hei-de sempre dar à costa
hei-de esperar-te aqui,
até que o dia se ponha
e o céu se encha de constelações.
E não penses que o sol me leva,
quando o dia nascer
vou estar sentada na areia
se for preciso, a vida inteira
até tu chegares.
Toco a areia húmida,
sinto-a fugir-me,
não fujas tu, ó felicidade
não fujas, tens tanto meu
tens a minha liberdade,
roubaste todo o meu eu.
Corrijo: dei-to,
estendo-me a fitar as nuvens,
a imaginar o horizonte de onde virás,
a querer que a tua fronte
venha pousar sobre a minha.
Virás beijar os meus dedos,
ó esperança?
Virás provar o meu sal?
Leva-me no colo,
não te deixo mal.
Prova a minha respiração,
prova a minha pele,
não procures em mim perfeição,
não procures em mim mel,
morreram com a velhice.
O tempo é implacável,
demoraste a vir
como vês estou aqui,
descalça, muda
toma-me e enterra-me,
foi-se-me a vida,
foi-se em sopros,
ó espera.
Ana Silva, Imperfeito
(desenho by celia)
21 Abril 2010
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