Há uma coisa que se repete frequentemente quando se lê ou se cria uma história de amor. Uma vez mais, continuo apta a falar disso porque parece que os afectos me deram paz por dois dias. O amor, tido frequentemente como sinónimo de felicidade é, simultaneamente, um contrato. A pessoa que ama, anexada a outra, perde parte da sua individualidade a favor que se se torna como segundo elemento de um par. Felizmente, estou rodeada de pessoas tão ou mais sábias do que eu que me apontam caminhos que, mesmo depois de muito vasculhar, não pressenti – eu, a rapariga dos sextos sentidos e das intuições e dos palpites e das suposições. Enfim, nem eu vejo todas as causas e soluções. Mas há quem veja por mim, daí que hoje se tenham aberto janelas em relação a coisas sobre as quais nunca ponderara. Ocorre-me que, havendo verdade nisto, não tenha mais motivos para ser feliz do que tive, há quatro anos atrás, quando a história se antecipou noutros preâmbulos.
Quando um casal de junta, seja num filme, num livro, até frequentemente através de canções, há sempre objecções, assim como há uma forte objecção a estas objecções que julgo ver. Há sempre os amigos dele a dizerem: tiveste aquela, tão melhor, e agora queres isto? Há sempre os amigos que, provavelmente, não a conhecem tão bem mas têm imensos palpites a dar. Há a família, e há o medo de o que temos a apresentar não ser suficientemente bom para impressionar, para dizer: saí-me tão bem quanto vocês, se não melhor ainda. Para isto se concretizar, a candidata em questão deve ter, e não se iludam, ainda hoje em dia se o assunto for sério, pelo menos bons estudos e uma boa família, de preferência com boas posses. Isto é mais verdadeiro quanto mais velho e mais ambicioso for o homem: atenção, às vezes ele pode não saber que o é, mas é-o. Prefere dar continuidade a um meio de produzir riqueza facilitado pela bagagem igualmente abastada dela a largar tudo por uma mulher que, por muito que lhe agrade, pouco tem para oferecer que não o seu amor. E isto soa a piada, os sacrifícios hoje em dia são, quanto muito, em nome de pão, profissão ou educação. Amor não rima, não vale a pena salientá-lo. Já o fiz. Estas opiniões vão-no obrigando a adiar uma decisão que, se ele não tem forças para tomar, é porque não é tão bom quanto isso. Tenho tendência a estar mais familiarizada com o outro lado, com o lado de quem espera, de quem tem pouco mais do que amor para oferecer, e isto faz-me feliz de um modo impossível de descrever. Ao menos eu sei que sei amar, ao menos eu sei que a vida vedou-me esses interesses, vedou-me esses critérios na escolha de alguém, porque simplesmente, quem é pobre tem o mundo aos pés, ninguém é demasiado mau para si, ninguém disserta sobre isso, tudo o que possa vir será motivo de orgulho e, mais, quanto “melhor” aos olhos da sociedade for a pessoa que abdicar de algo em nome dos dois, melhor será também como pessoa, é a prova que tem a vista no que é «invisível aos olhos», vê com o coração. Para além destas opiniões exteriores existem, claro, os próprios receios do desgraçado. Receios esses que, a meu ver, se prendem somente com cobardia. Serão medo de ser magoado? Medo de magoar? Medo que termine mal? Estará a lidar com vidro, com crianças, com fogo?
O outro lado talvez seja demasiado ingénuo para compreender mas, ainda assim, não deixa de ver. Se for orgulhoso, há-de sentir-se humilhado repetidamente. Quanto melhor ler o outro, mais humilhado será. Quanto mais o vir apegado às coisas, melhor vai compreender porque foi trocado. Geralmente, pelo futuro. Diz-se. Ora bem, os romances em que todos estão de acordo no início, em que familiares riem, em que amigos dão palmadas nos ombros, terminam mal – acreditem em mim, já li centenas, já vi centenas, já ouvi falar de outras centenas, acabam quase sempre deste modo «Parecia tão bom rapazinho/tão boa rapariga, a família dela/dele gostava tanto dele/dela… ficaram todos muito tristes», o que me leva a questionar quem estava na relação com quem num caso destes. O par é um troféu que se leva para casa, ou um companheiro escolhido pelo próprio, para o próprio, para a vida? Tenha os defeitos que tenha, desde que o resto compense? Os romances que começam mal, com críticas, têm finais triunfantes. Têm familiares e parentes a engolir sapos, têm amigos a admitir estar errados a início e, mesmo que isto nunca aconteça, é coisa de dois, nunca do mundo.
