quero dizer alguma coisa, porque escrever é o meu vício. é tanto vício que acabo por escrever o que não quero dizer e a admitir coisas que não quero pensar. paciência, penso, na hora fez sentido e o meu vício tornou-o real. quando não sei que música escolher, o computador escolhe por mim e, acidentalmente, começa a passar a wish you were here, pink floyd. ai, estas músicas que me recordam outros tempos. que me recordam a efemeridade em mim e a continuidade da nossa amizade. a vida escolhe por mim e, enquanto verifico no google se estou a escrever bem "efemeridade", aparece-me um texto qualquer brasileiro que me comove, duma rapariga qualquer doutro lado do mundo a dizer que, no dicionário, "efemeridade" surge como - tempo que vai do nascimento à morte; existência. e eu, que já sabia, penso: é verdade, é verdade. e depois afundo-me e venho ao de cima: eu, primeira pessoa do singular, que tinha mundos nas mãos e passava os dias a pensar em amor, censuro-me e vedo-me assuntos. proibo-me temas. fecho-me portas. não, não, não, digo. vive e não esperes. não leias mais romances lamechas ou lê-os todos, são deliciosamente patéticos. eu penso: tenho uma irmã chamada cláudia - c-l-á-u-d-i-a, e outra chamada a-n-a, que simples, e mais outros dois cujos nomes adoro. e eu, de repente, gosto de gelado de chocolate. de repente até tenho quase vinte anos. de repente, passei meses sem ler um romance lamechas e, subitamente, a vida escolheu que devia de ler um. de repente, a vanessa fica irresponsável e eu tomo responsabilidades por ela - acalmo-a, compreendo-a, aconselho-a a mais irresponsabilidades daquelas que nos fazem felizes: ó garota, pula, voa, cai, mas vive, digo-lhe. e ela segue, e é certo que esfola os joelhos e rimos as duas. mas vanessa, devia ter acrescentado, estou certa que o meu olhar acrescentou; vai acabar mal. eu sou bruxa, infelizmente, e sei que vai acabar mal. sou bruxa em tantos outros sentidos. e esta profissão que escolhi e que promete levar-me a todo o lado e a conhecer toda a gente? que ilusão. quem eu quero conhecer está num barco à deriva no mar e não sabe ou não quer escrever, não quer mandar mensagens. quem eu gostava de esquecer está-me gravado a sangue no corpo, são m, p, i, a, f, que gostava de riscar e não posso, seria imoral e antinatural. o que digo, já nem eu sei. de repente as palavras parecem-me tentadoras e quero usá-las. só agora, às 3h24 da manhã, fazem sentido. devia escrever um poema como a tal sylvia plath que às 4h da manhã era muito mais produtiva. também eu sou. leio e releio as páginas que escrevi. 500 aqui, 300 ali, tantas outras inacabadas e eu penso: será que algum dia as palavras me levarão a algum lado? talvez o silêncio leve, porque o silêncio é tudo aquilo que não experimentei. talvez seja a solução.
entretanto, a vida que escolheram por mim grita-me aos ouvidos: 'sua estúpida, deita-te, amanhã tens uma frequência a uma cadeira à qual nunca assististe às aulas e que, apesar de ser com consulta, não possuis uma única folha que te possa auxiliar'. e apetece-me reclinar a cabeça para trás na cadeira e rir alto, rir tão alto, se não fosse tão tarde e não me chamassem louca, e dizer:
'vai-te foder, a minha vida escolho-a eu, e só a ela deixo escolher por mim. ainda hei de ler páginas de um jornal qualquer gratuito antes de me ir deitar. ainda hei de fazer zapping nos canais todos da televisão, ainda hei de ficar a olhar para o tecto e ainda hei de abrir o meu diário e escrever lá uma choraminguice qualquer. ainda hei de ser eu antes de acatar a tua ordem e me ir deitar. ouviste? ainda hei de ser eu antes de me ir deitar'.
27 Novembro 2009
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