Quero fugir a esta realidade de tigelas sujas ao final da noite e lenços amachucados ao meu redor e em redor do computador, que é onde me mantenho o dia inteiro. Quero fugir a garrafas de água na mesa de cabeceira e livros empilhados. Quero fugir à melancolia das ruas, que só ganham vida à noite. Quero fugir aos momentos que me parecem perfeitos mas que mais ninguém vê como tal. Quero perder o hábito de ir tantas vezes ao macDonald's. Quero deixar de imaginar instantes que nunca vão ter lugar. Quero descobrir um canto nesta cidade que toque Michael Buble, Nat King Cole, Louis Armstrong, Frank Sinatra. Quero voltar a ouvir a 'I've got you under my skin' do Sinatra deitada numa mesa de bilhar, quer voltar a mover-me ao ritmo de todos os recantos que lhe conheço. Quero ser feliz dessa maneira barulhenta, dessa forma inexplicável, dessa forma que suscita risos, incompreensão e que me rotula de louca. Não acredito que a estrada para a felicidade seja única, nem tão pouco que alguém seja o detendor da única direcção. Acima de tudo, quero ser feliz. E a minha felicidade sempre foi a remar contra a maré. Sempre foi a dançar à chuva, a andar descalça em casa e na rua, sempre foi a abrir as asas e a voar. E as pessoas que mais amei, até hoje, são as que conseguem sorrir-me mesmo nesses momentos e em cujo olhar não há receios, pelos receios que eu vou quebrando nessas alturas, mas sim uma mensagem clara de "boa sorte no teu voo", e, quem sabe até, alguma admiração. Porque até ser louco é uma opção, e eu não poderia nunca, por muito que queira, fugir à realidade de chá já frio na caneca a meu lado, à realidade das migalhas no meu colo, à realidade dos papeizinhos de bombons espalhados ao meu redor e à felicidade constante, momentânea, de que esses momentos me alimentam. Quero estender-me numa mesa de bilhar e dançar...
«Just the thought of you makes me stop just before I begin... because I've got you under my skin».
25 Janeiro 2010
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