8 de jun. de 2012

prova de fé


Finalmente fiquei nua. Fiquei despida. Que nudez inesperada esta, em que me vi pela primeira vez. Vi quem eu sou, triunfos e perdas, orgulhos e vergonhas. Mais do que isso, porque suspeito que sempre me conheci desconfortavelmente bem demais, agora posso ser eu. Sinto-me no auge daquilo que posso ser, isto é; a energia está toda cá. É tão novo poder ser eu – e não ter outra motivação que não a de fazer-me feliz -, que me julgo meio ébria perante as possibilidades. Algo tão novo e tão promissor que os meus dias desenrolam-se com uma tolerância saudável do passado e estendem-se perante mim com um optimismo sem precedentes. Parece que sou uma mulher de desafios, de aventuras, de grandes caminhadas, de grandes gargalhadas, de orientação e de ar puro e natureza. Sempre desconfiei... e só nos últimos meses pude começar a ser isso, que sempre trouxe cá dentro...


A cada vez que me recordo do que fiz, do que fizemos… de onde temos ido, dos desafios que temos ultrapassado, na vida e no campo! Noites sem dormir, faróis de madrugada e serras a escalar… tenho tanto orgulho, tanto amor por mim e por vocês. A coragem é uma coisa bonita. O amor é uma coisa ainda mais bonita. Com o espírito leve e um sorriso nos lábios, eu vou continuar. Vou, passo a passo, a outros lugares. Começo por aqui – sou pequena e os meus braços abarcam pouco. Quero correr o mundo, talvez fosse esse, acima de todos, o meu compromisso com esta vida. Conhecer o mundo e reportá-lo em diários, romances, pequenos textos. E há a arte – a pintura e a fotografia, embora só considere que tenha jeito para a segunda, mas a primeira dá-me igualmente prazer e por isso não abdico dela -, a permitirem-me escapes contínuos para essa alegria sólida, essa felicidade que vem com brisas e fragrâncias diferentes…

Oh, eu quero ver flores que nunca vi... acariciar o tronco de árvores em que nunca toquei... eu quero ver o mar de muitos ângulos diferentes...
Eu quero lanchar no topo das Serras todas deste país.
Eu quero partilhar a minha água convosco e beber do vosso cantil quando a minha acabar.

Eu quero guardar cada lugar novo cá dentro, os vossos sorrisos e as nossas brincadeiras, o nosso humor negro e a nossa fé cega umas nas outras. É engraçado ver o mundo a duvidar. É engraçado vê-lo acenar negativamente – porque não sabe, não -, nós sabemos. Não há nada de mal aqui. Não há ninguém a trair-se aqui. Não… não abanes a cabeça, eu sei do que falo.

Quero estar lá para vos içar para o bloco de calcário maior. Quero a vossa mão estendida para me içar.
Quero abraçar-vos e pular convosco quando, finalmente, depois de cinco horas de caminhada, a capela surgir…

No final disso tudo, quero que façamos ainda uma última coisa juntas: que juntemos os nossos conhecimentos, que os mesmos convirjam. Que uma saiba que é possível fazer-se um truque para pôr um carro praticamente sem bateria a funcionar. Que outra se lembre de o empurrar. Que outra se lembre de apoiar os pés na árvore para impulsionar o carro e que outra, quando a árvore ficar para trás, se lembre de estender um ramo no chão que nos contenha igualmente os pés.


A vida é uma prova de fé, e muitas vezes será difícil acreditar. Mais difícil ainda é acreditar - em algo que não se vê -, e amar incondicionalmente. De alguma forma... conseguimos isso. E ultimamente temos esperado tanto de bom de pessoas tão promissoras, em quem depositámos tanto... e perdemo-las, perderam-nos, afinal eram outras histórias, afinal não estavam escritos no nosso percurso... Afinal o mundo só as enviou para que cresçamos mais fortes e mais unidas. Não deixo de me espantar quando me sinto a duvidar e de repente a pessoa, com um sorriso irónico e um encolher de ombros, me faz acreditar de novo. Até hoje, só vocês conseguiram isso... surpreender sempre pelo melhor.


Companheiras de luta para aventuras futuras...


Vida afora, desafios afora...


Amo-vos tanto… ‘bora viajar pelas estradas da vida adiante, viajando lado a lado, numa viagem que não tem como correr mal…

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