nós dois num refeitório que serve de hall. eu a estranhar o tamanho das cadeiras e da mesa, baixos como eu. tu a sujar os lábios com um croissant de chocolate. nós inclinados, as testas quase a tocar-se, os nossos rostos como espelhos, os teus olhos nos meus, e tu, a dizer: eu às vezes, quando vejo televisão, penso em ti. tenho saudades tuas. e eu a sentir que, de alguma forma, está poesia a tecer-se. se a poesia está a acontecer, não pode ser triste e não pode ser exactamente mau. prefiro acreditar que a vida está a seguir o seu curso.
nós num pátio rodeados de plátanos, com gafanhotos sobre as folhas caídas - é outono - e a escalarem os muros de cal. nós sentados lado a lado no único trecho banhado pelo sol matinal do pátio. os nossos rostos como espelhos, as nossas mãos a tocarem-se ocasionalmente, e tu a fazeres-me pergunta atrás de pergunta. por uma vez, não me aborreço por ter de dar respostas. e como é estranho que as tuas perguntas, os teus receios, façam muito mais sentido do que muitas das coisas que oiço diariamente. dizes-me: eu não durmo, tenho medo de dormir, sonho com uma mãe branca e com um homem a correr atrás de mim. e eu digo-te:
dorme e sonha muito, quando te deitares pensa só em coisas boas. tapa-te bem tapadinho, fecha os olhos e põe-te a pensar naquilo que gostas mais: imagina uma mesa cheia de doces, chocolates, aquilo tudo que gostamos de comer, imagina pela janela uma paisagem linda, imagina que, na televisão, está a dar os teus desenhos animados preferidos. não achas que vale a pena sonhar?
Seja como for, a vida não nos retira a possibilidade de ser felizes em sonhos.
James Horner - Exploring the Florest (The Boy in the Stripped Pyjamas soundtrack)
28 Outubro 2010
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