é isto, e só isto, acredito, o que diferencia o que acontece uma vez na vida daquele que acontece ocasionalmente e que deixa um sabor amargo na boca no final. sim, porque para esses amores, há sempre final.

contigo, só quero estar em silêncio.

celos - gotan project

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