É como digo, o esplendor de outros tempos vai sempre ofuscar a decadência destes. Com chavalinhos de treze anos a estrelar na MTV e cantoras como aliens a fazer videoclips way ahead our minds. Louis Armstrong, ai, eu sonho com o Louis Armstrong. Sonho com um tempo em que houvesse recantos na cidade onde se tocasse Jazz, e Blues. Provavelmente, sonho com a New Orleans do século passado. Imagino-me numa noite de chuva, à porta de um desses bares com um casaco maior que eu pelos ombros, o trompete a soar algures lá dentro, na sala cheia de fumo que acabei de abandonar. Quem me dera que eu não carregasse metade dos sonhos que tenho, nem dos receios, nem das expectativas, e aí seria mais leve e teria menos reservas. E, o Louis Armstrong, num gesto que devo frisar, não teria nada de romântico, mas sim de homenagem, podia vir buscar-me para dançar à chuva. Como dança a Tiana e o Príncipe Naveen em New Orleans no filme "A Princesa e o Sapo", como dançou a Ginger Rogers em diversos filmes. E, a dada altura, ia até encostar a cabeça no ombro dele. Faz bem imaginar que o mundo possa ser perfeito sem que o corpo que dança connosco seja o do amor da nossa vida. Faz bem imaginar que a vida faça sentido sem as borboletas, e os nervosos miudinhos, e os sorrisos inevitáveis, e os sobressaltos de quem ama. É, venha o Louis Armstrong e dance comigo à noite, com um ruído afastado da sua La Vie en Rose. E eu, fechando os olhos neste momento imaginado, estarei a ouvir cada palavra da música e a imaginar dançar sim, mas com a outra metade da laranja. Every day word seems to turn into love songs...
Louis Armstrong - La Vie en Rose
4 Junho 2010
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