16 de nov. de 2010

se cairmos, o que fomos afinal?

Vou deixar de ligar a televisão para ouvir falar da maldade e da loucura do Homem, ou da decadência da natureza. Tenho que parar de pôr-me questões se seremos nós os culpados, ou se os biliões que somos são insignificantes para alterarmos as condições na terra – verdade seja dita, li algures que se todos os chineses saltassem ao mesmo tempo a rota terrestre seria alterada milimetricamente, o que é qualquer coisa, quando nem quase 11 milhões de portugueses a gritar ao mesmo tempo conseguem alterar o governo deste país. Já o tsunami de 2004, devido à deslocação das placas tectónicas na Indonésia, levou à diminuição do tempo de rotação, pelo que agora o dia tem, na realidade, 23h57 minutos – roubou-nos 3 minutos, uma vez que a terra gira em função da sua própria massa, a libertação desta energia foi o suficiente para tocar deste modo o planeta. É, tenho que deixar de tomar consciência dos fanatismos de hoje em dia, dou comigo espantada e sou uma pessoa que gosta de considerar-se de mente aberta: tantas atrocidades a acontecer a nível mundial, os governos com os seus protocolos a afundarem o ambiente, as pessoas com eles a considerar que se o governo não se preocupa, porque é que o pobre infeliz uno que é o indivíduo há-de preocupar-se demais? Ou seja, se o governo é ignorante, porque devemos dar-nos ao trabalho de pensar? Vamos continuar a ignorar os pequenos gestos que nos competem e que, multiplicados por biliões – excepto aqueles que nem saneamento básico ou alimentação adequada têm – podiam fazer a diferença. Fechas a torneira quando lavas os dentes? Desligas os aparelhos eléctricos de casa à noite? Metes a máquina de lavar roupa a funcionar no período energético aconselhado, ou seja, à noite, uma vez que a energia eléctrica nas centrais hidroeléctricas se acumula a nessa altura e, quando não tem vazão possível, perde-se simplesmente? És daqueles que não dispensa o carro para ir para o trabalho e vai sozinho, mergulhando na multidão de inconscientes (nem sempre é possível agrupar-nos, mas ao menos tentaste? Sabes se o vizinho vai na mesma direcção?) que me chocaram naquele anúncio da Galp com a canção «Mad World» dada a conhecer pelo filme Donnie Darko, esse sim sobre desequilíbrios mentais? Tens facilidade em caminhar na rua sem te perguntar sobre o futuro do planeta? Não te importa realmente que a humanidade, se chegar a um fim, nunca chegue a tomar consciência da sua História, nunca saiba o que foi e qual o seu papel nos desígnios do universo e, com isto, qual o teu papel nela? Creio que actualmente se vêm ao mundo explorar os recursos existentes, já ninguém dá nada em troca, um filho que fosse começa a ser embaraçoso, o ideal é tirar o máximo possível – também eu quero um emprego para mim, que me importa aqueles a quem os caminhos lhes são vedados? Uma casa bonita para mim, uma torneira de água quente para mim para correr enquanto me lavo livremente, um carro só para eu ir para o trabalho a ouvir a música que quiser sem que me chateiem, um casaco de peles (se não o vestir eu, veste-o outra) ir à tourada ao Domingo (é tradição) e ao futebol sempre que houver histerismo colectivo e sobretudo masculino em torno do jogo, porque é assunto que mobiliza multidões. Se a humanidade cair, se o planeta escorregar para o buraco de onde veio, vamos abrigar-nos nos estádios de futebol. Afinal, chegamos ao século XXI, é das poucas coisas que nos mobiliza, nos toca para o bem e para o mal, e nos faz sentir vivos através das glórias e da riqueza alheias.

Suite for Orchestra and Choir, Cinema Paradiso Soundtrack
12 Maio 2010

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