4 de jul. de 2012

brilhos ocultos

Finalmente estou a tornar-me aquilo que sempre deveria ter sido. Longe dos sonhos da infância, das infantilidades. A alquimia em mim mistura tolerância com firmeza, irresponsabilidade com sorte, falhanços com alegria natural. Gosto que gostem de mim, coisa que não fazia questão anteriormente. Tinha receio que se prendessem a mim, que me prendessem a si. Agora flutuo nessas correntes, afrouxo-as e cinjo-as conforme me apetece. Nunca fui tão fiel a mim mesma - ao que quero, aonde vou, o que faço. Nunca ri tanto e tão genuinamente. Nunca estive tão completa, tão preenchida, tão activa. Nunca tive tanto orgulho em mim mesma, na C. que sai da cama às 06:00, toma banho, engole um pequeno-almoço à pressa, corre avenida acima até ao banco, não esmurra a máquina que não funciona e corre avenida abaixo ao sabor da The Arrival of the Birds, da Cinematic Orchestra. Tenho uma simpatia nova por esta jovem mulher - de cabelo indomável, Jesus! - que agora sou, esta mulher que mete o instrutor de condução de bom humor às sete da manhã, e que descobre que talvez conduza melhor do que muitos homens. Estou satisfeita por ter os pés na terra quando nunca fui tão admirada - nunca tive tantas atenções masculinas e, curiosamente, nunca estive tão bem sozinha. Sem ânsias, sem vontade de partilhar seja o que for com o sexo oposto.  Gosto, sim, gosto muito, desta rapariga de 22 anos que pede um pão com manteiga ao balcão daquela que considera a melhor pastelaria de Almada - tartelettes de limão, tarte de lima, fofo de chocolate, éclairsdonuts, semifrio de bolacha, queijadas... - Um pão com manteiga, por favor. Nunca tive a vida tão excepcionalmente organizada.


E tenho passeado tanto e descoberto tantas coisas, convivido tanto com pessoas magníficas, notáveis, amorosas, de alma e coração puros... Julguei que essas se tivessem esgotado, apenas porque todas as que julguei de bem resvalaram para o outro lado. As pessoas são capazes de tanta coisa... São capazes de sorrir àqueles que, sabem de antemão, se preparam para abocanhar... Lobos, o mundo está cheio de lobos. Mentirosos, manipuladores, dissimulados. Mas os castelos de cartas hão de cair e eu, nas entrelinhas, estou tomada de paz. As minha cartas repousam, tranquilamente, na sua caixinha de madeira. Respeito-as demasiado para lhes fazer mais perguntas agora que já me deram todas as respostas. A minha carta, a cada vez que a minha avó perguntava pelo meu futuro ou que eu mesma o fazia, era a XVII - A Estrela. Entrega, amor puro, desapego e, no inverso, tristeza. A cada vez que alguém perguntou, a respeito da minha felicidade futura, ou eu mesma o indaguei, a Estrela virou-se e fitou-me. Tristeza. Agora deixou de sair essa carta, tem saído outra a meu respeito. A tristeza já passou. Não vou voltar a perguntar se serei feliz, pelo simples motivo que não se incomoda as cartas com perguntas cuja resposta já conhecemos. E eu sei, oh se sei, a resposta a essa pergunta.

Eu serei estupidamente feliz, porque o bater das minhas asas mudou abruptamente de rumo... a minha carta nova é a III - A Imperatriz, força, realização, sabedoria, beleza (interior, espero). Gosto do facto de, nos baralhos tradicionais, ser representada com uma serpente - o meu animal do zodíaco chinês, a própria personificação animal da mulher. No meu baralho das Mil e Uma Noites,  a carta é qualquer coisa de majestosa. E eu continuo a acreditar em brilhos ocultos, sob o manto exterior...

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