23 de nov. de 2010

quem preferiria ficar fechado na gaiola a ver os outros pássaros voar?

o amor, como avalanche, como inundação, como sismo ou maremoto ou tufão... invade tudo, apropria-se de tudo, não tem limites, os contornos do silêncio são ténues, perde-se em voz, anseia por comunicar, por fazer-se saber. haveria amor tão belo assim, no silêncio, ou talvez na ignorância? haverá amor assim? solitário, perspicaz, observador, contido? não, tal coisa não existe. porque é que, em tanto tempo, ainda não aprendi? tal coisa não existe, repito. eu sei, tu sabes, sabemos todos. mas é o facto de saber que dava a minha vida por quem amo que me tolda o raciocínio, não posso querer que seja melhor do ninguém, que ame melhor do que os outros, por isso, não posso ser a única a dar a minha vida, como se fosse a minha vez numa fila de espera, por quem amo. não posso ser a única que mataria por quem amo. que caminharia, de pés descalços, no deserto, por quem amo. que mergulhava nas águas do ártico para trazer ao de cima quem amo, não posso ser a única, nem quero. o amor, como força incontrolável, derruba tudo, agora dizem-me que se pode controlar o amor? será possível? mas isso não seria um estádio de controlo do mais avançado que há, alguém conter-se ao ponto de não estender a mão para quem ama, de não lhe acariciar o rosto, não lhe tomar a mão, não o beijar, não... tudo o resto? e o que fica do amor jovial, do amor entusiasmado, do amor temerário e inconsequente neste quadro racional do amor? seria uma relação eterna, sem os altos e baixos dos impulsos? existirá alguém assim tão racional? e, existindo, este será o tipo de amor mais estranho que já vi ou... simplesmente... o mais admirável?

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