É como mergulhar num fundão, como viajar no centro de uma tempestade ou fazer uma expedição ao centro intolerável da Terra. É como cair de um centésimo andar, a sensação de vertigem constante, o aperto, a angústia. É como se a vida continuasse, mas a preto e branco. É como se a cabeça estalasse e os pulmões abafassem o ar, se contorcessem em redor dele. É como sonhar com cobras esguias e o seu significado, e sonhei, e é impossível fugir-lhes. É como morrer, para resumir. É como se preferisse, e preferi, que me amputassem um braço para desviar a dor de um órgão feito em pedaços, destruído. É como cair, cair, cair.
Hoje sinto-me um espectro, ressuscitei mas não estou em pleno. Dói-me o buraco que ficou no lugar do músculo palpitante. Tenho medo de morrer de novo, tanto medo que ando a mover-me de mansinho. Oxalá o destino não seja assim tão mau para mim, oxalá a inversão de campos magnéticos não seja assim tão grandiosa, e o chão continue a direito. O limite terá sido ultrapassado? Deus queira, sim, Deus, que nunca ninguém me tome por mais forte do que sou, não aguento mais afogamentos. Hoje, é como digo: sou um espectro, parece que acordei de uma cirurgia e o coração ainda não bate bem. A dor é física, constante e omnipresente, dói em cada nervo do meu corpo, não sei localizá-la, isolá-la - sei apenas onde dói mais. Hoje, tudo funciona mal comigo. Almoço algo invulgar, cozinhado por mim na lentidão dos novos gestos. Escrevo em papel, sem coragem para descrever factos, pinto, oiço músicas de acordo com o meu estado de espírito, deambulo. Não quero ir demasiado longe, hoje já viajei para longe demais, abri portas que não sabia que tinha. Que cobarde sou, aqui no meu canto. Para compor o inverso, a volta de 180º que me virou do avesso, a minha irmã é que se preocupa comigo. O diálogo é algo assim:
- Hoje já estás melhor, Célia?
E eu não desvio o olhar do prato que componho com ovos mexidos e puré de batata.
- 'Tão...ontem morri, hoje é o primeiro dia da minha vida.
Hoje sinto-me um espectro, ressuscitei mas não estou em pleno. Dói-me o buraco que ficou no lugar do músculo palpitante. Tenho medo de morrer de novo, tanto medo que ando a mover-me de mansinho. Oxalá o destino não seja assim tão mau para mim, oxalá a inversão de campos magnéticos não seja assim tão grandiosa, e o chão continue a direito. O limite terá sido ultrapassado? Deus queira, sim, Deus, que nunca ninguém me tome por mais forte do que sou, não aguento mais afogamentos. Hoje, é como digo: sou um espectro, parece que acordei de uma cirurgia e o coração ainda não bate bem. A dor é física, constante e omnipresente, dói em cada nervo do meu corpo, não sei localizá-la, isolá-la - sei apenas onde dói mais. Hoje, tudo funciona mal comigo. Almoço algo invulgar, cozinhado por mim na lentidão dos novos gestos. Escrevo em papel, sem coragem para descrever factos, pinto, oiço músicas de acordo com o meu estado de espírito, deambulo. Não quero ir demasiado longe, hoje já viajei para longe demais, abri portas que não sabia que tinha. Que cobarde sou, aqui no meu canto. Para compor o inverso, a volta de 180º que me virou do avesso, a minha irmã é que se preocupa comigo. O diálogo é algo assim:
- Hoje já estás melhor, Célia?
E eu não desvio o olhar do prato que componho com ovos mexidos e puré de batata.
- 'Tão...ontem morri, hoje é o primeiro dia da minha vida.
27 Junho 2010
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