16 de nov. de 2010

imperfeita

Como espuma do mar, meu amor,
hei-de sempre dar à costa
hei-de esperar-te aqui,
até que o dia se ponha
e o céu se encha de constelações.

E não penses que o sol me leva,
quando o dia nascer
vou estar sentada na areia
se for preciso, a vida inteira
até tu chegares.

Toco a areia húmida,
sinto-a fugir-me,
não fujas tu, ó felicidade
não fujas, tens tanto meu
tens a minha liberdade,
roubaste todo o meu eu.

Corrijo: dei-to,
estendo-me a fitar as nuvens,
a imaginar o horizonte de onde virás,
a querer que a tua fronte
venha pousar sobre a minha.

Virás beijar os meus dedos,
ó esperança?
Virás provar o meu sal?
Leva-me no colo,
não te deixo mal.

Prova a minha respiração,
prova a minha pele,
não procures em mim perfeição,
não procures em mim mel,
morreram com a velhice.

O tempo é implacável,
demoraste a vir
como vês estou aqui,
descalça, muda
toma-me e enterra-me,
foi-se-me a vida,
foi-se em sopros,
ó espera.

Ana Silva, Imperfeito

 (desenho by celia)
21 Abril 2010

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