Ok. Tenho que fazer uma pausa. ODEIO, ODEIO a faculdade. ODEIO, ODEIO a tecnologia. Quatro frequências na mesma semana? É indecente, devia ser proibido. A culminar, são todos à mesma hora: 13h, o que obriga alguém que vive a 2h de distância a sair de casa às 11h e, terminados às 15h (supondo que isso acontecerá) só chega a casa às 17h para estudar para a do dia seguinte. No primeiro dia, a professora chega com mais de uma hora de atraso. Sei que nessa manhã, enquanto eu relia tudo à pressa, havia quem fizesse planos de começar a estudar já para o do dia seguinte: antes de fazer o primeiro! Isto é insano, mas é ao que obrigam. Vou para AT citar Fernando Pessoa. No segundo, logo no dia seguinte, a professora chega mais de meia hora atrasada. Enquanto erguia a sobrancelha e a fitava, apressada como sempre, recordei-me da voz destas mesmas duas professoras em aulas passadas: «o vosso curso é muito menosprezado», pudera, se até os docentes protagonizam esta infeliz coincidência.
O terceiro é amanhã, por esta altura devia ter estudado tudo. Dormi 4/5 horas nas duas noites anteriores, chego a casa com vontade de me deitar mas com peso na consciência - devias era estudar. Então, deleito-me com tardes em que olho para o ecrã poeirento da televisão desligada, em que componho músicas com programas elementares para histórias que não tenho tempo de escrever e em que passeio pelo Chiado e entro em todas as igrejas que me aparecem, ignoro todos os mendigos e fujo na hora que as «assistentes do padre» aparecem com as saquinhas a tilitar de esmolas no final da missa das seis e meia.
Em casa, começo a estudar à meia noite. Os dois anteriores foram feitos pelo mesmo método e correram-me maravilhosamente bem, não tenho receio de chumbar. Mas e o de amanhã? Aconteceu a minha maior catástrofe de tecnologia e o meu peito aperta-se, só de saber o que me espera. Da meia noite às 02h00 compilei, a ritmo de Taylor, frenéticamente, todos os pontos e subpontos da matéria que ia sair - com metade dos colegas não enviou os respectivos trabalhos para o e-mail, pesquisei simultaneamente na internet em sites de municípios ou simplesmente na wikipédia para despachar. Digitei: Elvas, Silves, Tavira, Monsaraz, Estremoz, Faro, Beja, Lagos, Évora - Templo, Catedral..., Lisboa - Alfama, Fado, Praça do Comércio, Estátua de D. José I, Igreja disto, daquilo, do outro, Castelo de Vide, Estuário do Tejo, Marvão, pesca do atum, ou lá que raio é a "tourada-do-mar", e outros, outros, outos. Tanta coisa, tantos buracos por este país fora. E eu aqui, com um peso horrível nas costas, os olhos a fecharem-se, há café cá em casa mas sei que não me mantém acordada, perdi a posição na cadeira há muito. Sim, a culpa é minha, eu sei, mas raramente os meus métodos falham. A sorte costuma estar do meu lado. É quando termino o documento (de 30 páginas só de copy paste de dados, coeso, em times new roman 11, sem espaçamento, com margens minúsculas, títulos salientes, sublinhados, itálicos), é quando descontraio e penso: agora vou deitar-me na cama a ler isto se a maldita impressora colaborar, já que amanhã não poderei fazê-lo porque não confio em mim para sair da cama mais do que três minutos antes da hora de sair de casa, e como vou de carro não poderei ler nos transportes... é quando penso que, já tendo acumulado 11 valores na disciplina, a professora declarou que um mínimo de 8 nos passa... que perco tudo. Fecho o documento e sofro um sobressalto: onde é que o pus mesmo? Procuro no ambiente de trabalho, para onde atiro tudo. Não, não