É quando leio Florbela Espanca, ou Sylvia Plath, ou Oscar Wilde, ou mesmo Fernando Pessoa, que eu me entendo como uma dessas pessoas que sofrem de insatisfação crónica. Não é que a felicidade não venha, não é que eu não a agarre, é só que me escapa por entre os dedos - e a mão - sou eu que a abro, por gosto de vê-la escapar-lhe.
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
Florbela Espanca - Lágrimas Ocultas
20 Outubro 2010
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