9 de abr. de 2012

os homens que fingem amar as mulheres

Hoje chegou-me um pedido curioso de uma mulher que tem, creio, o dobro da minha idade. O problema dela, contudo, podia ser meu ou de qualquer outra mulher. Os homens, que não crescem, são o motivo central. Acontece que esta mulher – que compreendo a cem por centro – está presa num ciclo vicioso. Há um homem (um amigo) com quem se preocupa demasiado. Dizem que nunca a viram tão apaixonada na vida, e afinal o amor não é coisa de adolescentes, pode surgir e pôr doente a mais amadurecida das pessoas. Está apostada em dar-lhe um empurrãozinho para o ajudar a decidir-se mas, simultaneamente, o homem em questão sofre daquela espécie de ambiguidade de que os homens se valem para manter as mulheres cativas, e doentes, em redor deles. É demasiado atencioso. É ciumento. Gravita ao redor dela. Preocupa-se com o seu bem-estar. Recusa-se a dormir no mesmo quarto que ela, numa situação invulgar que o exigiu. Dorme no sofá enquanto ela passa mal no quarto, para garantir que está por perto se ela precisar. Se eu escrevesse isto num romance, ele estaria inevitavelmente apaixonado por ela. Na vida real…? Quem vai entendê-lo? São sintomas de amizade, os ciúmes? 

Eu entendo bem demais, minha cara. Os beijos na mão. Os olhares lascivos. A boca no ouvido a dizer que a deseja (ainda que por palavras menos próprias). Se algum dia o tocar, entendo até que derreta nas mãos dele e que ele pareça derreter nas suas. Mas não pense que o vergou. Não pense que lhe tocou lá dentro… isso são homens que fingem amar as mulheres. Que as metem na gaveta. Que lhes chamam princesas e as equiparam a rainhas e as sentam no colo e jogam um jogo em que as regras oscilam de sedução aberta para um desinteresse insultuoso. São homens que dizem admirar a sua força e que lhe desejam as maiores felicidades, mas que não dão o passo de assumir o lugar de homem notável a seu lado, por muito honrosa que digam que seria essa posição. Prepare-se para danças em que o nariz dele há-de aflorar-lhe o pescoço e elogiar-lhe o perfume do cabelo. Prepare-se para ver, inequivocamente, que a quer nos olhos dele. Quando ele abrir a boca, não se espante se disser que é tudo mentira e que você é que está a atacá-lo com ardis femininos, porque ele sempre a viu como amiga, quase irmã. Há-de querê-la – quando der jeito – e de a mandar embora quando se fartar. Quando a tiver manchado e magoado e quando a tiver destruído. Se ele for dos piorzinhos, é até capaz de o fazer debaixo do seu nariz, provavelmente para testemunhar a sua queda em primeira mão. Ou para a lembrar, com eficácia, de que não é ninguém na vida dele. 

Depois, prepare-se. Vêm as perguntas às quais nunca terá resposta: porque é que ele se preocupava consigo? Porque é que lhe sorriu naquela situação específica? Porque é que disse desejá-la se garantia, igualmente, que lhe era uma amiga preciosa? Prepare-se para a disparidade de argumentos, para a irracionalidade do jogo, quando tiver todas as peças na mão. Um conselho? Desista do puzzle. Deite-o fora. Ponha-o fora de vista. Acostume-se ao facto de que a vida não faz sentido e faça figas para que, da próxima vez que se apaixonar estupidamente, para que da próxima vez que deseje estupidamente alguém, e ele lhe diga que a deseja de volta, se trate de um homem com H grande que distinga amizade de sentimentos amorosos. E que meta o que é físico no saco da segunda. E que seja suficientemente seguro de si para não a magoar mesmo que seja tentado a isso, só para ver os estragos que ainda é capaz de causar. Simultaneamente, fiquei assombrada por descobrir que, aos 40 e tal, os homens ainda se prestam a estes jogos de avanços e recuos. Metam a cabeça no lugar. Se é a mulher forte, inteligente e corajosa que dizem que é, meta-o a ele na gaveta. Siga em frente. Pegue fogo ao quarto onde o deixou na cómoda.

Atenciosamente,

Da mulher que odeia os homens.

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