12 de jan. de 2011

when I fall in love, it will be forever II

(para compreender, é favor ouvir a canção no final do texto)
estrelas e borboletas. as mãos ainda tremem, os joelhos ainda dobram. ainda disseco as memórias, os lapsos no tempo, o que deveria ter dito, o que deveria ter feito, como substâncias de felicidade que duram, e perduram, e que manipulo para poder sorrir, para poder sonhar, para suspirar, para me apoiar na ombreira da porta a imaginar. in a restless world like this is, love is ended before it's begun, and too many moonlight kisses, seem to cool in the warmth of the sun... a lua a pairar lá em cima, as sombras da natureza, das árvores, a sua quietude, flores por todo o lado, beleza em toda a parte, e eu como espectadora, e a textura das coisas, a textura dos dias, a fluidez das horas, a tua pele, meu amor, a tua pele, o calor que emana da tua pele... e os romances, empilhados a meu lado, na cama, os títulos, as expectativas, os copos de água vazios, as brisas, os golpes de ar que, quando desço de um transporte, quando abro uma porta, te trazem, em fragrância, até mim, como se a tua essência pairasse ao meu redor, constantemente, meu amor omnipresente. e o que faço realmente, sem ser pensar em ti? sem ser alimentar-me dessas lembranças, apoiar-me em ombreiras, manipular recordações e dedicar-te poemas? que tenho feito eu, desde que te conheci, sem ser flutuar, divagar, existir em sonhos, em planos, em momentos vãos, fugidios, que algures lá atrás consegui roubar à ordem rígida das coisas? que tenho eu feito, sem ser impregnar-me de ti, embebedar-me contigo, com a tua pele, meu amor, com o teu sorriso, quando tenho eu sido feliz, se não quando estou contigo? tenho eu vivido, pergunto-me... tenho eu caminhado, tenho eu tocado a terra com os pés, ao menos com os pés, tenho estado um bocadinho cá por baixo? não... não tenho, até os pés estão aí em cima, por entre borboletas, estrelas, algodão doce, maçãs do amor, vou cantar-te nesta feira, vou puxar-te pela mão até aos peluches, vou saltar, bater palmas, sorrir, e nada disso será suficiente mas, meu amor, a tua pele estará lá, o teu cheiro estará lá, algures dentro de ti, eternamente imperturbável, a tua alma estará lá, e a minha é mais quando está contigo, é mais quando te vê, quando existimos juntos. When I give my heart it will be completely... or I'll never give my heart... vou obrigar-te a dançar comigo, vou-te obrigar a levar-me ao circo, à ópera, a ballets e a planaltos, e a admirares a beleza de tudo comigo, mesmo que nem eu, nem tu, sejamos capazes de compreendê-la. Vou acordar-te com abraços e beijos, vou arrastar-me para a janela e vou admirar o que quer que seja que haja lá fora, vou agradecer às pedras, ao cascalho, às bétulas, o estares ali comigo. Não, não estou doida, mas a verdade é que... em pensamentos, temos sido muito um para o outro. Ontem por exemplo, levaste-me a dançar naquele rectângulo de sol, no Cais do Sodré, e eu cantava-te when I fall in love, it will be forever ao ouvido, e tu não te importavas, as minhas palavras não te doíam nem te incomodavam, continuavas a embalar-me. Rias, é claro que rias, como saberias ficar sério nessa situação? Gosto de rir contigo, gosto quando ris de mim, gosto quando rio de ti, gosto quando nos encontramos no meio, à nossa maneira, e nos desculpamos mutuamente. Não, não estou doida, foi em pensamentos, em sonhos, que isto aconteceu - mas aconteceu, e eu fui feliz. Uma vez, por exemplo, algures lá à frente (porque eu já desenhei todo um novo passado e um novo futuro), repreendeste-me por comer demasiados chocolates, abanaste negativamente a cabeça, chamaste-me de «maluca», e eu gosto, gosto quando me chamas de maluca mas continuas a meu lado: quer dizer que, sendo o que sou, continuas ali. A tua pele..., meu amor, tem-me atormentado nas horas mortas. Não é que eu queira, às vezes vou no barco e resgato uma memória nossa, embelezo-a, pulvilho-a com as tais borboletas, e sou feliz a reajustá-la, ao sol do final de tarde ou perante as luzes da cidade. Mas, tantas outras vezes, és tu que entras por mim a dentro, como se a minha porta estivesse aberta, ou tu tivesses a chave, e fossemos vizinhos, e viesses pedir açúcar ou ovos, e quero pedir-te delicadamente que saias, que feches a porta ao sair, e sei que depois volto a ficar vazia, fria, nua por dentro, sem ti que és toda a minha vida. Mas esses vapores coloridos, essa matéria dos sonhos de que és composto, circula em mim, como disse, sopra sobre os meus lençóis, os teus pés descalços, meu amor, deixam pegadas na poeira que sou eu, desde que não vivo, desde que encontrei refúgio na criatividade e liberdade infinitas dos sonhos contigo. Caminhas por mim, dormes em mim, sonhas com outra coisa que não comigo em mim, sais sem fechar as janelas, sem fechar as portas, deixas as pegadas, o teu fôlego sobre os lençóis que me cobrem, eu imóvel, eu como chão, paredes e tecto, eu muda, eu a recear que, se abrir a boca... te vás e não voltes. E és muito, muito mais do que um homem, do que um ser concreto aí, és somente uma brisa, sem rosto, uma luzinha, com contornos humanos, és simultaneamente vida e morte, és homem e és o meu entendimento como mulher, és humano e divino, és aprendiz e mestre, és metade sonho, metade invenção, metade realidade - és três metades, meu amor, a quarta metade é mistério, és quatro metades de quartos de ser, és tanto, mais que tantos. Meu amor, essa tua pele... esses teus pés descalços, a tua voz, o teu reflexo nos meus espelhos, e tu que não me vês, paredes que sou, tecto que sou, chão que pisas...

Um comentário:

  1. "E és muito, muito mais do que um homem, do que um ser concreto aí, és somente uma brisa, sem rosto, uma luzinha, com contornos humanos, és simultaneamente vida e morte, és homem e és o meu entendimento como mulher, és humano e divino, és aprendiz e mestre, és metade sonho, metade invenção, metade realidade - és três metades, meu amor, a quarta metade é mistério, és quatro metades de quartos de ser, és tanto, mais que tantos. " LINDO

    P.S. - só devia aí estar a versão do NKC.

    Estás cada vez melhor Célie

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