11 de fev. de 2011

fluidez líquida

não sei se sabes que... pergunto-me demasiada coisa, penso demais. critico-me por pensar de mais e movo o céu e a terra por pensar de menos. no entanto, quando não penso, é como se estivesse de férias de mim mesma. mais tarde, quando volto a pensar, parece que o mundo, eu, como autómato, continuou a andar, eu continuei a mover-me e, no entanto, não sei como cheguei aqui, como tomei decisões, como escolhi caminhos, como tive tais pensamentos, como disse aquelas coisas. depois, quando uma pequena coisa me obriga a voltar a mim, a pensar, logo, a existir - uma canção, um verso, uma pequena coisa que fez sentido lá atrás e que me faz lembrar de ti, dos planos que tinha para nós - fico neste estado de incapacidade motora. parece que, se antes estava desligada, agora estou parada. que hei eu de fazer? não sou eu ficar de braços cruzados, tive de sê-lo. recuperar os pensamentos custa demais. quando não penso não sou genuinamente feliz, mas sorrio, quando não penso, não sofro. quero tanto fugir ao sal das lágrimas, que me convenço que está tudo bem como está, que tudo é como tem de ser, eu de luzes apagadas, eu em silêncio, a viver somente, ainda que a minha alma paire algures, de férias do meu corpo, que continua a comparecer aos lugares do costume. quero tanto convencer-me de que isto não é tudo, de que o mundo tem mais, de que existem alternativas àquilo que julgava único... fico confusa, tão confusa que páro o mundo e ponho-me à escuta. sento-me a observar, a dissecar, a analisar. os pensamentos como enxorrada, e eu inundada deles, submergida neles, tantas vezes afogada, levada na onda, por eles. não quero voltar aos sítios onde estive nem a sentir o que senti. não é que tenha deixado de sentir, é só que, por alguns dias, semanas, fiz por esquecer, fiz por calar, silenciei e continuei a andar. detesto que as coisas se desfaçam perante os meus olhos e, no instante em que as deito no caixote do lixo, ouvi-las reacordar, remexer-se, exigir que volte a pô-las no lugar certo. ainda não morreu, ainda não foi desta. volto a pegá-las, com carinho e paciência redobrada. contemplo-as exasperada, suspiro: por favor, não voltem ao mesmo, suplico, não sei até quando terei forças para manter a rotina do cai e levanta. o mundo das coisas físicas dói demais, pesa demais, querer e não ter, ter a força mas não poder correr para elas, estão vedadas, sob paredes invisíveis, mas sólidas, e não posso alcançá-las, não reino sobre as forças inexplicáveis do mundo, não possuo magia em mim. no entanto, quero-as tanto que o meu peito respira na sua direcção, estendo-lhes a mão, danço sozinha na escuridão e imagino-as a envolver-me, a abraçar-me, fluidez líquida, paixão que arde na pele, amor que dói na alma. querer tanto até não poder mais, por não haver mais a querer, esgoto as possibilidades na imaginação, esmoreço com tanta hesitação, tanta repetição, tanta inexactidão. os teus dedos, as tuas pestanas, a tua existência física perante mim, a tua alma a reluzir, a dançar também dentro de ti, o teu cheiro, que recordo, o teu espírito, que adoro, os nossos duelos invisíveis, audíveis, intermináveis. a tua pele... por deus, a tua pele, a palma da tua mão... fico doente só de imaginar a tua mão quente, suada a abrir-se para a minha, trémula. fico doente só de imaginar que existes, e que ao menos isso não inventei.

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