4 de mai. de 2011

texto 1

1 - Sociedade Contemporânea

Quais são os motores que movem os homens de hoje em dia? Há aspirações fáceis de identificar, quase comuns a todos: dinheiro, reconhecimento, estatuto, fama. Nem tão pouco especifico através de que meios se perseguem estas aspirações, mas somente que elas constituem o objectivo final. O Homem entrou, desde o início, num caminho criado por si mesmo e, desde aí, tem-no trilhado como único caminho – criou labirintos, cuja saída projectou e, ainda assim, acha-se um vencedor quando a alcança. Criou estradas a perder de vista para encurtar as distâncias e, desde aí, tem-se entretido a percorrê-las. Desenvolveram-se até, entre os homens, filósofos, pensadores, iluminados. Ainda assim procuraram organizar os homens dentro das estradas já abertas e caminhos já trilhados. “Distinguem-se, entre eles, mas não deles”. No fundo, a Humanidade é toda igual, mas em etapas evolutivas diferentes. Enquanto uns morrem à fome, hoje preferem morrer de fome a desenquadrar-se dos ideais estéticos. Outros, ainda, podem empanturrar-se até à obesidade. A Humanidade, essa, é toda igual dentro das restrições que criou: paredes, razão, cepticismo, ciência. Quando quem passa hoje fome vir suprimida essa necessidade, a seu tempo chegará às preocupações estéticas – absurdo, grotesco, é a coexistência destas duas realidades no mesmo espaço físico.
Os homens chegaram até hoje recostados no progresso que o futuro foi conquistando. Progresso científico, matemático, tecnológico, civilizacional – social, diz-se. O homem está farto de cultivar jardim atrás de jardim, passeia-se nesses jardins, inventou hierarquias dentro desses jardins e figuras místicas para justificarem a sua existência e, nesse jardim, ignora-se a si acima de tudo. Há um conto oriental que diz que os deuses tiveram de esconder a Natureza divina do Homem perante o próprio. Não a enterraram, porque adivinharam que, nas suas buscas, não ficaria pedra sobre pedra. Não a esconderam no mar, porque também aí eles haviam de a procurar. De facto, o Homem tentou justificá-la como sendo o centro do universo, o que não é, ou criação suprema de uma divindade única (será?). Então, ironicamente, esconderam a divindade humana no interior do próprio Homem, onde tiveram a certeza de que este não a iria procurar.
A civilização moderna, global, mas especialmente ocidental, prega os valores da colectividade, mas desenvolve-se sob o signo do individualismo e da competição, do isolamento e do orgulho e próprio e realização pessoal. A busca da glória, honra, enriquecimento, é o discurso do Hitler para os alemães, do Bush para os americanos e do Fidel aos cubanos. O Homem quer ficar para a posterioridade – a bem ou a mal, desde que seja recordado. Outra história curiosa sobre o próprio homem, sugere que o mesmo terá previsto a sua própria auto-destruição, às suas próprias mãos e que, assim, terá criado mecanismos que lhe assegurassem um regresso à vida e uma reconquista das dimensões espaciais e temporais. Assim, este pode não ser um primeiro ciclo – uma primeira, única e contínua vida da civilização.
A sociedade actual afasta o Homem da sua Natureza, empurra-o para valores efémeros e supérfluos, e os filósofos sabem que, quanto mais o Homem se afasta da Natureza, menos puro se torna, e mais susceptível fica de ser corrompido pela vaidade, a ostentação e o ócio. A sociedade sussurra-lhe «olha ao teu redor, conquista como os grandes”. A Natureza diz-lhe “olha para dentro de ti e para ti, tão pequeno, tão nada neste universo infinito, e descobre-te nele” – fora de limites espirituais, é evidente.

2009

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