16 de nov. de 2010

em coro

Lamento sobretudo que, existindo, eu não conheça mais do que uma pessoa que se emocione, estremeça, perante cenas de séries históricas em que rainhas mortas são veladas no interior de catedrais góticas, majestosas, em que a própria banda sonora cria o eco. Se pudesse concretizar desejos, se, os meus pensamentos, ganhassem lugar no mundo real, não creio que me desgastasse a pedir riquezas e grandezas e famas. Ao invés, acho que iria cobrar ao mundo pequenos momentos. Acho que ia querer recriar aquela cena, que me sucedeu uma vez, em que, deitada num sofá, no escuro, me ia deixando envolver pela música que tocava baixinho, como suspiro, como respiração das paredes, como a voz do mundo a falar-nos, e entrou alguém. E esse alguém quedou-se perante a beleza e simplicidade do momento e, em seguida, sentou-se e puxou a minha cabeça para o seu colo. E ali ficou, a ajeitar-me o cabelo, a acariciar-me a fronte, enquanto o nosso silêncio adquiria o estatuto de respeitoso, de reverente. E, no final, abriu então a boca para me fazer sorrir: «que momento tão bonito». Como rainhas de branco, mortas, coroadas, em catedrais góticas com música em coro por trás. Se pudesse, viveria desses momentos, mas não sozinha. Se bem que, por muito vazia que esteja a sala, em solidão não estou. Solidão é outra coisa, não é não estar-se com ninguém, é não se ter ninguém. Viveria então da quietude dos silêncios de apreciação das obras de arte, simplesmente falam comigo.

A Howling Wilderness: the Deat - Trevor Morris (The Tudors 3rd Season soundrack)


 13 Outubro 2010

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