só para que saibas que, algum ano, terá que ser O ano. algum ano terá que ser aquele em vais pôr em prática os teus planos. li algures que o dia 24 de janeiro é o mais deprimente do calendário, anualmente. os motivos prendiam-se com inúmeros factores: chegam as contas do que gastámos em dezembro, serão debitadas dos cartões de crédito, está chuva, frio, baixo nível de insolação e, para mim o principal: já nos apercebemos que 2011 será um ano igual a todos os outros, não vamos mudar nada, as promessas saíram furadas, os planos foram quimeras. ou seja: ainda não é este ano. porque não? algum ano terá que ser o ano: o primeiro ano do resto das nossas vidas. o ano em que começas aquela dieta, o ano em que começo a engordar, a acordar cedo. o ano em que plantas o tal jardim, o ano em assumes coisas permanentes que sempre te pareceram maiores que as tuas pernas. o ano em que começas a enfrentar os teus medos, o ano em que começas a falar de ti, dos teus receios, o primeiro ano dos teus desabafos, se és calado, o primeiro dos silêncios, se sempre te contaste a todos. o ano em que começas a apontar os teus compromissos numa agenda, o ano em que passo a lavar a loiça, a engomar roupa. algum ano será o primeiro em que começarás a deitar-te a horas decentes. o primeiro em que passas a frequentar o teatro, a ópera. o primeiro ano em que te diriges às urnas e abandonas as descrenças e a apreensão face a ir votar. algum ano será aquele em que deixarás de beber, em que deixaremos de fumar, em que começaremos a viver o primeiro ano do resto da nossa existência. algum ano será aquele em que te tornarás a pessoa que queres ser mas que, chegado ao dia 24, já te apercebeste que está tudo igual, que mudaste de ideias, que não tiveste força para levá-las a bom porto, que voltaste a recostar-te em quem foste até 2010. algum ano terá um dia 24 realizado, com perspectivas e objectivos a desenharem-se para a posterioridade, encaminhados. nalgum 24 estarás sóbrio, de agenda na mão e a ler aquele livro que fizeste emergir da pilha de jornais ou revistas cor-de-rosa milhentas vezes, e relativamente ao qual nunca tiveste iniciativa. algum ano será aquele em que vais ganhar o hábito de desligar a televisão às refeições ou, simplesmente, a deixar de comê-las em cima do computador, ao som da tua música. algum ano será aquele em que vais deitar fora as tuas t-shirts da adolescência, os teus cromos da bola ou da barbie, em que vais selar a tua caixinha das recordações. algum ano será o primeiro em que iniciaste aquela nova rotina de viagens anuais, aquela nova rotina de correr de manhã, em que mataste a velha rotina de comer pizza quando não te apetece cozinhar ou de evitar o rastreio de saúde anual. algum ano terá de ser o tal. num destes anos terás de abdicar do que foste em prol do que queres ser, num destes anos terás mesmo de fazê-lo; nem todos os anos da eternidade estão à tua disposição. algum dia terás de largar-te dos vícios, sair da tua zona de conforto, cumprir as juras que fazes a ti próprio, e não te conformes com a desilusão de não seres capaz de abraçar um novo «eu», desconforma-te, revolta-te. hoje disseram-me que, quando falhas em algo, e sabes que antigamente costumavas chorar sobre o erro cometido, é errado deixares de chorar, é como se te tivesses habituado ao ser falível que te tornaste, estás a dar-te descontos, a exigir menos de ti - és um conformado. por isso, chora, rebela-te contra os teus próprios lugares-comuns, escolhe este ano para ser O ano. compra um cão, faz o tal interail, mete a tal mochila às costas, dá um passo à frente e vai aprender a tal língua. passa a ir passear de manhã à praia. não estamos a caminhar para novos. talvez seja este o ano em que compras umas quantas peças de decoração para a tua vida futura, a tua casa para sempre - sejam pessoas, hábitos, novos lugares. algum ano terá de ser O ano. não to prometas para 2012, 2011 está sob os teus pés, escorre-te por entre as mãos.
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