Fujo, mas para onde? Pus-me a sonhar com uma casinha, pequena, velha e reconfortante, sem Internet e, quem sabe, com vista para o mar. Preciso dessa casinha. Imagino-me a escrever no seu interior, no lusco-fusco, no meu computador portátil. Finalmente apliquei o romantismo de escrever cartas, confissões, à tecnologia. Agora vejo cinzeiros ao lado de portáteis e canecas de chocolate quente ao lado dos escritores bloqueados ou em êxtase de criatividade. Provavelmente, ia alimentar-me de iogurtes, cereais e do chocolate quente - quanto menos loiça melhor, sou um animal de trazer pelo sofá. Sobretudo, ia alimentar-me das horas mortas, da inércia, do silêncio, do sofá e da paz absoluta e soberana. Há tantas respostas que me são vitais, agora... quem sabe trabalhasse, quem sabe conseguisse voltar a imprimir alguma qualidade aos meus trabalhos, agora que mergulhei perigosamente na mediocridade. Não, hoje não penso em morte como alívio ou solução mas, ainda assim, não resisto a perguntar-me: e se eu morresse hoje? E se eu escorregasse, nessa casinha à beira mar, devagar, inconscientemente, para essa tal paz absoluta, e se fosse como um braço a cingir-me, e se fosse como adormecer? Quem sentiria a minha falta? Quem se recordaria das minhas teimas, dos meus ideais, das minhas intolerâncias, dos meus parênteses e das minhas legendas? Teria a minha vida marcado a de alguém? Quem manteria em mente, e por quanto tempo, a fórmula exacta das minhas reacções? Quem me reconhecia nas minhas linhas e, sobretudo, quem me leria?
É isso, as aulas de História de Arte são ruído de fundo, um espectáculo de balbúrdia contida, subtil, mas gritante. Quase flutuo do meu lugar junto à janela, enquanto escrevo. Não estou aqui, não tenho estado por cá, não tenho estado em lado algum ultimamente que não na minha escrita. É isso, é lá que moro agora, a minha alma relocalizou-se e a correspondência está a custar a chegar-lhe do exterior. A minha alma suspira para que o meu corpo vá juntar-se-lhe, para que todas as minhas horas sejam silêncio, música e escrita. Geralmente, quando vivo mais, quando a vida, como onda, me toca mais, me enrola, vem desfazer-se em espuma a meus pés, escrevo mais. Antigamente, durante quatro anos, aquilo que chamei de "período fértil" durava de finais de Agosto a meados de Março. Não sei o que sucedeu este ano que só agora, a meio do Outono, acordei da minha hibernação de verão. Agora, acordei e quero escrever, escrever, escrever, todo o resto desvanece na névoa do ruído de fundo, como se o silêncio se fizesse só para mim.
hoje
Nem sempre ter ó que escrever é bom, e nem sempre não escrever é mau. Não acredito em inspiração, mas sim em necessidade de expressão do que de outra forma não se consegue. Assim sendo, talves a "hibernação" ou "mediucridade" sejam periudos em que estamos melhor comnosco, e não haja esta necessidade. Talvez os "periodos férteis" não passem de priudos de maior solidão ou de menor compreensão exterior... ou então não.
ResponderExcluir'Quem sentiria a minha falta?'
ResponderExcluirEu sentirei para o resto da minha vida.