16 de nov. de 2010

Bolo de Chocolate XX

O bolo de chocolate saiu delicioso, mas partiu-se ao desenformar. Vinha queimado por baixo e tive de lascar a camada preta. Os nervos já eram tantos, que o passei para o tupperware onde vai viajar e ele partiu-e mais um pouco, estalou. Enquanto o cobria com o creme de chocolate, via-o escorrer para o interior das falhas do bolo, ao invés de o cobrir a direito. Fui com a espátula mas era tarde de mais, metade do chocolate fora absorvido pelo bolo. Fechei-o no tupperware para não ter que olhar para ele. Disse à minha avó:
- Se esta fosse a minha casa, atirava o bolo contra a parede e ia fazer outro.
Ela tenta acalmar-me:
- Mas o bolo está mal, é o que interessa.
As lascas que foram tiradas para que o bolo coubesse no tupperware foram molhadas no repicipente onde fiz o creme de chocolante, e juntámo-nos todos a comer os pedacinhos pequeninos. Deixei-me cair num banco enquanto via a minha avó limpar a mesa e ouvi o meu pai dizer, de mãos nos bolsos:
- Já que eu é que tenho culpa de tudo nesta casa, diz que fui eu que o deixei queimar e o parti ao por para o tupperware. Diz que tiveste de sair e o deixaste entregue a nós.
Eu respondo:
- Quem o queimou foi o forno e quem o partiu fui eu. Espero nunca ter que me safar pondo as culpas nos outros.
E a minha avó acrescenta:
- Diz que fui eu então, vá. Fui eu que não o vigiei, e fui eu que o parti, forcei-o a entrar no tupperware.
Quando dou por mim, o bolo já não me parece tão mal, nem tão torto. Trouxe-me alguma luz interior, aquele bolo juntou-nos aos três na cozinha, num acontecimento memorável em que eu, derrotada, fui levantada por duas pessoas improváveis. Dei por mim a sorrir levemente.

Talvez este bolo que quase estraguei seja o melhor que já fiz.

(foto by celia)
24 Setembro 2010

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