está. Procuro na pasta da cadeira. Não. Abro o word e espero vê-lo nos ficheiros recentes. É então que começo a soluçar. Agarro um lenço e levo-o ao nariz, dói-me as costas quando me sacudo assim. Conto às quatro pessoas com quem falava no messenger, duas colegas e duas amigas. «Perdi tudo». «Tudo o quê?» «Perdi tudo, não estão a perceber? O raio do documento que vos ia mandar, que disse que estava a fazer». Choro, choro, choro - a meio do choro ocorre-me a pontada de satisfação por descobrir que outros acontecimentos, que não os habituais, me põem a chorar. Penso: que farei eu? Com 11 nesta cadeira, que é o meu maior pesadelo, vou a recurso? Refaço isto, mais duas horas? Daqui a duas horas serão cinco horas, estarei morta demais para ler. Como vou fixar todos os santinhos de igreja? Todos os motivos decorativos, todas as cenas de vitrais? Porquê, porquê, porquê? Conforme este tudo sobre o meu país vai-me invadindo a cabeça, por obrigação, eu vou sendo menos eu. Troco tudo, esqueço rostos, como quando uma colega de turma me abordou na rua e não a reconheci, como quando acabo de entrar numa divisão e não sei o que fui lá fazer, como quando peço ao banco um cartão novo e nunca chego a ver o código que me confiaram na hora, como quando a cabeça me dói, de manhã à noite, e eu já nem consigo pensar. Ando a tentar roubar minutos ao tempo, eu sei que peço demais, mas não devia ser demais - livrar-me da pressão por uns instantes, aos 20 anos, seria bom. E é por isso que, para além de ter evitado o estudo a tarde toda, porque dei prioridade ao que me apetecia fazer, ainda sabendo que a culpa é minha, eu não me arrependo. É por isso que estou aqui a escrever este texto, para dizer que podem tirar-me tapetes dos pés - eu corro atrás deles, o meu orgulho que se lixe. Não vou desistir, enquanto os meus olhos e as minhas costas aguentarem, enquanto o café fraco der a ilusão de forte, estarei aqui até que a maldita compilação ganhe forma de novo. E depois estarei ainda disposta a travar guerras com a impressora, com más conexões, congestionamento de papel ou
Porque eu agora vou pegar nos temas que me APETECER, nos que eu GOSTAR mais, nos que me INTERESSAM, e hão de sair esses. Ou, pelo menos, há-de sair deixas suficientes para eu chegar ao tão ambicionado oito.
Tenho que me lembrar que a minha sorte não é caída do céu, «Não é que corra tudo bem, é que geralmente acaba bem».
Pronto, entretanto a Vânia liga-me a perguntar se acabou o choro, o que vou fazer. Enquanto falava com ela, pus-me a rodar um rato num ficheiro sobre os half days e os full days da turma. E explico-lhe o que farei e, conforme falo, o rato desce, desce, desce, desce. Até fazer 30 páginas, de times new roman, sem espaçamento e com margens minúsculas. E eu rio, e rio, e rio, e não posso acreditar.
Foi então proclamado 'The Lucky File' (ps - no início da escrita o mesmo ficheiro estava dado como perdido).
Tudo acaba bem.
O terceiro é amanhã, por esta altura devia ter estudado tudo. Dormi 4/5 horas nas duas noites anteriores, chego a casa com vontade de me deitar mas com peso na consciência - devias era estudar. Então, deleito-me com tardes em que olho para o ecrã poeirento da televisão desligada, em que componho músicas com programas elementares para histórias que não tenho tempo de escrever e em que passeio pelo Chiado e entro em todas as igrejas que me aparecem, ignoro todos os mendigos e fujo na hora que as «assistentes do padre» aparecem com as saquinhas a tilitar de esmolas no final da missa das seis e meia.
