Estamos deitadas entre a minha avó e o meu avô, enquanto eles vêm televisão. Os cobertores entopem-me o nariz e a respiração, na brincadeira, digo:
- Não sei se vou sobreviver a esta noite, por causa da alergia...
A minha avó hoje foi fortemente convencida por mim e pela Cláudia a comprar uma família de bonecos à nossa irmã mais nova, há uma mãe, um pai e um casal de crianças, empilhados num tubo mais alto que ela. A Ana ficou radiante e a avó ficou verde, diz que ainda não é Natal. Contudo, ao chegar a casa, fez questão de dizer que o mérito da compra é dela. Ao que eu e a Cláudia insistimos que ela apenas financiou.
A Ana está sobre mim, beija-me, beijo a pele suave dela e digo disparates só para irritar a avó:
- Pipz não gostes da velha, ela não te queria dar os bonecos, eu e a Cláudia é que chorámos lá no supermercado para ela trazer, e olha, bateu-nos à frente de toda a gente, mas eu e a Cláudia lutámos tantooo, tantooo, que ela teve de deixar-nos trazer os bonecos para ti!
A avó, ali ao lado, vai fingindo dar palmadas a mim e a ela:
- Isso, a miúda qualquer dia tem uma ideia de mim... Olha Ana a tua irmã é uma falsa, este Natal só te dou prendas a ti.
- Isso é que não! - Diz a Ana, com o dedo no ar - Então eu quando for grande e tiver dinheiro só dou prendas à Célia.
E deixa-se cair para cima de mim, rimos as duas, o avô, que é meio surdo, tenta perceber, e a avó, fingindo-se de indignada, empurra um dedo contra os lábios da Ana e diz:
- Olha então chupa aqui daqui para a frente, não vês mais prendas minhas!
E eu digo:
- Dá uma dentada no dedo da velha, Ana!!!
E a Ana, empoleirando-se como se estivesse a cavalo numa das pernas da avó, afasta o tecido das calças e inclina a cabeça até lhe tocar quase no joelho com o rosto:
- Não, mordo na perna que deve doer mais!
E pum.
21 Outubro 2010
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