Sabes que nunca te perdoei a cobardia, agora ainda menos. Imagino que ela tenha tudo o que eu nunca tive . Mas quase, quase sei, que ela não é nada do que eu sou . Espero que sejas feliz com a aprovação da tua família e dos teus amigos. Tinha ensaiado chamar-te poço de egoísmo (só porque na altura fizeste uma escolha baseada nas prioridades erradas, o que só te deu a conhecer melhor), mas isto nem sequer é sobre ti. E, visto que somando as partes eras o plano B, o poço de egoísmo seria eu. Retiro-o.
Quando um casal de junta, seja num filme, num livro, até frequentemente através de canções, há sempre objecções, assim como há uma forte objecção a estas objecções que julgo ver. Há sempre os amigos dele a dizerem: tiveste aquela, tão melhor, e agora queres isto? Há sempre os amigos que, provavelmente, não a conhecem tão bem mas têm imensos palpites a dar. Há a família, e há o medo de o que temos a apresentar não ser suficientemente bom para impressionar, para dizer: saí-me tão bem quanto vocês, se não melhor ainda. Para isto se concretizar, a candidata em questão deve ter, e não se iludam, ainda hoje em dia se o assunto for sério, pelo menos bons estudos e uma boa família, de preferência com boas posses. Isto é mais verdadeiro quanto mais velho e mais ambicioso for o homem: atenção, às vezes ele pode não saber que o é, mas é-o. Prefere dar continuidade a um meio de produzir riqueza facilitado pela bagagem igualmente abastada dela a largar tudo por uma mulher que, por muito que lhe agrade, pouco tem para oferecer que não o seu amor. E isto soa a piada, os sacrifícios hoje em dia são, quanto muito, em nome de pão, profissão ou educação. Amor não rima, não vale a pena salientá-lo. Já o fiz. Estas opiniões vão-no obrigando a adiar uma decisão que, se ele não tem forças para tomar, é porque não é tão bom quanto isso. Tenho tendência a estar mais familiarizada com o outro lado, com o lado de quem espera, de quem tem pouco mais do que amor para oferecer, e isto faz-me feliz de um modo impossível de descrever. Ao menos eu sei que sei amar, ao menos eu sei que a vida vedou-me esses interesses, vedou-me esses critérios na escolha de alguém, porque simplesmente, quem é pobre tem o mundo aos pés, ninguém é demasiado mau para si, ninguém disserta sobre isso, tudo o que possa vir será motivo de orgulho e, mais, quanto “melhor” aos olhos da sociedade for a pessoa que abdicar de algo em nome dos dois, melhor será também como pessoa, é a prova que tem a vista no que é «invisível aos olhos», vê com o coração. Para além destas opiniões exteriores existem, claro, os próprios receios do desgraçado. Receios esses que, a meu ver, se prendem somente com cobardia. Serão medo de ser magoado? Medo de magoar? Medo que termine mal? Estará a lidar com vidro, com crianças, com fogo?
O outro lado talvez seja demasiado ingénuo para compreender mas, ainda assim, não deixa de ver. Se for orgulhoso, há-de sentir-se humilhado repetidamente. Quanto melhor ler o outro, mais humilhado será. Quanto mais o vir apegado às coisas, melhor vai compreender porque foi trocado. Geralmente, pelo futuro. Diz-se. Ora bem, os romances em que todos estão de acordo no início, em que familiares riem, em que amigos dão palmadas nos ombros, terminam mal – acreditem em mim, já li centenas, já vi centenas, já ouvi falar de outras centenas, acabam quase sempre deste modo «Parecia tão bom rapazinho/tão boa rapariga, a família dela/dele gostava tanto dele/dela… ficaram todos muito tristes», o que me leva a questionar quem estava na relação com quem num caso destes. O par é um troféu que se leva para casa, ou um companheiro escolhido pelo próprio, para o próprio, para a vida? Tenha os defeitos que tenha, desde que o resto compense? Os romances que começam mal, com críticas, têm finais triunfantes. Têm familiares e parentes a engolir sapos, têm amigos a admitir estar errados a início e, mesmo que isto nunca aconteça, é coisa de dois, nunca do mundo.
Sabes que nunca te perdoei a cobardia, agora ainda menos. Imagino que ela tenha tudo o que eu nunca tive . Mas quase, quase sei, que ela não é nada do que eu sou . Espero que sejas feliz com a aprovação da tua família e dos teus amigos. Tinha ensaiado chamar-te poço de egoísmo (só porque na altura fizeste uma escolha baseada nas prioridades erradas, o que só te deu a conhecer melhor), mas isto nem sequer é sobre ti. E, visto que somando as partes eras o plano B, o poço de egoísmo seria eu. Retiro-o.
27 Abril 2010
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