ontem, de madrugada, fui acordada pela luz do modem. foi a primeira vez que fui acordada pela luz azulada do modem. estava virada para a parede e a presença física do modem a violar o escuro da noite chamou-me. ainda não sei explicar - já tentei, mas não consigo - o porquê de, ao voltar-me para essa luz para identificar aquilo que me roubou à paz do sono, ter recebido uma estocada no peito. a saudade ecoou tão alto na minha cabeça que, por um momento, fiquei petrificada, estupidificada, por o modem ter passado para segundo plano na minha insónia, na minha consciência ainda trôpega e, de repente, só existir essa saudade. essa porta fechada. esses braços estendidos para o nada. uma dor tão forte que me pus a soluçar. sem motivo aparente, com o peso da ausência nas minhas costas. não posso contar os dias. não posso fazer-me isso. foi um aperto, uma angústia, um vazio tão grande e enorme que, se o mundo for infinito, eu seria infinitamente um nada só nele. apetece-me estender as mãos nesse nada e puxar-te para mim. na violência desse gesto, as lágrimas brotariam com naturalidade. não há palavras, foram todas usadas e mal empregues. não posso perdoar-te. a dor foi maior do que a de morrer e voltar. não voltei. fiquei no limbo. estou no limbo. a história é pior do que eu penso - paira ao meu redor, sussurra-me. eu não quero ouvir. só de porta fechada posso manter os ruídos longe. as intrigas. os novos pontos que me afundam ainda mais, só não querendo saber posso manter-me à tona. só assim posso abrir a boca em vão para respirar. não que haja ar mas, submersa, teria os pulmões invadidos por água salgada.
a história é tão feia que só um clarão como o de nagasaki lhe conferiria luz.
estou a secar. quero o fim da estrada. quero tanto o fim da estrada...
Nenhum comentário:
Postar um comentário