16 de nov. de 2010

às vezes no silêncio da noite

...bate a melancolia.

bateu a melancolia.

quero um pedaço de papel para encher com a minha letra, quero um luar sobre a minha rua, quero boa música a tocar baixinho, aos meus ouvidos. quero poder dizer tudo o que me passa pela cabeça, só no final do racciocínio está a compreensão. quero ficar livre de medos, e culpas, e condicionamentos pela tradição, pelas minhas próprias convicções. quero conhecer a fundo as pessoas que amo e transformar todas as outras em background noise. quero descobrir o que está depois do ponto final. quero pisar o chão de um mundo onde possa confiar, onde se possa confiar. onde as conversas sejam todas aceitáveis e adequadas e feitas no momento certo sobre os presentes. em que eu deixe de violar estas regras. em que os outros as cumpram por nobreza de carácter. quero um colchão no chão, livros sobre o colchão e um gira discos no canto da divisão. quero noite cerrada, janela aberta e cortinas a ondular na brisa nocturna. quero saber de cor a letra da música de Nat King Cole que há-se soar... They asked me how I knew my true love was true... quero telas em branco para encher de corpos nus, de pastel e de rosa champagne, quero que as minhas mãos não envelheçam, que os meus olhos não deixem de ver, que o meu rosto não se torne irreconhecível com o tempo. quero agarrar essa noite com os cinco sentidos, e mais o sexto, a existir, e que ela não me fuja, que não me fuja a juventude, que não me fuja o tempo, que não me fuja quem amo e quem quero que fique por cá. que não fuja eu, nas asas de um avião um dia, só porque o ar é irrespirável por cá. que não fuja eu, sem retorno, e que, abaixo da varanda desse quarto, madrugada fora, se fale português numa praceta qualquer.

17 Agosto 2010

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