12 de jan. de 2011

códigos de ternura

as noites mal dormidas. vocês de bochechas e óculos de sol. o primeiro dente, a primeira canequinha pintada, a primeira palavra. os vossos narizinhos, os vossos pezinhos gorduchinhos. a vossa mãozinha, com covinhas, a tocar no rosto de alguém, o vosso queixinho a projectar-se em gargalhadas, as vossas pestanas húmidas de lágrimas, a vossa carinha contorcida de incompreensão, os vossos cabelinhos pequenos, ralos, suaves como seda, encaracolados. o odor da vossa pele, tão característico, ainda assim, único. os estragos, os armários assaltados, as escadas com protecções, as roupas a deixar de servir, os sapatos a serem dados ainda novos, as vossas barriguinhas gordas, a planta do vosso pé, redonda, a dificultar-vos o equilíbrio. a minha mão na vossa durante os primeiros passos, a minha mão na vossa, até que comecem a enfrentar a vida por vocês mesmos. as birras sobre o deitar cedo, o dedinho no ar a anunciar a vossa idade, depois outro, depois outro, depois as palavras a porem para trás estes códigos de ternura. o móbil sobre o vosso berço, com animaizinhos a girar, de avião, a cavalo, peixinhos a pairar sobre a vossa cabecinha, ao alcance das vossas mãos, quando adormecerem. as rendinhas, as fraldinhas, os vossos nomes, meu deus, os vossos nomes, e o meu no meio, por entre os nomes dos amores da minha vida. a vossa letra, quando conseguirem assinar o vosso nome, os vossos desenhos de casas, quintas, vocês a assistirem a um filme, a colocarem perguntas difíceis, vocês a correrem pela casa, a arrastar copos com as toalhas, a molharem a casa de banho ao tomar banho, meus piratas, a traças com os dedos figuras nos espelhos embaciados, a dormir na vossa cadeirinha, no banco de trás, a esgueirar-se para a minha cama a meio da noite, ao meu colo, enquanto vos aponto a lua e as estrelas em noites de verão, ao meu colo enquanto adormecem, o meu indicador do comprimento do diâmetro da vossa mão preso nos vossos dedinhos. as fotografias sobre os móveis, nas paredes, nas portas do frigorífico. vocês sob a palma da minha mão, o rosto no meu ombro, enquanto danço algum clássico tarde na noite, para vos adormecer, vocês sentados na cadeirinha, a torturar a mesa de plástico com a colher enquanto a sopa não aquece, vocês a cuspi-la para a minha blusa quando faltam cinco minutos para sair de casa... vocês a querer mexer em tudo - no fogão, nos telemóveis, nos computadores, vocês a puxar o rabo ao cão ou a tentar sufocar o gato ou a tentar meter os dedinhos nalguma tomada. vocês, a gatinhar, a cabeça a pesar e a adormecerem de cansaço sobre o cobertor, vocês sentados no chão, a arrastarem-se pela fralda, a tentar seguir-me por todo o lado enquanto tento impôr alguma ordem no ambiente... vocês a recusarem-se a por o chapéu antes de ir à praia, a lavarem a mancha branca do protector das vossas barrigas na água do mar assim que lá chegarmos, vocês a pular sobre as ondas, vocês a cair, a esfolar os joelhos, a arranhar o nariz, a engolir água salgada, a querer queixar-se de alguém, de todos, do mundo, vocês, com o ranho a precisar de ser assoado, os rostinhos sujos de terra, de suor, os cabelos empapados colados à testa, as mãos peganhentas do lanche, abertas para mim, vocês, a tropeçar nos passos, a ficar mais irritados, e a gritar enquanto se aproximam, os meus olhos nos vossos, os vossos talvez iguais aos meus, os vossos dentinhos pequeninos num esgar de dor, de indignação, de injustiça, de sono... vocês de braços abertos a correr na minha direcção, e eu de braços abertos para vos receber. vocês a gritar... «mãe».



quero tanto...
no momento certo,
com a pessoa certa.


my little lamb, my little monkey and my little bee.

Nenhum comentário:

Postar um comentário