10 de jan. de 2011

1755

Este vai ser o romance que vai demorar 10 anos a ser escrito. Tem que ser perfeito.

(Sé de Lisboa antes do terramoto)
 - Estavam desorganizados, crânios ao lado de tíbias, ao lado de ossos longos, pensa-se que foram encontrados assim antes de ser sepultados; mais a fundo há sepulturas de monges que já viviam no convento antes de 1755; os restos mortais foram levados para ali, de fetos, velhos, grávidas, mistura anárquica. A seguir à catástrofe natural seguiu-se uma crise humana, dias de anarquia, de violência, de anomia e agnosticismo. O Duque de Lafões mandou enforcar 34 homens em poucos dias. Muitos fugiram de Lisboa, quem ficou enfrentou doença e fome. Armazéns foram destruídos, ao que se seguiu interrupção de abastecimentos devido ao fecho dos portos e fome generalizada que levou a actos impensáveis - um cão mordeu de tal modo a perna de uma criança que o osso demonstra o buraco do canino do bicho. Houve casos de canibalismo, com os ossos denunciando cortes de facas. Através da observação dos dentes, soube-se que os lisboetas de 700 tinham deficiências alimentares e falta de vitamina D – peixe, leite, carne. De 1099 dentes encontrados, só 179 apresentavam cáries, o que significa que apenas estes tinham dinheiro para açúcar. Os dentes estragavam-se devido à dureza dos alimentos. As dentições queimadas durante a catástrofe revelam temperaturas de mais de 1000 graus durante o fogo. Na sepultura havia botões ricos e outros mais pobres, dado de osso, um dente de javali (amuleto), colchetes, uma fivela, pedaços de cachimbos ingleses e holandeses, pedaços de tecido. A maioria destas vítimas são do Vale de Alcântara. Moedas de coloração alterada indicam que os proprietários estiveram em contacto com a água do Tejo – vítimas do tsunami;

- «Tal aconteceu a 1 de Novembro de 1755, dia de Todos-os-Santos, às 10 horas da manhã quando o povo estava quase todo reunido nas igrejas, e um incêndio devastador tornou a derrocada dos palácios e casas ainda mais horrível e muitos 1000 homens encontraram nas casa e nas pedras que caíam na sua sepultura. Os gemidos dos esmagados e o choro das crianças e dos desamparados era tão deplorável que não há pena que o consiga descrever, a maior parte dos edifícios públicos sofreu, o palácio real nº1, a alfândega 2 e a zona de barcos3. De acordo com um provérbio os Portugueses tinham por hábito dizer que Deus daria casa em Lisboa a quem Ele amasse. Entretanto Deus os avisou assim como a todos os homens, através do terramoto, do seu poder e força, que o reconhecessem e fizessem penitência e que levassem  uma vida piedosa que Deus nos quererá dar a todos através da sua Graça.”

- O Terramoto de 1755 é considerado o maior dos sismos de que há notícia histórica (in “1755- O grande terramoto de Lisboa”, vol.I; FLAD, ed.Público, 2005). E foi sentido para lá de Lisboa : no Algarve, e depois no sul de Espanha e Marrocos, tal  como nos Açores e na Madeira e por quase toda a Europa.
E a pesquisa continuará...

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