16 de nov. de 2010

coisas

O que é que se passa comigo? Não consigo viver sem coisas. Vejo perfeitamente a minha cara quando entrei na cozinha e vi um a aquecer cereais na "minha" tigela com vacas, cerro as sobrancelhas e comprimo os lábios. Mas foi pior ainda, pelo menos para mim: o outro aquecia leite na "minha" caneca com uma ovelha adorável. Olho de uma para a outra, como quem pensa "não posso salvar as duas", e salvo, claro, a ovelha. Viro-me e digo-lhe, seriamente: "não me partas essa caneca, por favor, corri muito para a arranjar". Depois penso: "com tantas canecas na merda do armário..." e digo umas quantas asneiras para mim mesma, eu oiço-me e não me condeno. Depois, como é tão típico de mim, de um eu que eu já nem sequer controlo, imagino-a a cair. Imagino a minha frustração, imagino-a partida, imagino-me vermelha de raiva, imagino o sobressalto do meu peito, imagino-me a querer gritar, a saber que seria demais. Imagino-me a saber o que sei: mesmo que tudo isso se passasse dentro de mim, mesmo que, sobre a caneca em cacos houvesse apenas um comentário sarcástico meu, por dentro estaria assim, a chorar e a gritar. Porque ninguém compreenderia o quanto amo aquela caneca. Sim, eu agora amo coisas.

«Porque em todos há um espaço que por medo não se deu», Toranja - O Lugar

5 Fevereiro 2010

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