É uma espécie de vertigem que vem quando não estou à espera e que me distrai de todo o resto. Vem sempre em momentos inesperados: quando acabei de comprar um livro, quando receio o envelhecimento, quando recebo a nota de um exame, quando vejo algo indescritivelmente belo ou injusto, quando mudo um pouco do mundo à minha volta ou quando ele me muda a mim. Depois, vem o sorriso, aquele que não posso controlar. Imagino que os meus olhos falem, nessa altura. Se não falam, sinto-me tão transparente que tendo a explicar o que me passou pela cabeça. Em geral, não é preciso. É uma espécie de conforto que me envolve e me incita a continuar, uma felicidade indisfarçável - o conforto de saber que existes. Longe ou perto, existes. Uma espécie de poema, de canção, que só eu entendo e só eu oiço. Uma espécie de fotografia que só eu trago em mente, como desktop quando os meus pensamentos se desviam de linhas lógicas, práticas, e que te traz a ti para o consciente. Por muito que tente, nunca hás-de te encaixar em nada, pois não? Não tens nada que ver com nada. É como uma espécie de alegria infantil e infundada, quando me ocorre. Não importa que nunca se concretize, que nunca cheguemos lá, que nunca ganhe forma alguma - ainda assim, alívio, alegria, conforto. É como comecei: uma vertigem que me deixa inebriada, ligeiramente tola, desatenta, surda, introspectiva. Como uma espécie de sopro que às vezes me atinge... a simples lembrança da tua existência.
A'10.
(desenho by célia)
13 Abril 2010
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