Em casa, começo a estudar à meia noite. Os dois anteriores foram feitos pelo mesmo método e correram-me maravilhosamente bem, não tenho receio de chumbar. Mas e o de amanhã? Aconteceu a minha maior catástrofe de tecnologia e o meu peito aperta-se, só de saber o que me espera. Da meia noite às 02h00 compilei, a ritmo de Taylor, frenéticamente, todos os pontos e subpontos da matéria que ia sair - com metade dos colegas não enviou os respectivos trabalhos para o e-mail, pesquisei simultaneamente na internet em sites de municípios ou simplesmente na wikipédia para despachar. Digitei: Elvas, Silves, Tavira, Monsaraz, Estremoz, Faro, Beja, Lagos, Évora - Templo, Catedral..., Lisboa - Alfama, Fado, Praça do Comércio, Estátua de D. José I, Igreja disto, daquilo, do outro, Castelo de Vide, Estuário do Tejo, Marvão, pesca do atum, ou lá que raio é a "tourada-do-mar", e outros, outros, outos. Tanta coisa, tantos buracos por este país fora. E eu aqui, com um peso horrível nas costas, os olhos a fecharem-se, há café cá em casa mas sei que não me mantém acordada, perdi a posição na cadeira há muito. Sim, a culpa é minha, eu sei, mas raramente os meus métodos falham. A sorte costuma estar do meu lado. É quando termino o documento (de 30 páginas só de copy paste de dados, coeso, em times new roman 11, sem espaçamento, com margens minúsculas, títulos salientes, sublinhados, itálicos), é quando descontraio e penso: agora vou deitar-me na cama a ler isto se a maldita impressora colaborar, já que amanhã não poderei fazê-lo porque não confio em mim para sair da cama mais do que três minutos antes da hora de sair de casa, e como vou de carro não poderei ler nos transportes... é quando penso que, já tendo acumulado 11 valores na disciplina, a professora declarou que um mínimo de 8 nos passa... que perco tudo. Fecho o documento e sofro um sobressalto: onde é que o pus mesmo? Procuro no ambiente de trabalho, para onde atiro tudo. Não, não está. Procuro na pasta da cadeira. Não. Abro o word e espero vê-lo nos ficheiros recentes. É então que começo a soluçar. Agarro um lenço e levo-o ao nariz, dói-me as costas quando me sacudo assim. Conto às quatro pessoas com quem falava no messenger, duas colegas e duas amigas. «Perdi tudo». «Tudo o quê?» «Perdi tudo, não estão a perceber? O raio do documento que vos ia mandar, que disse que estava a fazer». Choro, choro, choro - a meio do choro ocorre-me a pontada de satisfação por descobrir que outros acontecimentos, que não os habituais, me põem a chorar. Penso: que farei eu? Com 11 nesta cadeira, que é o meu maior pesadelo, vou a recurso? Refaço isto, mais duas horas? Daqui a duas horas serão cinco horas, estarei morta demais para ler. Como vou fixar todos os santinhos de igreja? Todos os motivos decorativos, todas as cenas de vitrais? Porquê, porquê, porquê? Conforme este tudo sobre o meu país vai-me invadindo a cabeça, por obrigação, eu vou sendo menos eu. Troco tudo, esqueço rostos, como quando uma colega de turma me abordou na rua e não a reconheci, como quando acabo de entrar numa divisão e não sei o que fui lá fazer, como quando peço ao banco um cartão novo e nunca chego a ver o código que me confiaram na hora, como quando a cabeça me dói, de manhã à noite, e eu já nem consigo pensar. Ando a tentar roubar minutos ao tempo, eu sei que peço demais, mas não devia ser demais - livrar-me da pressão por uns instantes, aos 20 anos, seria bom. E é por isso que, para além de ter evitado o estudo a tarde toda, porque dei prioridade ao que me apetecia fazer, ainda sabendo que a culpa é minha, eu não me arrependo. É por isso que estou aqui a escrever este texto, para dizer que podem tirar-me tapetes dos pés - eu corro atrás deles, o meu orgulho que se lixe. Não vou desistir, enquanto os meus olhos e as minhas costas aguentarem, enquanto o café fraco der a ilusão de forte, estarei aqui até que a maldita compilação ganhe forma de novo. E depois estarei ainda disposta a travar guerras com a impressora, com más conexões, congestionamento de papel ou
Porque eu agora vou pegar nos temas que me APETECER, nos que eu GOSTAR mais, nos que me INTERESSAM, e hão de sair esses. Ou, pelo menos, há-de sair deixas suficientes para eu chegar ao tão ambicionado oito.
Tenho que me lembrar que a minha sorte não é caída do céu, «Não é que corra tudo bem, é que geralmente acaba bem».
Pronto, entretanto a Vânia liga-me a perguntar se acabou o choro, o que vou fazer. Enquanto falava com ela, pus-me a rodar um rato num ficheiro sobre os half days e os full days da turma. E explico-lhe o que farei e, conforme falo, o rato desce, desce, desce, desce. Até fazer 30 páginas, de times new roman, sem espaçamento e com margens minúsculas. E eu rio, e rio, e rio, e não posso acreditar.
Foi então proclamado 'The Lucky File' (ps - no início da escrita o mesmo ficheiro estava dado como perdido).
Tudo acaba bem.
16 Junho 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário