a vida exige que se espere pelo que há de melhor. porquê? porque é que não podemos ser felizes desde o primeiro dia? porque é que a juventude não passa de um estádio curto, desvairado, e com um fim rápido e eminente? porque é que temos que esperar por qualquer coisa mais além, para começarmos a colher frutos? para sermos felizes? para nos sentirmos realizados? porque é que tudo requer tanto esforço? porque é que as pessoas se desperdiçam mutuamente, no presente, para irem encontrar-se lá à frente se, aos vinte anos, faz-se amor três vezes por noite e, aos cinquenta, já é difícil fazê-lo três vezes por semana? porque é que tudo o que é bom está lá à frente, guardado? e porque é que as recompensas só chegam tão tarde... porque é que aspiramos a ser qualquer coisa, e não nos limitamos a sê-la momentaneamente? porque é que alguém tem que experienciar tudo o que há a experienciar, não experienciando nada na realidade, quando podia prender-se a qualquer coisa e elevá-la ao grau de sublime? porque é que coisas superficiais, coisas sobre as quais não há três linhas de pensamento coeso a dizer-se, constituem os degraus que nos levam lá acima? e porque é que, lá em cima, há um patamar pequeno sobre o qual não podemos caminhar muito tempo; ou seja, porque é que a luta dura mais do que a comemoração da vitória? e porque é que a felicidade é um estado temporário, e não véu de seda e envolver-nos constantemente? porque é que, com o tempo, perdemos a voz? porque é que o medo, tantas vezes, é o determinante do nosso caminho? porque é que se acumulam, cada vez mais, momentos no passado aos quais não podemos regressar - traumas, perdas, receios, palavras atiradas ao vento, chegas para lá, desperdício. vida, porque é que há tanto desperdício?
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